Como medida para tentar resolver o problema de desabastecimento, a administração de Nicolás Maduro centra esforços no combate ao contrabando para a Colômbia, país para o qual estima que sejam desviados cerca de 40% dos produtos que circulam na Venezuela. A fronteira entre os dois países tem sido fechada durante as noites e, segundo autoridades, mais de três mil toneladas de alimentos já foram confiscadas em diversos estados.
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Agência Efe
Além disso, detectores de impressão digital para identificar contrabandistas de produtos prioritários devem ser instalados em comércios até novembro. A medida é rechaçada pela oposição e por setores empresariais, mas Maduro acredita na efetividade da medida. “Esse sistema vai ser como uma bendição contra fraudes, assim como o sistema eleitoral. A distribuição e a comercialização serão perfeitas. Tenho certeza”, disse, no mês passado.
Desde o ano passado, o governo de Maduro tenta lidar com o desabastecimento por meio de acordos com países vizinhos e reuniões com o setor privado. Ao longo de sua gestão foram anunciadas, por exemplo, medidas para a reativação do aparato produtivo, tais como o fim do imposto de renda para o setor primário, financiamento a produtores e empresas agroindustriais, além de diagnóstico a empresas para analisar problemas na produção.
Uso de divisas
O problema, afirma Caracas, não é só o contrabando. Em julho, o presidente venezuelano disse em seu programa de rádio que seria realizada uma auditoria do uso de cada dólar vendido pelo Estado no primeiro semestre. Segundo ele, mais de três mil empresas não poderão aceder ao sistema de administração de divisas por estarem sendo investigadas por suposto “mau uso” de divisas.
O Ministério Público do país, por sua vez, publicou listas com os nomes de cerca de uma centena de empresas investigadas. No ano passado, uma ex-presidente do Banco Central do país estimou que, em 2012, entre 15 e 20 bilhões de dólares vendidos pelo Estado responderam a uma demanda artificial ou não foram destinados à produção.
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Em março, após a ruptura de relações entre a Venezuela e o Panamá, o pagamento pendente a empresários panamenhos da Zona Livre de Colón, estimado em 1,47 bilhão de dólares, ficou sob a lupa. Enquanto o ex-chanceler Elías Jaua afirmava que cerca de 90% da cifra correspondiam a fraude, o então ministro de Economia e Finanças panamenho, Frank de Lima, disse que a dívida tinha sido inflada para que venezuelanos tirassem divisas do país.
Para o economista Manuel Sutherland, do Centro de Pesquisa e Formação Obreira, a escassez não deriva da falta de dólares provenientes do Estado, mas sim de uma demanda excessiva e fraudes no processo. “Como o dólar é muito econômico, há empresários que utilizam a moeda para suas economias no exterior ou revendem no mercado paralelo. É mais lucrativo vender um dólar do que um litro de leite a preço controlado, então não efetuam a importação”, explica.