Na terceira e última parte da entrevista feita pelo jornalista francês Salim Lamrani com a blogueira Yoani Sánchez, a entrevistada fala de sua relação com o presidente Barack Obama, que recentemente respondeu – por “sorte” – a perguntas da cubana, da insistência de Washington em manter o embargo econômico contra Cuba e do sucesso de seu blog, Generación Y. “ Meu blog
tem 10 milhões de visitas por mês. É um furacão”, disse.
Leia mais:
Primeira parte: Em entrevista, blogueira Yoani Sánchez não explica suas contradições
Segunda Parte: Yoani Sánchez tenta explicar porque deixou a Suíça para voltar para Cuba
Então a
senhora se opõe às sanções econômicas.
Absolutamente, e
digo isso em todas as entrevistas. Há algumas semanas, enviei uma
carta ao Senado dos EUA pedindo que os cidadãos
norte-americanos tivessem permissão para viajar a Cuba. É uma
atrocidade impedir que os cidadãos norte-americanos viajem a Cuba,
do mesmo modo que o governo cubano me impede de sair de meu país.
O que acha
das esperanças suscitadas pela eleição de Obama, que prometeu uma
mudança na política para Cuba, mas decepcionou muita gente?
Ele chegou ao
poder sem o apoio do lobby fundamentalista de Miami, que defendeu o
outro candidato. De minha parte, já me pronunciei contra as sanções.
Este lobby
fundamentalista é contra a suspensão das sanções econômicas.
O senhor pode
discutir com eles e lhes expor meus argumentos, mas eu não diria que
são inimigos da pátria. Não penso assim.
Uma parte
deles participou da invasão de seu próprio país em 1961, sob as
ordens da CIA. Vários estão envolvidos em atos de terrorismo contra
Cuba.
Os cubanos no
exílio têm o direito de pensar e decidir. Sou a favor de que eles
tenham direito ao voto. Aqui, estigmatizou-se muito o exílio cubano.
Leia também:
Cuba prefere desaparecer a aceitar chantagem de EUA e Europa, diz Rául Castro
Fidel reage a críticas de Obama sobre liberdade de expressão e o chama de “crente fanático”
O exílio
“histórico” ou os que emigraram depois, por razões
econômicas?
Na verdade,
oponho-me a todos os extremos. Mas essas pessoas que defendem as
sanções econômicas não são anticubanas. Considere que elas
defendem Cuba segundo seus próprios critérios.
Talvez,
mas as sanções econômicas afetam os setores mais vulneráveis da
população cubana, e não os dirigentes. Por isso é difícil ser a
favor das sanções e, ao mesmo tempo, querer defender o bem-estar
dos cubanos.
É a opinião
deles. É assim.
Eles não
são ingênuos. Sabem que os cubanos sofrem com as sanções.
São simplesmente
diferentes. Acreditam que poderão mudar o regime impondo sanções.
Em todo caso, creio que o bloqueio tem sido o argumento perfeito para
o governo cubano manter a intolerância, o controle e a repressão
interna.
As sanções
econômicas têm efeitos. Ou a senhora acha que são apenas uma
desculpa para Havana?
São uma desculpa
que leva à repressão.
Afetam o
país de um ponto de vista econômico, para a senhora? Ou é apenas
um efeito marginal?
O verdadeiro
problema é a falta de produtividade em Cuba. Se amanhã suspendessem
as sanções, duvido muito que víssemos os efeitos.
Neste
caso, por que os EUA não suspendem as sanções, tirando
assim a desculpa do governo? Assim perceberíamos que as dificuldades
econômicas devem-se apenas às políticas internas. Se Washington
insiste tanto nas sanções apesar de seu caráter anacrônico,
apesar da oposição da imensa maioria da comunidade internacional,
187 países em 2009, apesar da oposição de uma maioria da opinião
pública dos EUA, apesar da oposição do mundo dos
negócios, deve ser por algum motivo, não?
Simplesmente
porque Obama não é o ditador dos EUA e não pode
eliminar as sanções.
SL – Ele não
pode eliminá-las totalmente porque não há um acordo no Congresso,
mas pode aliviá-las consideravelmente, o que não fez até agora, já
que, salvo a eliminação das sanções impostas por Bush em 2004,
quase nada mudou.
Não, não é
verdade, pois ele também permitiu que as empresas de
telecomunicações norte-americanas fizessem transações com Cuba.
A senhora
terá de admitir que é bem pouco quando se sabe que Obama prometeu
um novo enfoque para Cuba. Voltemos a seu caso pessoal. Como explica
esta avalanche de prêmios, assim como seu sucesso internacional?
Não tenho muito a
dizer, a não ser expressar minha gratidão. Todo prêmio implica uma
dose de subjetividade por parte do jurado. Todo prêmio é
discutível. Por exemplo, muitos escritores latino-americanos
mereciam o Prêmio Nobel de Literatura mais que Gabriel García
Márquez.
