Diante da crise humanitária no Mar Mediterrâneo após uma série de naufrágios de embarcações superlotadas de imigrantes, a organização internacional MSF (Médicos Sem Fronteiras) afirmou nesta segunda-feira (20/04) que a União Europeia está transformando a região em uma “fossa clandestina”.
“Uma fossa clandestina está sendo criada no Mar Mediterrâneo e as políticas europeias são as responsáveis por isso”, afirmou Loris De Filippi, presidente de MSF na Itália.
Leia também:
Mediterrâneo consolida-se como a rota de migração mais mortífera do globo
Uma pessoa é capaz de morrer por uma vida digna, diz imigrante que chegou à Espanha a nado
EFE
Desdeo início do ano, ao menos 1.500 imigrantes morrerram tentando atravessar Mediterrâneo
“Confrontada com milhares de pessoas desesperadas que fogem de guerras e crises, a Europa tem fechado fronteiras, forçando pessoas em busca de proteção a arriscar suas vidas e morrer no mar. Não há mais tempo para pensar, essas vidas devem ser salvas agora”, ressaltou Di Filippi.
Nesta segunda, um barco com pelo menos 300 imigrantes e outro com 150 afundaram no Mar Mediterrâneo. Os acidentes ocorrem dois dias após um pesqueiro naufragar no Canal da Sicília, na Itália, tornando-se a maior tragédia da região, com ao menos 700 mortos.
“Setecentas mortes em um dia são números de uma zona de guerra. Essa tragédia humanitária está diante de todos agora, mas a Europa não está disposta a enfrentá-la. É por isso que começaremos nossas próprias operações no mar, em uma tentativa de salvar o máximo de vidas”, sugeriu a presidente da ONG humanitária.
NULL
NULL
Nesta tarde, a Comissão Europeia propôs um plano de ação em dez pontos, que inclui reforçar o controle e o resgate para responder à situação de desastre migratório, caracterizado pelo próprio primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, como uma “crise humanitária”.
“Os Estados europeus devem lançar imediatamente operações de resgate e salvamento em grande escala, com um patrulhamento ativo o mais próximo possível da costa da Líbia. Os meios atuais não são, obviamente, suficientes. Essa tragédia está apenas começando, mas pode e deve ser evitada”, apontou Loris De Filippi.
Para MSF, a situação atual é uma crise humanitária criada por políticas europeias e que não pode ser ignorada. “Somente a criação de canais legais e seguros para proteção na Europa irão verdadeiramente impedir milhares de mortes”, comentou a líder da ONG.
Além de Médicos Sem Fronteiras, a ONU (Organização das Nações Unidas) já havia criticado nesta manhã as ações da diplomacia europeia perante a questão migratória como “reações políticas míopes e de curto prazo”.
“A Europa está virando as costas para alguns dos imigrantes mais vulneráveis no mundo e arrisca tornar o Mediterrâneo em um grande cemitério”, afirmou hoje o chefe de direitos humanos da ONU, Zeid Ra'ad Al Hussein.