Alondra Luna Núñez, de 14 anos, estava na sala de aula quando a Interpol a tirou da escola em que estuda no interior do México. Sem nenhum teste de DNA que comprovasse o pedido, a menina foi levada, na presença dos pais, para outro estado e ali foi informada que uma mulher residente nos Estados Unidos a reconhecera como sendo sua filha Alondra Díaz, desaparecida há oito anos. As cenas da garota chorando e gritando por não querer ser levada a outro país com uma pessoa desconhecida que dizia ser sua mãe tornou-se viral nas redes e comoveu a sociedade mexicana.
Veja as imagens:
Apenas quando a menina já estava nos Estados Unidos foi realizado o exame de DNA que confirmou que ela não era a filha de Dorotea García. A garota foi repatriada na última quarta-feira (22/04), uma semana após ter sido levada.
Movimentos de defesa dos direitos humanos criticam o que consideram um erro da Justiça. Isso porque, sem que houvesse informação suficiente sobre a identidade de Alondra, autoridades mexicanas autorizaram a ordem de busca emitida pela Interpol.
“Fizeram as coisas mal porque me separaram dos meus pais”, disse a garota em uma entrevista coletiva concedida à imprensa por ocasião do seu retorno. “Me levaram para fazer um passeio por Houston e é bonito, mas eu não gostei (…). Sou feliz em Guanajuato com minha família”, ressaltou.
Caso ganhou repercussão internacional:
Parents of taken Mexican girl blame judge for mix-up that sent her to Texas http://t.co/GJOHJumAgF
— The Guardian (@guardian) 23 abril 2015
A jovem disse ainda ter sentido um “profundo medo” de não voltar a ver sua família pela forma como a juíza Cinthia Mercado García agiu. “A juíza gritou comigo: ‘ela [Dorotea] está muito segura de que você é filha dela e veremos se é a filha dela. Eu tomarei a decisão’”, contou Alondra.
Ela ressaltou ainda que a magistrada não escutou seus argumentos. “Me mostraram fotos de uma menina e seu pai Reynaldo. Mas disse a eles que não conhecia nem o homem, nem a menina”. Alondra ressaltou ainda que pediu a Dorotea que fizesse um exame de DNA. “O bom é que ela aceitou”, comemorou.
O teste foi realizado na quarta-feira. Após o resultado negativo, a menina pôde voltar ao convívio dos verdadeiros familiares no México.
Twitter/ Divulgação
Garota demonstrou felicidade por retornar a seu país
Gustavo Luna e Susana Núñez, pais de Alondra, chegaram a apresentar uma série de documentos para comprovar que a menina era filha deles, mas a juíza não os levou em consideração. Eles disseram ainda que vão analisar como proceder para denunciar a violação de direitos humanos no caso.
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Para a Redim (Rede pelos Direitos da Infância no México), o caso é paradigmático “pelas graves violações aos direitos da menina e sua família, exercidos pelas autoridades mexicanas buscando ‘cumprir a lei’”.
O organismo classificou como lamentável o fato de “autoridades mexicanas repetirem o padrão de não defender seus compatriotas diante das autoridades norte-americanas” e exigiu que os funcionários envolvidos no processo sejam investigados e sancionados.
Entenda o caso
Há oito anos, a SER (Secretaria de Relações Exteriores) recebeu a solicitação de retorno de uma menina chamada Alondra Díaz, que fora subtraída dos Estados Unidos por seu pai.
Divulgação/ Twitter
Alondra na companhia dos pais após o retorno ao México
As informações disponíveis indicavam que a jovem poderia estar em Tacatzcuaro, em Michoacán, para onde Loandra foi levada.
A chancelaria mexicana e a autoridade judicial presumiram que a garota em questão vivia em Guanajuato com o nome de Alondra Luna Núñez e acataram a obrigação internacional do Estado quando ainda não havia certeza sobre a identidade da jovem, mas classificaram o ocorrido como sendo um “caso inédito”.
Em março de 2015, a Autoridade Central norte-americana informou que Dorotea viajou a Guanajuato e identificou Alondra como sendo a filha que buscava desde 2007.
Após o ocorrido, a juíza Cinthia Elodia Mercado solicitou a intervenção da Interpol para apresentar a menina. Em sua defesa, disse que apenas cumpriu ordens superiores, de acordo com os trâmites da Justiça do país.
Na última quarta, a CIDH (Comissão Nacional de Direitos Humanos) mexicana disse que vai solicitar uma investigação para o caso. De acordo com o organismo, o caso preocupa porque a “Polícia Federal e as autoridades judiciais ignoraram a Lei Geral de direitos das crianças e adolescentes”, que determina o direito que eles têm a serem escutados.