A senhora
afirma isso porque acredita que ele não tem tanto talento ou por sua
posição favorável à Revolução cubana? A senhora não nega seu
talento de escritor, ou nega?
É minha opinião,
mas não direi que ele obteve o prêmio por esse motivo nem vou
acusá-lo de ser um agente do governo sueco.
Ele obteve
o prêmio por sua obra literária, enquanto a senhora foi
recompensada por suas posições políticas contra o governo. É a
impressão que temos.
Falemos do prêmio
Ortega y Gasset, do jornal El País, que suscita mais
polêmica. Venci na categoria “Internet”. Alguns dizem que
outros jornalistas não conseguiram, mas sou uma blogueira e sou
pioneira neste campo. Considero-me uma personagem da internet. O júri
do prêmio Ortega y Gasset é formado por personalidades extremamente
prestigiadas e eu não diria que elas se prestaram a uma conspiração
contra Cuba.
Leia também:
Cuba é uma ditadura?
Max Altman: Cuba, direitos humanos e hipocrisia
Cuba, Israel e a dupla moral, por Breno Altman
A senhora
não pode negar que o jornal espanhol El País tem uma linha editorial totalmente hostil a Cuba. E alguns acham que
o prêmio, de 15 mil euros foi uma forma de recompensar seus
escritos contra o governo.
As pessoas pensam
o que querem. Acredito que meu trabalho foi recompensado. Meu blog
tem 10 milhões de visitas por mês. É um furacão.
Como a
senhora faz para pagar os gastos com a administração de semelhante
tráfego?
Um amigo na
Alemanha se encarregava disso, pois o site estava hospedado na
Alemanha. Há mais de um ano está hospedado na Espanha, e consegui
18 meses gratuitos graças ao prêmio The Bob's.
E a
tradução para 18 línguas?
São amigos e
admiradores que o fazem voluntária e gratuitamente.
Muitas
pessoas acham difícil acreditar nisso, pois nenhum outro site do
mundo, nem mesmo os das mais importantes instituições
internacionais, como as Nações Unidas, o Banco Mundial, o Fundo
Monetário Internacional, a OCDE, a União Europeia, dispõe de
tantas versões de idioma. Nem o site do Departamento de Estado dos
EUA, nem o da CIA contam com semelhante variedade.
Digo-lhe a
verdade.
O
presidente Obama inclusive respondeu a uma entrevista que a senhora
fez. Como explica isso?
Em primeiro lugar,
quero dizer que não eram perguntas complacentes.
Tampouco
podemos afirmar que a senhora foi crítica, já que não pediu que
ele suspendesse as sanções econômicas, sobre as quais a senhora
diz que “são usadas como justificativa tanto para o descalabro
produtivo quanto para reprimir os que pensam diferente”. É
exatamente o que diz Washington sobre o tema. O momento de maior
atrevimento foi quando a senhora perguntou se ele pensava em invadir
Cuba. Como a senhora explica que o presidente Obama tenha dedicado
tempo a lhe responder apesar de sua agenda extremamente carregada,
com uma crise econômica sem precedentes, a reforma do sistema de
saúde, o Iraque, o Afeganistão, as bases militares na Colômbia, o
golpe de Estado em Honduras e centenas de pedidos de entrevista dos
mais importantes meios do mundo à espera?
Tenho sorte. Quero
lhe dizer que também enviei perguntas ao presidente Raúl Castro e
ele não me respondeu. Não perco a esperança. Além disso, ele
agora tem a vantagem de contar com as respostas de Obama.
Como a
senhora chegou até Obama?
Transmiti as
perguntas a várias pessoas que vinham me visitar e poderiam ter um
contato com ele.
Em sua
opinião, Obama respondeu porque a senhora é uma blogueira cubana ou
porque se opõe ao governo?
Não creio. Obama
respondeu porque fala com os cidadãos.
Ele recebe
milhões de solicitações a cada dia. Por que lhe respondeu, se a
senhora é uma simples blogueira?
Obama é próximo
de minha geração, de meu modo de pensar.
Mas por
que a senhora? Existem milhões de blogueiros no mundo. Não acha que
foi usada na guerra midiática de Washington contra Havana?
Em minha opinião,
ele talvez quisesse responder a alguns pontos, como a invasão de
Cuba. Talvez eu tenha lhe dado a oportunidade de se manifestar sobre
um tema que ele queria abordar havia muito tempo. A propaganda
política nos fala constantemente de uma possível invasão de Cuba.
Mas
ocorreu uma, não?
Quando?
Em 1961.
E, em 2003, Roger Noriega, subsecretário de Estado para Assuntos
Interamericanos, disse que qualquer onda migratória cubana em
direção aos EUA seria considerada uma ameaça à
segurança nacional e exigiria uma resposta militar.
