O ministro das Finanças da Venezuela, Rodolfo Marcos Torres, anunciou nesta terça-feira (10/02) que o país ganhará uma terceira modalidade em seu sistema cambial a partir desta quarta (11/02) e será conforme o livre mercado – isto é, baseada nas leis de oferta e procura.
“O terceiro sistema será livre”, declarou o presidente do Banco Central venezuelano, Nelson Merentes. “Convido todos aqueles que desejam vender ou enviar remessas para suas famílias para usar este mercado”, acrescentou, em entrevista coletiva de imprensa.
Efe
Ministro das Finanças, Marcos Torres (dir), se reuniu com presidente do BC da Venezuela, Nelson Merentes (esq), em Caracas
Intitulado Simadi (Sistema Marginal de Divisas), esse novo sistema de mercado permite que pessoas físicas e empresas sejam capazes de comprar e vender moeda estrangeira, segundo as forças do mercado e por meio de instituições bancárias, casas de câmbio e operadores de valores autorizados.
Este é o quinto mercado de câmbio em 12 anos criado pelo governo para tirar a pressão da demanda por dólares e eliminar o mercado negro atuante no país. Com isso, analistas estimam que a moeda norte-americana possa ser vendida por valores entre 180 e 200 bolívares.
O desestímulo de compra de dólares servirá também para levantar a moeda nacional – o bolívar – que perdeu 90% do valor em relação ao dólar no mercado paralelo desde que o presidente, Nicolás Maduro, chegou ao poder há dois anos.
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A desvalorização vem como resultado, sobretudo, da queda brusca no preço do petróleo nos últimos meses, que é responsável por 95% das exportações venezuelanas. Para o governo, o Simadi é o primeiro passo para implantar um esquema que permitirá a substituição das importações – das quais o país é fortemente dependente – e potencializar a economia.
“O governo vai continuar a cumprir as suas obrigações de dívida internacionais”, assegurou Marco Torres. “As agências de rating, os profetas do desastre, dizem que nós vamos declarar calote. Não! O governo bolivariano e o presidente Maduro garantem que vamos cumprir os nossos compromissos”, completou.
Outras modalidades do sistema cambial venezuelano
Com a decisão, o governo venezuelano prometeu manter a taxa de câmbio fixa de 6,30 bolívares por dólar da primeira modalidade, que representa 70% das importações prioritárias para cobrir as necessidades da economia do país que incluem os setores de alimentação e saúde.
Luciana Taddeo/ Opera Mundi
Produtos como papeis higiênicos dependem de importação e aparecem e desaparecem das prateleiras do país
Além da primeira, a segunda modalidade cambial unificará os dois Sistemas Complementares de Administração de Divisas atuais (Sicad I e II) em um só, cobrindo 30% do resto das necessidades do país.
Em outras palavras, o Sicad é um sistema oficial de leilão de divisas para pessoas físicas e jurídicas, no qual a moeda norte-americana será vendida por 12 bolívares. Para o governo venezuelano, essa segunda modalidade contribui, assim como o plano de importações e de divisas, na luta contra setores especulativos e no equilíbrio da entrada e saída de dólares do país, que fundamenta seu desempenho econômico com base na renda petroleira.
Assim, a Venezuela fica com três sistemas: o usado em importações prioritárias, com o dólar a 6,30 bolívares; outro, resultante da unificação dos dois Sicad, com a moeda norte-americana a 12 bolívares; e um terceiro, no qual ela flutuará livremente.
O sistema cambial venezuelano é controlado pelo Estado desde 2003 e o setor empresarial calcula que o acesso a divisas em 2014 diminuiu 25% entre 2013 e 2014.