As FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) anunciaram nesta quinta-feira (12/02) que jovens menores de 17 anos já não farão parte do universo de novos combatentes da guerrilha. A informação foi divulgada por meio de um comunicado em Havana, no marco dos diálogos de paz que estão sendo realizados entre a insurgência e o governo colombiano, que elogiou a medida.
Agência Efe
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Essa era uma demanda das comissões de vítimas da guerra civil do país, apesar de o tema não ter sido debatido nas mesas de diálogo em Havana. Entidades de direitos humanos no país dizem esperar que a questão seja levada em conta no processo que será realizado com o ELN (Exército de Libertação Nacional).
“Esta guerra de adultos se converte de maneira infame em uma guerra de meninos. Temos que tirá-los do conflito independentemente de o cessar-fogo demorar um ou dez dias”, afirmou o diretor do ICBF (Instituto Colombiano de Bienestar Familiar), Marco Aurelio Zuluaga, em entrevista ao jornal El Colombiano.
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O comandante Iván Márquez, integrante da delegação de paz, leu o comunicado das FARC no qual diz ainda que a medida foi tomada para que haja “cada vez menos gerações e jovens envolvidos em um confronto militar que nos foi imposto”. Nesta quinta (12/02), foi encerrado o 32º ciclo de diálogos em Havana. Na última semana, a guerrilha se comprometeu a deixar a ação armada e se transformar em um partido político, pelas vias democráticas.
A insurgência disse também que “ao contrário do que quer fazer crer a propaganda institucional, os jovens não são recrutados de maneira forçada”. De acordo com Márquez, o Exército colombiano realiza esse tipo de ação com as chamadas “batidas”, que são recrutamentos irregulares e massivos em bairros pobres. Tais jovens são treinados e “infiltrados nas guerrilhas para realizar tarefas de inteligência e atentar contra a vida dos guerrilheiros”, afirmou.
Agência Efe
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Por sua parte, o governo, representado por Humerto de la Calle, aplaudiu o anúncio: “saudamos esta decisão. É um passo na direção correta. Não devemos perder de vista que o objetivo final é o fim do conflito”, disse. Apesar da ponderação, considerou a medida “insuficiente” e pediu que as FARC deixem de contar definitivamente com menores de idade na guerrilha.
O presidente Juan Manuel Santos declarou diversas vezes ter a intenção de finalizar o processo e acabar com o conflito ainda este ano.
TeleSUR
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Crianças-soldado
De acordo com dados apresentados pela guerrilha, entre 2008 e 2012, “foram incorporados de maneira forçada ao serviço militar 466.377 jovens”, dos quais 90% provinham dos estratos mais pobres da sociedade. “Desta forma, o Estado mantém uma estratégia que converte os mais pobres em carne para canhão de uma guerra que só beneficia o establishment, mas deixa a salvo dos perigos da confrontação fratricida os filhos da oligarquia”.
Somente no começo deste ano a obrigatoriedade de alistamento militar para a obtenção de diploma universitário foi derrubada, após intensa campanha do movimento antimilitarismo que critica o recrutamento forçado realizado pelo governo.
Também hoje o Ministério da Defesa divulgou um informe com números de jovens recrutados irregularmente. De acordo com as informações, entre 2002 e 2004 foram recuperados 4.067 meninos e meninas, 70% deles tinham 16 e 17 anos e 30% tinham entre 9 e 15 anos. Destes, 66% (2.648) estivavam nas fileiras das FARC e 17% (676) nas do ELN.