É outro assunto.
Voltando ao tema da entrevista, creio que ela permitiu esclarecer
alguns pontos. Tenho a impressão de que há uma intenção de ambos
os lados de não normalizar as relações, de não se entender.
Perguntei-lhe quando encontraríamos uma solução.
A seu ver,
quem é responsável por este conflito entre os dois países?
É difícil
apontar um culpado.
Neste caso
específico, são os EUA que impõem sanções unilaterais
a Cuba, e não o contrário.
Sim, mas Cuba
confiscou propriedades dos EUA.
Tenho a
impressão de que a senhora faz o papel de advogada de Washington.
Os confiscos
ocorreram.
É
verdade, mas foram realizados conforme o direito internacional. Cuba
também confiscou propriedades da França, Espanha, Itália, Bélgica,
Reino Unido, e indenizou estas nações. O único país que recusou
as indenizações foram os EUA.
Cuba também
permitiu a instalação de bases militares em seu território e de
mísseis de um império distante…
…Como os
EUA instalaram bases nucleares contra a URSS na Itália e
na Turquia.
Os mísseis
nucleares podiam alcançar os EUA.
Assim como
os mísseis nucleares norte-americanos podiam alcançar Cuba ou a
URSS.
É verdade, mas
creio que houve uma escalada no confronto por parte de ambos os
países.
Os cinco presos
políticos cubanos e a dissidência
Abordemos
outro tema. Fala-se muito dos cinco presos políticos cubanos nos EUA, condenados à prisão perpétua por infiltrar
grupelhos de extrema direita na Flórida envolvidos no terrorismo
contra Cuba.
Não é um tema
que interesse à população. É propaganda política.
Mas qual é
seu ponto de vista a respeito?
Tentarei ser o
mais neutra possível. São agentes do Ministério do Interior que se
infiltraram nos EUA para coletar informações. O governo
de Cuba disse que eles não desempenhavam atividades de espionagem,
mas sim que haviam infiltrado grupos cubanos para evitar atos
terroristas. Mas o governo cubano sempre afirmou que esses grupos
estavam ligados a Washington.
Leia também:
EUA mantêm Cuba na “lista negra” do terrorismo
Pequenos produtores de Cuba dobram produtividade e usam 70% menos fertilizantes industriais
Então os
grupos radicais de exilados têm laços com o governo dos EUA.
É o que diz a
propaganda política.
Então não
é verdade.
Se é verdade,
significa que os cinco realizavam atividades de espionagem.
Neste
caso, os EUA têm de reconhecer que os grupos violentos
fazem parte do governo.
É verdade.
A senhora
acha que os Cinco devem ser libertados ou merecem a punição?
Creio que valeria
a pena revisar os casos, mas em um contexto político mais
apaziguado. Não acho que o uso político deste caso seja bom para
eles. O governo cubano midiatiza demais este assunto.
Talvez por
ser um assunto totalmente censurado pela imprensa ocidental.
Creio que seria
bom salvar essas pessoas, que são seres humanos, têm uma família,
filhos. Por outro lado, contudo, também há vítimas.
Mas os
cinco não cometeram crimes.
Não, mas
forneceram informações que causaram a morte de várias pessoas.
A senhora
se refere aos acontecimentos de 24 de fevereiro de 1996, quando dois
aviões da organização radical Brothers to the Rescue foram
derrubados depois de violar várias vezes o espaço aéreo cubano e
lançar convocações à rebelião.
Sim.
No
entanto, o promotor reconheceu que era impossível provar a culpa de
Gerardo Hernández neste caso.
É verdade. Penso
que, quando a política se intromete em assuntos de justiça,
chegamos a isso.
A senhora
acha que se trata de um caso político?
Para o governo
cubano, é um caso político.
E para os
EUA?
Penso que existe
uma separação dos poderes no país, mas é possível que o ambiente
político tenha influenciado os juízes e jurados. Não creio, no
entanto, que se trate de um caso político dirigido por Washington. É
difícil ter uma imagem clara deste caso, pois jamais obtivemos uma
informação completa a respeito. Mas a prioridade para os cubanos é
a libertação dos presos políticos.
O
financiamiento dos dissidentes cubanos pelos Estados Unidos
Wayne S.
Smith, último embaixador dos EUA em Cuba, declarou que
era “ilegal e imprudente enviar dinheiro aos dissidentes
cubanos”. Acrescentou que “ninguém deveria dar dinheiro
aos dissidentes, muito menos com o objetivo de derrubar o governo
cubano”. Ele explica: “Quando os EUA declaram
que seu objetivo é derrubar o governo cubano e depois afirmam que um
dos meios para conseguir isso é oferecer fundos aos dissidentes
cubanos, estes se encontram de fato na posição de agentes pagos por
uma potência estrangeira para derrubar seu próprio governo”.
