A Universidade da Cidade do Cabo acatou na última sexta-feira (27 de março) as demandas de estudantes que desde o início do mês protestam pela remoção da estátua do colonialista britânico Cecil John Rhodes do campus.
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A estátua de Rhodes adorna o centro do campus da universidade, que é a mais antiga da África do Sul. Considerada uma das melhores do continente, a instituição foi construída sobre terreno doado pelo político e empresário, morto em 1902. O magnata da mineração foi um dos ideólogos do imperialismo britânico na África e contumaz opositor do nacionalismo negro e da luta anticolonial na segunda metade do século 19 no continente.
Reprodução Facebook UCT Rhodes Must Fall
Estudantes em intervenção na estátua de Cecil John Rhodes na Universidade da Cidade do Cabo
No início do mês, estudantes se organizaram na campanha “Rhodes Must Fall” (“Rhodes deve cair”), exigindo a remoção da estátua do campus, considerada por parte do corpo discente como um símbolo da supremacia branca que impôs décadas de apartheid no país africano. Entre passeatas e manifestações, estudantes protestaram jogando fezes humanas na estátua. “Nós, estudantes negros, queremos sentir identificação com a instituição em que estudamos”, disse a líder estudantil Ramabina Mahapa ao jornal britânico The Guardian. “Que legado estamos preservando?”
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Em meados de março, a universidade disse reconhecer “visões divergentes” sobre a estátua e que era importante debater o tema. “As atitudes imperialistas e racistas de Rhodes causam muita controversa e ressentimento até hoje”, reconheceu a instituição em comunicado, ressaltando porém que a universidade “provavelmente não teria sido fundada em 1918” sem a doação das terras por parte do colonialista.
Na última terça-feira, Max Price, vice-reitor da universidade, já havia declarado que a proposta de remoção da estátua tinha sido aprovada pela direção da instituição, reconhecendo que “muitas das injustiças perpetradas durante o período colonial aconteceram sob o governo de Rhodes”, que foi primeiro-ministro da então Colônia do Cabo.
Na última sexta, o corpo docente da universidade em assembleia concordou com a remoção da estátua, em votação finalizada com o placar 181 a 1. Embora o conselho da instituição ainda deva sancionar a decisão, a estátua será coberta até que autoridades da secretaria do patrimônio público a removam. “É uma vitória para nós, sem dúvida”, disse Mahapa à agência de notícias France Presse (AFP). “Isso significa que estamos sendo ouvidos pela comunidade como um todo.”
A campanha dos estudantes da Universidade da Cidade do Cabo levantou o debate sobre representação racial nas universidades sul-africanas e inspirou alunos de outras instituições. Em Durban, terceira maior cidade do país, estudantes da Universidade de KwaZulu cobriram a estátua do rei britânico George V com tinta branca e slogans antirracismo. Já os estudantes da Universidade Rhodes, assim denominada em homenagem ao imperialista britânico, passaram a exigir que a instituição seja renomeada.