Em pronunciamento anual à Assembleia Legislativa, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou que vai aumentar o preço da gasolina em 2015, após 18 anos sem reajuste do produto no país, o mais barato do mundo.
EFE
Na semana passada, Maduro passou por seis países em sete dias, buscando apoio em projetos econômicos com queda do preço
Segundo o mandatário, “chegou o momento” de tomar a decisão, em vista da atual conjuntura econômica da Venezuela e do cenário internacional de queda histórica do valor da commodity. Após quase cinco anos de estabilidade, o preço do petróleo caiu mais de 50%, quando foi de US$ 115 por barril a menos de US$ 60, em pouco mais de seis meses.
Como o petróleo é responsável por 95% das suas exportações, a Venezuela depende exclusivamente do “ouro negro” para garantir uma balança comercial favorável. Ontem, o chefe de Estado venezuelano também admitiu que o custeio da gasolina consome cerca de US$ 12,5 bilhões por ano em subsídios. “É claro que a receita faz falta…, o que eu estou dizendo é que não há desespero”, disse Maduro, de acordo com a Reuters. “Será feito este ano, sem pressa, mas será feito”, completou, na noite desta quarta-feira (21/01).
No início de 2015, Caracas entrou oficialmente em recessão e apresenta uma hiperinflação de preços de mercadorias essenciais. Em vista desse panorama, Maduro também anunciou que vai reorganizar o sistema de taxas de câmbio, na tentativa de fortalecer as receitas do país.
Fantasma do ‘Caracazo’
Apesar da necessidade do ajuste no preço da gasolina, a Venezuela ainda lida com o tabu de que o aumento poderia desatar uma eclosão social. Há 18 anos, durante o segundo governo de Rafael Caldera, registrou-se o último ajuste.
Para muitos venezuelanos, contudo, a memória do último aumento da gasolina é o de 1989, quando o então presidente Carlos Andrés Pérez lançou mão de um pacote neoliberal que levou a uma onda de protestos conhecida como “Caracazo” que, após violenta repressão estatal, resultou em quase 300 mortes, segundo dados oficiais, apesar de outros cálculos apontarem milhares de desaparecidos.
Luciana Taddeo/Opera Mundi
Posto de gasolina em Caracas: nos últimos seis meses, petróleo teve queda de 40% do seu preço
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A lembrança sangrenta, associada ao aumento do combustível, faz com que os governos calculem o custo político da medida. Apesar de consumir gasolina quase gratuitamente, há quem não esteja disposto a pagar muito mais pelo combustível. Embora alguns considerem que os investimentos sociais dos últimos 15 anos amortizariam uma rejeição à medida, a dilatação para tomar decisões acerca de um aumento mostra que ainda há cautela em relação ao assunto.
Dona das maiores reservas comprovadas do planeta, a Venezuela vende internamente um litro de gasolina de alta octanagem a 0,097 bolívares (equivalente a R$ 0,03). No Brasil, por exemplo, cobra-se, em média, R$ 2,79 por litro de gasolina.
“Neste país não se paga pela gasolina, a PDVSA paga para que coloquem gasolina”, disse em dezembro de 2013 o então ministro de Petróleo e presidente da empresa estatal PDVSA (Petróleos da Venezuela), Rafael Ramírez, citando como exemplos o preço de um refrigerante, cujo custo de 12 bolívares equivalia a 250 litros de diesel.
‘Volta ao mundo’ pela Opep
Na semana passada, Maduro passou por seis países em sete dias, buscando apoio em projetos econômicos e em estratégias para recuperar os preços do mercado petrolífero, que atingiu mais um recorde de baixa ao bater US$ 45 o barril, na última quinta (15/01).
Para cumprir os objetivos em sua “volta ao mundo”, Maduro começou na China e terminou na Rússia. Nesse ínterim, passou por outras quatro nações que, não por acaso, fazem parte da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), assim como a Venezuela: Arábia Saudita, Irã, Qatar e Argélia.
Nesses locais em que frequentou, Maduro discutiu de forma privativa com quatro nações-membro da Opep sobre a necessidade de construir um consenso entre os sócios para interromper a queda nas cotações e unificar o órgão internacional.
Um dos trunfos do giro foi a decisão da Rússia em aumentar o investimento da estatal Gazprom em campos de petróleo e equipamentos de extração na Venezuela, como parte dos acordos para estabilizar os preços. Além disso, Maduro alega que a Arábia Saudita, que está por trás da baixa, concordou em reativar a Comissão de Alto Nível da Opep, para que os membros possam se reunir com mais frequência e revisem os atuais preços.