Creio que o
financiamento da oposição pelos EUA tem sido apresentado
como uma realidade, o que não é o caso. Conheço vários membros do
grupo dos 75 dissidentes presos em 2003 e duvido muito dessa versão.
Não tenho provas de que os 75 tenham sido presos por isso. Não
acredito nas provas apresentadas nos tribunais cubanos.
Não creio
que seja possível ignorar esta realidade.
Por quê?
O próprio
governo dos EUA afirma que financia a oposição interna
desde 1959. Basta consultar, além dos arquivos liberados ao público,
a seção 1.705 da lei Torricelli, de 1992, a seção 109 da lei
Helms-Burton, de 1996, e os dois informes da Comissão de Assistência
para uma Cuba Livre, de maio de 2004 e julho de 2006. Todos esses
documentos revelam que o presidente dos EUA financia a
oposição interna em Cuba com o objetivo de derrubar o governo de
Havana.
Não sei, mas…
Se me
permite, vou citar as leis em questão. A seção 1.705 da lei
Torricelli estipula que “os EUA proporcionarão
assistência às organizações não-governamentais adequadas para
apoiar indivíduos e organizações que promovem uma mudança
democrática não violenta em Cuba.”
A seção 109
da lei Helms-Burton também é muito clara: “O presidente [dos
Estados Unidos] está autorizado a proporcionar assistência e
oferecer todo tipo de apoio a indivíduos e organizações
não-governamentais independentes para unir os esforços a fim de
construir uma democracia em Cuba”.
O primeiro
informe da Comissão de Assistência para uma Cuba Livre prevê a
elaboração de um “sólido programa de apoio que favoreça a
sociedade civil cubana”. Entre as medidas previstas há um
financiamento de 36 milhões de dólares para o “apoio à
oposição democrática e ao fortalecimento da sociedade civil
emergente”.
O segundo
informe da Comissão de Assistência para uma Cuba Livre prevê um
orçamento de 31 milhões de dólares para financiar ainda mais a
oposição interna. Além disso, está previsto para os anos
seguintes um financiamento anual de pelo menos 20 milhões de
dólares, com o mesmo objetivo, “até que a ditadura deixe de
existir”.
Quem lhe disse que
esse dinheiro chegou às mãos dos dissidentes?
A Seção
de Interesses Norte-americanos afirmou em um comunicado: “A
política norte-americana, faz muito tempo, é proporcionar
assistência humanitária ao povo cubano, especificamente a famílias
de presos políticos. Também permitimos que as organizações
privadas o façam.”
Bem…
Inclusive
a Anistia Internacional, que lembra a existência de 58 presos
políticos em Cuba, reconhece que eles estão detidos “por ter
recebido fundos ou materiais do governo norte-americano para realizar
atividades que as autoridades consideram subversivas e prejudiciais
para Cuba”.
Não sei se…
Por outro
lado, os próprios dissidentes admitem receber dinheiro dos EUA. Laura Pollán, das Damas de Branco, declarou: “Aceitamos
a ajuda, o apoio, da ultradireita à esquerda, sem condições”.
O opositor Vladimiro Roca também confessou que a dissidência cubana
é subvencionada por Washington, alegando que a ajuda financeira
recebida era “total e completamente lícita”. Para o
dissidente René Gómez, o apoio econômico por parte dos EUA “não é algo a esconder ou de que precisemos nos
envergonhar”.
Inclusive a
imprensa ocidental reconhece. A agência France
Presse informa que “os dissidentes, por sua
parte, reivindicaram e assumiram essas ajudas econômicas”. A
agência espanhola Efe menciona os “opositores financiados pelos EUA”.
Quanto à agência de notícias britânica Reuters,
“o governo norte-americano fornece abertamente um apoio
financeiro federal às atividades dos dissidentes, o que Cuba
considera um ato ilegal”. E eu poderia multiplicar os exemplos.
Tudo isso é culpa
do governo cubano, que impede a prosperidade econômica de seus
cidadãos, que impõe um racionamento à população. É preciso
fazer fila para conseguir produtos. É necessário julgar antes o
governo cubano, que levou milhares de pessoas a aceitar a ajuda
estrangeira.
Leia também:
Damas de Branco marcham em Havana sob vaias e protestos de ativistas pró-governo
Ex-agente cubano da CIA participa de marcha em Miami a favor das Damas de Branco
Entrevista:Avanços dos EUA em relação a Cuba devem parar onde estão
O problema
é que os dissidentes cometem um delito que a lei cubana e todos os
códigos penais do mundo sancionam severamente. Ser financiado por
uma potência estrangeira é um grave delito na França e no restante
do mundo.
Podemos admitir
que o financiamento de uma oposição é uma prova de ingerência,
mas…
Mas, neste
caso, as pessoas que a senhora qualifica de presos políticos não
são presos políticos, pois cometeram um delito ao aceitar dinheiro
dos EUA, e a justiça cubana as condenou com base nisso.
