Às vésperas das eleições presidenciais, que serão realizadas em outubro deste ano, o sistema de saúde do Uruguai se vê no foco da opinião pública do país. O motivo não é a discussão pela melhoria ou ampliação dos serviços, mas uma denúncia de corrupção que teria desviado, segundo a investigação policial, cerca de US$ 100 mil, resultando na prisão do sindicalista Alfredo Silva. O prejuízo pode ser ainda maior, já que diversas denúncias estão sendo realizadas sobre o sistema nos últimos dias.
Silva era um dos diretores do Asse (Serviço de Saúde do Estado) e representava os trabalhadores na administração da saúde pública, como previsto pela legislação uruguaia. Políticos de oposição colocam as irregularidades investigadas pela Justiça na conta da FA (Frente Ampla), partido de esquerda ao qual pertencem o mandatário José Pepe Mujica e o ex-presidente Tabaré Vázquez , favorito nas pesquisas divulgadas no país.
[O Hospital Maciel, localizado em uma região carente, é o mais velho de Montevidéo e trata doenças graves| Wikicommons]
Para o senador do MPP (Movimento de Participação Popular) Ernesto Agazzi a “atuação inadequada” de Silva não é de responsabilidade do Poder Executivo, nem da FA, “mas dos trabalhadores que o elegeram para ocupar o cargo”. Para o senador, a FA é responsável por “facilitar a participação dos atores sociais no Estado”, como afirmou ao jornal La República.
A oposição questiona essa participação e sustenta que, em caso de vitória no pleito de outubro, pretende diminuir a participação sindical nas instituições públicas, limitando-a ao direito de voz e não mais de voto. Eles acusam ainda a FA de manter a aliança com os setores sindicais e pedem a destituição da ministra da Saúde, Susana Muñiz — o que foi negado pelo governo.
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Legisladores do Partido Nacional, também de oposição, criticaram a FA por rechaçar a criação de comissões investigativas, desde 2011, valendo-se da maioria parlamentar que possui. Vázquez, por sua vez, argumentou que quem deve investigar o caso é a Justiça, conforme já está fazendo.
Ele também afirmou que “em qualquer governo pode haver corrupção. Em um governo da FA podemos nos equivocar” e reconheceu que “nenhuma força política está vacinada contra a corrupção, porque não existe essa vacina”. Vázquez ressaltou ainda que “sigo defendendo que os trabalhadores têm que estar representados nos organismos públicos”.
Acusações
Silva e outras nove pessoas são acusados de utilizar a influência de seus cargos para terceirizar serviços para uma empresa que controlavam com custos extras para os hospitais. Eles também aproveitavam a condição de sindicalistas para supostamente manipular disputas trabalhistas.
No centro do caso está o Hospital Maciel de Montevideo, alvo de uma investigação judicial sobre gastos excessivos na limpeza, pagamento de propinas em hospitais públicos e outras irregularidades. A associação civil Buena Estrella, criada em 2010, é suspeita de ter superfaturado 24.874 horas de limpeza. Ela empregava funcionários da empresa Clanider, também acusada de superfaturar os serviços.
Há ainda denúncias de que ambulâncias novas compradas pela Asse eram entregues com bancos velhos para reduzir o preço e assim aumentar o lucro das empresas fornecedoras.