O grupo xiita houthis do Iêmen convocou, nesta quinta-feira (26/03), o povo iemenita para uma guerra santa contra a coalizão árabe que desde ontem realiza bombardeios na capital Sanaa e em outras partes do país. “Chamamos os filhos do grande povo iemenita a levantar as armas, enviar combatentes fortes aos quartéis e responder à convocação para a jihad santa”, disse o grupo, em comunicado lido em uma manifestação realizada hoje.
A declaração ocorre após os bombardeios liderados pela Arábia Saudita, iniciados na noite de quarta (25/03), mesmo dia em que o presidente teve que fugir do país após o palácio presidencial ter sido atacado e saqueado e o ministro da Defesa, sequestrado. O mandatário Abed Rabu Mansour al-Hadi se encontra em segurança na Arábia Saudita.
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Agência Efe
Houthis protestam contra intervenção da coalizão
Cerca de 200 mil pessoas, entre milicianos e seguidores dos houthis, protestaram na capital iemenita contra a operação militar liderada pela Arábia Saudita. De acordo com a agência Efe, “praticamente todos os participantes estavam armados com fuzis”, e gritavam palavras de ordem contra Arábia Saudita, Estados Unidos e Israel.
Por outro lado, milhares se manifestaram na cidade de Taiz, no sudoeste do país, a favor da operação militar. Eles levavam fotografias do rei saudita, Salman bin Abdelaziz, e do presidente iemenita, Abdo Rabbo Mansour Hadi, além de bandeiras nacionais. Os milicianos houthis e policiais deram tiros para o alto para dispersar a multidão.
Operação Tempestade da Firmeza
No total, nove países fazem parte da operação militar “Tempestade da Firmeza”: Kuwait, Catar, Emirados, Bahrein, Egito, Jordânia, Marrocos e Sudão, além do Paquistão.
Por sua vez, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, autorizou o envio de apoio logístico e de oficiais de inteligência para integrar o esforço árabe, embora tenha ressaltado que as forças americanas não realizarão ação militar direta.
Agência Efe
Enfrentamentos entre houthis e forças leais ao presidente Hadi
O secretário-geral da Liga Árabe, Nabil Elaraby, anunciou apoio total à coalizão de países árabes contra os houthis e justificou a ação como “uma ampla aliança árabe e regional contra alvos determinados pelos houthis golpistas, e em resposta ao pedido do presidente iemenita, que representa a legitimidade”.
Os bombardeios tiveram como alvos na capital Sanaa o palácio presidencial, o aeroporto, a sala de operações mistas da Força Aérea e o quartel Rima Hamid.
De acordo com o ministério da Saúde do Iêmen, até o momento, 18 civis morreram e 24 ficaram feridos pelos bombardeios. De acordo com o ativista político Ammar al-Aulaqi, famílias estão fugindo de Sanaa após ataques aéreos.
in this neighbourhood north of sanaa many women and children were killed. pic.twitter.com/O1ZoxjVhkP
— Hussain Albukhaiti (@HussainBukhaiti) 26 março 2015
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O CICV (Comitê Internacional da Cruz Vermelha) manifestou preocupação com a escalada da violência no país após tomar conhecimento do número de vítimas civis após os bombardeios. “Os cidadãos iemenitas comuns — já duramente afetados por anos de conflito — agora têm de suportar os efeitos dessa escalada”, disse o chefe da delegação do CICV no Iêmen, Cedric Schweizer, em um comunicado.
Vários iemenitas divulgaram imagens da destruição nas redes sociais. Há registro de que casas e carros foram destruídas e mulheres e crianças foram mortas. De acordo com a blogueira Afrah Nasser, Aden vive uma “guerra sangrenta com muitas vítimas. Cadáveres s encontram no chão nas ruas”.
Agência Efe
Casas destruídas após bombardeio realizado nesta quinta
Devido ao fato de o país não ser preparado para enfrentar uma situação de guerra, o número de mortos deve aumentar, como adverte Hisham Al-Omeisi no Twiter: “não há refúgio para bombas ou refúgios seguros em Sanaa. Nunca esperamos ataques aéreos, nem bombardeios, não estamos preparados para enfrentá-los”, afirmou.
Críticas
Na primeira declaração desde o início dos bombardeios, o líder dos houthis, Abdulmalik al-Huthi, disse que a agressão “opressiva e criminal é totalmente injustificada”, em discurso televisionado, acusando a Arábia Saudita de ser um “vizinho do mal” que “cumpre a vontade dos Estados Unidos e de Israel”.
Na mesma linha, o Irã – acusado de fornecer armamentos aos houthis – pediu que os ataques sejam encerrados “imediatamente”, como afirmou o chanceler iraniano, Mohammad Javad Zarif. Além disso, Teerã classificou a ação como “perigosa” e ressaltou que os ataques ameaçam a soberania do Iêmen. Zarif disse ainda que a coalizão vai complicar os esforços para acabar com o conflito.
Agência Efe
Iemenitas protestam contra houthis em imagem tomada nesta quarta-feira (25/03)
O grupo libanês Hezbollah também condenou a ofensiva. “O Hezbollah condena de modo enérgico a agressão dos Estados Unidos e da Arábia Saudita contra o povo irmão do Iêmen, seu Exército nacional e suas instalações vitais, assim como a interferência de alguns países árabes e não árabes nessa agressão”, disse o grupo xiita em comunicado.
Para a União Europeia, os acontecimentos alimentam “o risco de graves consequências regionais”, como afirmou a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini. “Estou convencida de que a ação militar não é uma solução”, concluiu.
Agência Efe
Diversas pessoas estão deixando Sanaa após início de bombardeios