Creio que este
governo se intrometeu muitas vezes nos assuntos internos de outros
países, financiando movimentos rebeldes e a guerrilha. Interveio em
Angola e…
Sim, mas
se tratava de ajudar os movimentos independentistas contra o
colonialismo português e o regime segregacionista da África do Sul.
Quando a África do Sul invadiu a Namíbia, Cuba interveio para
defender a independência deste país. Nelson Mandela agradeceu
publicamente a Cuba e esta foi a razão pela qual fez sua primeira
viagem a Havana, e não a Washington ou Paris.
Mas muitos cubanos
morreram por isso, longe de sua terra.
Sim, mas
foi por uma causa nobre, seja em Angola, no Congo ou na Namíbia. A
batalha de Cuito Cuanavale, em 1988, permitiu que se pusesse fim ao
apartheid na África do Sul. É o que diz Mandela! Não se sente
orgulhosa disso?
Concordo, mas, no
fim das contas, incomoda-me mais a ingerência de meu país no
exterior. O que faz falta é despenalizar a prosperidade.
Inclusive
o fato de se receber dinheiro de uma potência estrangeira?
As pessoas têm de
ser economicamente autônomas.
Se entendo
bem, a senhora preconiza a privatização de certos setores da
economia.
Não gosto do
termo “privatizar”, pois tem uma conotação pejorativa,
mas colocar em mãos privadas, sim.
É uma
questão semântica, então. Quais são, para a senhora, as
conquistas sociais deste país?
Cada conquista
teve um custo enorme. Todas as coisas que podem parecer positivas
tiveram um custo em termos de liberdade. Meu filho recebe uma
educação muito doutrinária e contam-lhe uma história de Cuba que
em nada corresponde à realidade. Preferiria uma educação menos
ideológica para meu filho. Por outro lado, ninguém quer ser
professor neste país, pois os salários são muito baixos.
Concordo,
mas isso não impede que Cuba seja o país com o maior número de
professores por habitante do mundo, com salas de 20 alunos no máximo,
o que não ocorre na França, por exemplo.
Sim, mas houve um
custo, e por isso a educação e a saúde não são verdadeiras
conquistas para mim.
Não
podemos negar algo reconhecido por todas as instituições
internacionais. Em relação à educação, o índice de
analfabetismo é de 11,7% na América Latina e 0,2% em Cuba. O índice
de escolaridade no ensino primário é de 92% na América Latina e
100% em Cuba, e no ensino secundário é de 52% e 99,7%,
respectivamente. São cifras do Departamento de Educação da Unesco.
Certo, mas, em
1959, embora Cuba vivesse em condições difíceis, a situação não
era tão ruim. Havia uma vida intelectual florescente, um pensamento
político vivo. Na verdade, a maioria das supostas conquistas atuais,
apresentadas como resultados do sistema, eram inerentes a nossa
idiossincrasia. Essas conquistas existiam antes.
Não é
verdade. Vou citar uma fonte acima de qualquer suspeita: um informe
do Banco Mundial. É uma citação bastante longa, mas vale a pena.
“Cuba é internacionalmente reconhecida por seus êxitos no
campo da educação e da saúde, com um serviço social que supera o
da maior parte dos países em desenvolvimento e, em certos setores,
comparável ao dos países desenvolvidos. Desde a Revolução cubana
de 1959 e do estabelecimento de um governo comunista com partido
único, o país criou um sistema de serviços sociais que garante o
acesso universal à educação e à saúde, proporcionado pelo
Estado. Este modelo permitiu que Cuba alcançasse uma alfabetização
universal, a erradicação de certas enfermidades, o acesso geral à
água potável e a salubridade pública de base, uma das taxas de
mortalidade infantil mais baixas da região e uma das maiores
expectativas de vida. Uma revisão dos indicadores sociais de Cuba
revela uma melhora quase contínua desde 1960 até 1980. Vários
índices importantes, como a expectativa de vida e a taxa de
mortalidade infantil, continuaram melhorando durante a crise
econômica do país nos anos 90… Atualmente, o serviço social de
Cuba é um dos melhores do mundo em desenvolvimento, como documentam
numerosas fontes internacionais, entre elas a Organização Mundial
de Saúde, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e
outras agências da ONU, e o Banco Mundial. Segundo os índices de
desenvolvimento do mundo em 2002, Cuba supera amplamente a América
Latina e o Caribe e outros países com renda média nos mais
importantes indicadores de educação, saúde e salubridade pública.”
Além disso, os
números comprovam. Em 1959, a taxa de mortalidade infantil era de 60
por mil. Em 2009, era de 4,8. Trata-se da taxa mais baixa do
continente americano do Terceiro Mundo; inclusive mais baixa que a
dos EUA.
