Um documento oficial publicado nesta segunda-feira (13/10) pelo Vaticano diz textualmente que pessoas homossexuais “têm talentos e qualidades a oferecer à comunidade cristã” e indaga se o Catolicismo é capaz de “receber essas pessoas” e “lhes garantir um espaço fraterno”.
O documento, que alguns analistas já interpretam como uma significativa mudança de tom no discurso da Igreja Católica, é fruto de mais de uma semana de discussão na assembleia de centenas de bispos e leigos convocada pelo papa Francisco para debater assuntos relacionados à família.
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Agência Efe
A 3ª Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Família, responsável pelo documento, ocorre até domingo (19/10)
“A nossa comunidade é capaz de aceitar e valorizar sua orientação sexual sem comprometer a doutrina católica sobre a família e o matrimônio?”, questiona o texto redigido em meio às dicussões do sínodo, nome pelo qual é conhecido o encontro de bispos.
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Embora faça maior uso de termos conciliatórios do que de uma linguagem crítica — em especial, quando comparado às declarações pré-papa Francisco [na foto, abaixo à direita] —, o texto não dá qualquer sinal de mudanças na doutrina católica sobre a unidade familiar, a condenação de atos homossexuais e a manutenção da exclusividade do matrimônio entre um homem e uma mulher.
O cardeal Joseph Ratzinger, por exemplo, antes de ser eleito papa Bento XVI, quando ainda era chefe do departamento de doutrina da Igreja, utilizava o termo “intrinsecamente desarranjado” para ser referir, em textos oficiais, a casais gays.
O documento do Vaticano servirá de base para a discussão da segunda e última semana da assembleia. Além disso, será elemento de reflexão entre os católicos do mundo todo antes do próximo (e mais definitivo) sínodo, a ser realizado em 2015.
Repercussão
O especialista em assuntos do Vaticano John Travis classificou o documento como um “terremoto” na atitude da Santa Sé em relação a pessoas gays. “O texto claramente reflete o desejo do papa Francisco em adotar uma postura pastoral mais misericordiosa em relação ao casamento e a outros assuntos familiares”, disse o autor ao jornal britânico The Guardian.
Em um comunicado publicado hoje, o grupo inglês QUEST, um dos mais antigos coletivos católicos em defesa dos direitos de pessoas gays, disse que o documento do sínodo “representa uma avanço ao reconhecer que essas uniões têm virtudes e constituem uma contribuição valiosa à sociedade em geral e ao bem comum”.