Apoiado no “sentimento de unidade dos cidadãos ibéricos”, um grupo de portugueses e espanhóis anunciou a constituição do Partido Ibérico (Íber), que defende a união entre Espanha e Portugal para projetos comuns. O partido foi inscrito em dezembro no Ministério do Interior espanhol, mas em território lusitano trata-se, por enquanto, de apenas um movimento, visto que ainda não foi formalizado.
As constituições dos dois países obrigam a criação de partidos em ambos os Estados. Diante disso, o Íber terá dois diretórios – um em cada território -, com decisões conjuntas e coordenadas. “Não se trata de fundir Espanha e Portugal, mas fazer com que eles caminhem juntos”, explica o espanhol Casimiro Sánchez Calderón, ex-PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol).
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De acordo com a Lei dos Partidos Políticos (Lei nº 2/2003) de Portugal, a inscrição de uma organização política tem que ser requerida por, pelo menos, 7,5 mil cidadãos eleitores. Segundo o português Paulo Gonçalves, idealizador do projeto no país, foram obtidas cerca de 3 mil assinaturas até a primeira semana de janeiro e a intenção é finalizar o processo até o final de maio.
Arquivo Pessoal
Com integrantes de diversas áreas da sociedade – engenheiros, professores universitários, sindicalistas, aposentados e trabalhadores comuns -, a organização política possui o espectro socialdemocrata. “Tendo em conta que os conceitos de direita ou esquerda estão evoluindo e temos que nos adaptar à atualidade”, pondera Calderón a Opera Mundi.
[Calderón já foi membro do PSOE, mas hoje é um dos idealizadores do Íber na Espanha]
Neste momento, o grupo está se organizando internamente em termos nacionais e, mais especificamente, distritais, visando às eleições legislativas em Portugal, que ocorrem entre setembro e outubro deste ano, e na Espanha, a ser realizada no dia 20 de dezembro. O primeiro Congresso do Íber será em abril, com o objetivo de eleger os membros da estrutura interna e de órgãos sociais.
Propostas
O primeiro objetivo do Partido Ibérico é conseguir maior unidade entre os países, criando “um espaço ibérico de fraternidade e compromisso responsável”. Já constituído, embora esteja no início de sua trajetória, o Íber pretende apresentar-se na próxima eleição legislativa espanhola com programas e projetos “que beneficiem os dois países”.
Dentre as propostas estão: criar um Banco Central Ibérico, extinguindo os Bancos Centrais nacionais dos dois países; compartilhar ministérios, exceto Justiça, Defesa e do Interior; e construir Mercado Único Ibérico aberto aos países irmãos.
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Calderón destacou que tudo relacionado com a pesca, o azeite e o vinho, por exemplo, teria uma atenção especial, assim como a necessidade de criar parques tecnológicos, indústrias 4.0 e uma educação ibérica que se aprofunde no esforço contra a fraude fiscal. “Outra questão é limitar a remuneração ao longo da vida pública em 12 anos”, defende.
Iberismo
O iberismo é tem se manifestado em distintas etapas da história e seu objetivo é a união dos povos da península ibérica, projetando essa união à Ibero-América. Entre os séculos XIX e XX, tratou-se de uma corrente política e social, defendida por intelectuais de diversas áreas, que pregavam a fusão de Portugal e Espanha.
Gonçalves, que articula este projeto há pelo menos três anos, moldou a concepção da corrente política baseado na ideia de agendas comuns com dimensões regional e global, visando o estreitamento dos laços com ex-colônias.
“O que propomos é uma união de interesses comuns, falando numa só voz, para tentar recuperar o tempo perdido. Visando, inclusive, investimentos em diplomacia nas localidades de expressão ibérica, como a América do Sul”, argumenta Gonçalves a Opera Mundi.
Segundo a terceira edição do Barômetro de Opinião Hispano-Luso (BOHL), elaborado pelo Centro de Análises Sociais de Salamanca em colaboração com o Centro de Investigação e Estudos de Sociologia de Lisboa, em 2011, 39,8% dos espanhóis e 46,1% dos portugueses consideravam que os países deveriam se unir para formar uma federação.