Bom, mas…
A
expectativa de vida era de 58 anos antes da Revolução. Agora é de
quase 80 anos, similar à de muitos países desenvolvidos. Cuba tem
hoje 67 mil médicos frente aos seis mil de 1959. Segundo o diário
ingles The Guardian, Cuba
tem duas vezes mais médicos que a Inglaterra para uma população
quatro vezes menor.
Certo, mas, em
termos de liberdade de expressão, houve um recuo em relação ao
governo de Batista. O regime era uma ditadura, mas havia uma
liberdade de imprensa plural e aberta, programas de rádio de todas
as tendências políticas.
Não é
verdade. A censura da imprensa também existia. Entre dezembro de
1956 e janeiro de 1959, durante a guerra contra o regime de Batista,
a censura foi imposta em 630 de 759 dias. E aos opositores
reservava-se um triste destino.
É verdade que
havia censura, intimidações e mortos ao final.
Então a
senhora não pode dizer que a situação era melhor com Batista, já
que os opositores eram assassinados. Já não é o caso hoje. A
senhora acha que a data de 1º de janeiro é uma tragédia para a
história de Cuba?
Não, de modo
algum. Foi um processo que motivou muita esperança, mas traiu a
maioria dos cubanos. Fui um momento luminosos para boa parte da
população, mas puseram fim a uma ditadura e instauraram outra. Mas
não sou tão negativa como alguns.
Luis Posada
Carriles, a lei de Ajuste Cubano e a emigração
O que acha
de Luis Posada Carriles, ex-agente da CIA responsável por numerosos
crimes em Cuba e a quem os EUA recusam-se a julgar?
É um tema
político que não interessa às pessoas. É uma cortina de fumaça.
Interessa,
pelo menos, aos parentes das vítimas. Qual é seu ponto de vista a
respeito?
Não gosto de
ações violentas.
Condena
seus atos terroristas?
Condeno todo ato
de terrorismo, inclusive os cometidos atualmente no Iraque por uma
suposta resistência iraquiana que mata os iraquianos.
Quem mata
os iraquianos? Os ataques da resistência ou os bombardeios dos
EUA?
Não sei.
Uma
palavra sobre a lei de Ajuste Cubano, que determina que todo cubano
que emigra legal o ilegalmente para os EUA obtém
automaticamente o status de residente permanente.
É uma vantagem
que os demais países não têm. Mas o fato de os cubanos emigrarem
para os EUA deve-se à situação difícil aqui.
Além
disso, os EUA são o país mais rico do mundo. Muitos
europeus também emigram para lá. A senhora reconhece que a lei de
Ajuste Cubano é uma formidável ferramenta de incitação à
emigração legal e ilegal?
É, efetivamente,
um fator de incitação.
A senhora
não vê isso como uma ferramenta para desestabilizar a sociedade e o
governo?
Neste caso, também
podemos dizer que a concessão da cidadania espanhola aos
descendentes de espanhóis nascidos em Cuba é um fator de
desestabilização.
Não tem
nada a ver, pois existem razões históricas e, além disso, a
Espanha aplica esta lei a todos os países da América Latina e não
só a Cuba, enquanto a lei de Ajuste Cubano é única no mundo.
Mas existem fortes
relações. Joga-se beisebol em Cuba como nos EUA.
Na
República Dominicana também, mas não existe uma lei de ajuste
dominicano.
Existe, no
entanto, uma tradição de aproximação.
Então por
que esta lei não foi aprovada antes da Revolução?
Por que os cubanos
não queriam deixar seu país. Na época, Cuba era um país de
imigração, não de emigração.
É absolutamente falso, já que, nos anos 1950, Cuba ocupava o segundo lugar entre os países americanos em termos de emigração rumo aos EUA, atrás apenas do México. Cuba enviava mais emigrantes aos EUA do que toda a América Central e toda a América do Sul juntas, enquanto hoje ocupa apenas o décimo luigar, apesar da lei de Ajuste Cubano e das sanções econômicas.
Talvez, mas não havia essa obsessão de abandonar o país.
Os números mostram o contrário. Atualmente, repito, Cuba ocupa apenas o décimo lugar no continente americano em termos de emigração aos EUA. Então a obsessão de que a senhora me fala é mais forte em nove países do continente, pelo menos.
Sim, mas na época os cubanos iam e vinham.
É a mesma coisa hoje, já que a cada ano os cubanos do exterior voltam nas férias. Além disso, antes de 2004 e das restrições impostas pelo presidente Bush limitando as viagens dos cubanos dos EUA a 14 dias a cada três anos, os cubanos constituíam a minoria dos EUA que viajava com mais frequência a seu país de origem, muito mais que os mexicanos, por exemplo, o que demonstra que os cubanos dos EUA são, na imensa maioria, emigrados econômicos e não exilados políticos, já que voltam a seu país em visita, algo que um exilado político não faria.
