Convidada pela primeira vez a integrar a Cúpula das Américas, Cuba teve que lidar com a presença de um dos algozes de Ernesto “Che” Guevara, herói da Revolução Cubana, em um dos fóruns preparatórios do evento que reunirá chefes de Estado de todo o continente americano. Apontado como um dos assassinos de Che, Félix Rodríguez Mendigutía foi convidado para participar nesta quarta-feira (08/04) do Fórum da Sociedade Civil, que se estenderá até sexta (10/04).
Inconformados com a presença do algoz, as delegações cubana e venezuelana se retiraram da sessão realizada hoje. Elas exigem que Mendigutía e outros “mercenários e terroristas” sejam expulsos do evento.
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Agência Efe
Cubanos protestaram ao sair da cúpula
A delegação cubana disse ter sido “enganada”. ”Não vamos compartilhar o espaço com representantes de uma suposta sociedade civil que não é a nossa, que é paga”, afirmou o deputado cubano Luis Morlote, após a retirada do fórum.
Além disso, 20 cidadãos cubanos, dos 108 que estão no país centro-americano, tiveram o credenciamento negado ao chegar ao Panamá, mesmo tendo feito o processo de inscrição anteriormente. De acordo com setores da esquerda presentes no evento, a seleção dos participantes foi determinada por Washington.
Delegações opositora e oficial cubanas chegaram a se enfrentar nas proximidades do evento:
URGENTE! La delegacion Cubana y disidentes Cubanos (mayameros) se enfrentan a golpes en #PANAMA 4:30pm @dcabellor #8A pic.twitter.com/WP4WQnxAII
— Kevin Villas (@pachilobo4F) 8 abril 2015
Paralelamente ao Fórum Social é realizado também o Fórum da Juventude (entre 08/04 e 09/04), o Fórum de Reitores (entre 09/04 e 10/04) e o Fórum de Empresários (entre 09/04 e 10/04). A Cúpula das Américas, com a presença dos mandatários e premiês será realizada entre os dias 09 e 10. Já a Cúpula dos Povos, evento paralelo com a presença de movimentos sociais, será realizada entre 9 e 11 de abril.
“Mercenários” e “terroristas”
Em um informe distribuído à sociedade panamenha, Cuba apresentou, nesta terça (07/04), a declaração de princípios, na qual denuncia a presença dos chamados “contrarrevolucionários” — classificados por Washington como “dissidentes políticos”. Os cubanos também prepararam um documento sobre a participação de pessoas classificadas pela ilha como “mercenárias” e “terroristas”, entre elas Mendigutía, e outras relacionadas com Posada Carrilles, conhecido como o “Osama Bin Laden do hemisfério ocidental”, de acordo com a publicação.
Ismael Francisco/ Cubadebate
Tablóide foi distribuído entre participantes da cúpula
No informe também estão relatados outras figuras “patrocinadas pelos Estados Unidos e outros setores da ultradireita do continente e da Europa”, entre eles a blogueira Yoaní Sánchez.
Mendigutía deverá participar do Simpósio pela Unidade Cubana, evento promovido pelo chamado Diretório Democrático Cubano, que o classifica como “veterano lutador pela democracia e presidente da Brigada de Assalto 2506”. Também participarão do evento o ex-congressista norte-americano Lincoln Díaz-Balart; a empresária Sylvia Iriondo, presidente do grupo Mães Anti-Repressão por Cuba; Rogelio Matos, secretário nacional do Diretório Democrático Cubano.
Ismael Francisco/ Cubadebate
Cartaz dá boas-vindas a participantes da Cúpula das Américas
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Além da morte de Che, Mendigutía tem também no extenso currículo a participação na invasão da Baía dos Porcos, ou Playa Girón, em 1961, organizada pelos Estados Unidos para derrubar a incipiente Revolução Cubana. Ele é acusado ainda de estar envolvido com o tráfico de armas e drogas em apoio à contrarrevolução nicaraguense e com o ataque a embarcações civis que transportavam mercadorias a Cuba.
Entre as atividades que estão previstas durante o fórum está o encontro, na sexta-feira (10/08), dos participantes com o mandatário norte-americano, Barack Obama, o ex-presidente do país Bill Clinton e o ex-secretário geral da OEA, José Miguel Insulza, além do presidente do Panamá, Juan Carlos Varela.
Provocação
Nesta quarta (08/04), um grupo de organizações panamenhas, composta por sindicatos, entidades estudantis e outros movimentos sociais, enviou uma carta à ministra das Relações Exteriores, Isabel de Saint Malo de Alvarado, na qual critica as atividades que serão realizadas não só por dissidentes cubanos, como também por opositores ao governo do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Para os ativistas, as atividades são “conspirativas e de provocação” contra os governos de Raúl Castro e Maduro.
Entre os integrantes das atividades estão as esposas dos opositores venezuelanos Leopoldo López, Lilian Tintori, e Antonio Ledezma, Mitzy Capriles. Ambos estão detidos no país sul-americano. O primeiro, por sua suposta responsabilidade na convocação de protestos violentos no país, que provocaram a morte de 43 pessoas em 2014, e o segundo, prefeito metropolitano de Caracas, detido por sua suposta participação em um golpe de Estado contra o presidente Nicolás Maduro.