Sim, mas pergunte-lhes se querem voltar a viver aqui.
Mas é o que a senhora fez, não? Além disso, em seu blog, a senhora escreveu em julho de 2007 que seu caso não era isolado. Cito: “Há três anos […] em Zurique, decidir voltar e permanecer em meu país. Meus amigos acharam que era uma piada, minha mãe negou-se a aceitar que sua filha já não vivia na Suíça do leite e do chocolate”. Em 12 de agosto de 2004, a senhora se apresentou no escritório de imigração provincial de Havana para explicar seu caso. A senhora escreveu: “Tremenda surpresa quando me disseram para procurar o último da fila dos 'que regressam'. […] E logo encontrei outros 'loucos' como eu, cada um com sua cruel história de retorno”. Então existe esse fenômeno de regresso ao país.
Sim, mas é gente que regressa por razões pessoais. Há alguns que têm dívidas no exterior, outros que não suportam a vida lá fora. Enfim, uma multidão de razões.
Então, apesar das dificuldades e das vicissitudes cotidianas, a vida não é tão terrível aqui, já que alguns regressam. A senhora acha que os cubanos têm uma visão idílica demais da vida no exterior?
Isto se deve à propaganda do regime, que apresenta de uma maneira negativa demais a vida lá fora, com um resultado oposto para as pessoas, que idealizam demais o modo de vida ocidental. O problema é que, em Cuba, a emigração de mais de onze meses é definitiva. As pessoas não podem viver dois anos fora, voltar por um tempo e ir embora de novo etc.
Então, se compreendo bem, o problema em Cuba é mais de ordem econômica, já que as pessoas querem abandonar o país só para melhorar seu nível de vida.
Muitos gostariam de viajar ao exterior e poder voltar logo, mas as leis migratórias não permitem. Tenho certeza de que, se fosse possível, muita gente emigraria por dois anos e voltaria logo para ir embora de novo e regressar, etc.
Em seu blog, houve comentários interessantes a respeito. Vários emigrados falaram de suas desilusões com o modo de vida ocidental.
É muito humano. Você se apaixona por uma mulher e, três meses depois, perde suas ilusões. Compra um par de sapatos e, depois de dois dias, não gosta deles. As desilusões são parte da condição humana. O pior é que as pessoas não podem voltar.
Mas as pessoas voltam.
Sim, mas só de férias.
Mas têm o direito de ficar todo o tempo que quiserem, vários anos inclusive, salvo o fato de perderem algumas vantagens vinculadas à condição de residente permanente, como os cupons de racionamento, a prioridade para a moradia etc.
Sim, mas as pessoas não podem ficar aqui por vários meses, pois têm sua vida lá fora, seu trabalho etc.
Isso é outra coisa, e é igual para todos os emigrados do mundo inteiro. Em todo caso, as pessoas podem perfeitamente voltar a Cuba quando quiserem e permanecer no país o tempo que quiserem. O único problema é que, se ficam mais de onze meses fora do país, perdem algumas vantagens. Por outro lado, custa-me compreender por que, se a realidade é tão terrível aqui, alguém que tem a oportunidade de viver fora, em um país desenvolvido, desejaria voltar para viver novamente em Cuba.
Por múltiplas razões, por seus laços familiares etc.
Então a realidade não é tão dramática.
Não diria isso, mas alguns têm melhores condições de vida que outros.
Quais são, para a senhora, os objetivos do governo dos EUA em relação a Cuba?
Os EUA querem uma mudança de governo em Cuba, mas isso é o que quero também.
Então a senhora compartilha um objetivo com os EUA.
Como muitos cubanos.
Não estou convencido disso. Mas por quê? Porque é uma ditadura? O que Washington quer de Cuba?
Creio que se trata de um questão geopolítica. Há também a vontade dos exilados cubanos, que são levados em conta, e querem uma nova Cuba, o bem-estar dos cubanos.
Com a imposição de sanções econômicas?
Tudo depende de quem é a referência. Quanto aos EUA, creio que querem impedir a explosão da bomba migratória.
Ah, é? Com a lei de Ajuste Cubano, que incita os cubanos a abandonar o país? Não é sério. Por que não anulam essa lei, então?
Creio que o verdadeiro objetivo dos EUA é acabar com o governo de Cuba para dispor de um espaço mais estável. Muito se fala de Davi contra Golias para descrever o conflito. Mas o único Golias, para mim, é o governo cubano, que impõe um controle, a ilegalidade, os baixos salários, a repressão, as limitações.
A senhora não acha que a hostilidade dos EUA contribuiu para isso?
Não apenas acho que contribuiu, mas também que se transformou no principal argumento para se afirmar que vivemos em uma fortaleza assediada e que toda dissidência é traição. Acredito que, na verdade, o governo cubano teme que este confronto desapareça. O governo cubano quer a manutenção das sanções econômicas.
Verdade? Porque é exatamente o que diz Washington, de um modo um pouco contraditório, pois, se fosse o caso, deveria suspender as sanções e assim deixar o governo cubano diante de suas próprias responsabilidades. Já não existiria a desculpa das sanções para justificar os problemas de Cuba.
Cada vez que os EUA tentaram melhorar a situação, o governo cubano teve uma atitude contraproducente.
Em que momento os EUA tentaram melhorar a situação? Desde 1960 só se reforçaram as sanções, à exceção da era Carter. Por isso é difícil manter esse discurso. Em 1992, os EUA votaram a lei Torricelli, com caráter extraterritorial; em 1996, a lei Helms-Burton, extraterritorial e retroativa; em 2004, Bush adotou novas sanções, e as ampliou em 2006. Não podemos dizer que os Estados Unidos tentaram melhorar a situação. Os fatos provam o contrário. Além disso, se as sanções são favoráveis ao governo cubano e servem apenas de desculpa, por que não eliminá-las? Não são os dirigentes que sofrem com as sanções, e sim o povo.
Obama deu um passo nesse sentido – insuficiente, talvez, mas interessante.
Ele apenas eliminou as restrições que Bush impôs aos cubanos e lhes impedia de viajar a seu país por mais de 14 dias a cada três anos, na melhor das hipóteses, e contanto que tivessem um membro direto de sua família em Cuba. Bush inclusive redefiniu o conceito de família. Um cubano da Flórida com apenas um tio em Cuba não podia viajar a seu país, porque o tio não era considerado membro “direto” da família. Obama não eliminou todas as sanções impostas por Bush, e nem sequer voltamos à situação que havia com Clinton.
Creio que as duas partes deveriam, sobretudo, baixar o tom, e Obama o fez. Mas Obama não pode eliminar as sanções, pois falta um acordo no Congresso.
Mas pode aliviá-las consideravelmente assinando simples ordens executivas, o que por enquanto ele se recusa a fazer.
Está ocupado com outros temas, como o desemprego e a reforma da saúde.
No entanto, teve tempo de responder à sua entrevista.
Sou uma pessoa de sorte.
A posição do governo cubano é a seguinte: não temos de dar nenhum passo em direção aos EUA, pois não impomos sanções aos EUA.
Sim, e o governo diz também que os EUA não devem pedir mudanças internas, pois isso é ingerência.
É o caso, não?
Então, seu eu pedir uma mudança, também é ingerência?
Não, porque a senhora é cubana e, por isso, tem direito de decidir o futuro de seu país.
O problema não é quem pede as mudanças, e sim quais são as mudanças em questão.
Não estou certo disso, porque, como francês, não gostaria que o governo belga ou o governo alemão se intrometessem nos assuntos internos da França. Como cubana, a senhora aceita que o governo dos EUA lhe diga como deve governar seu país?
Se o objetivo é agredir o país, é evidentemente inaceitável.
A senhora considera as sanções econômicas uma agressão?
Sim, as considero uma agressão que não teve resultados e é uma múmia da guerra fria que não faz nenhum sentido, atinge o povo e tem fortalecido o governo. Mas repito que o governo cubano é responsável por 80% da crise econômica atual, enquanto 20% resultam das sanções.
Volto a repetir: é exatamente a posição do governo dos EUA, e os números provam o contrário. Se fosse o caso, não creio que 187 países do mundo se preocupassem em votar uma resolução contra as sanções. É a 18ª vez consecutiva que uma imensa maioria dos países da ONU se pronuncia contra esse castigo econômico. Se fosse marginal, não creio que eles se incomodassem.
Mas não sou uma especialista em economia, é minha impressão pessoal.
O que a senhora aconselha para Cuba?
É preciso liberalizar a economia. É claro que isso não pode ser feito de um dia para o outro, pois provocaria uma ruptura e disparidades que afetariam os mais vulneráveis. Mas é preciso fazê-lo gradualmente e o governo cubano tem a possibilidade de fazê-lo.
Um capitalismo “sui generis”, com a senhora diz.
Cuba é uma ilha sui generis. Podemos criar um capitalismo sui generis.
Yoani Sánchez, obrigado por seu tempo e disponibilidade.
Eu que agradeço.
O jornalista francês Salim Lamrani é professor encarregado de cursos na Universidade Paris-Sorbonne – Paris IV e na Universidade Paris-Est Marne-la-Vallée. Especialista nas relações entre Cuba e os Estados Unidos, acaba de publicar Cuba: Ce que les médias ne vous diront jamais (Paris, Editions Estrella, 2009). Contato: lamranisalim@yahoo.fr
Siga o Opera Mundi no Twitter
NULL
NULL
NULL