Diversos grupos de brasileiros iniciaram campanhas de arrecadação de recursos nas redes sociais horas após um terremoto de 7.8 na escala Richter atingir o Nepal no último dia 26 de abril, deixando mais de 7.500 mortos, segundo o mais recente balanço divulgado pelo governo nepalês. Sensibilizados com a pior tragédia do gênero em 80 anos no país asiático, brasileiros acreditam que o desafio agora é reconstruir a nação em longo prazo.
É o caso do gaúcho João Pedro Demore, um dos idealizadores do AjudaNepal.Org, grupo que começou com apenas três pessoas logo após a catástrofe, mas cresceu para mais de 1.000 colaboradores em menos de 24 horas na internet.
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Arquivo Pessoal
Demore (de preto), no Nepal: “gostaria muito de morar lá. É um país muito rico culturalmente, que acolheu grandes mestres budistas”
“Como nós já viajamos por lá e um dos colaboradores foi, inclusive, guia no Nepal, vimos que tínhamos informações que poderiam ajudar o Itamaraty na busca por brasileiros”, conta o oceanógrafo de 35 anos, em entrevista a Opera Mundi nesta quarta-feira (06/05), acrescentando que a página criada no Facebook viabilizou o diálogo entre os brasileiros que testemunharam a tragédia e que permanecem na região e familiares preocupados por aqui.
Em termos práticos, a campanha do AjudaNepal.Org parte da captação de recursos para projetos humanitários que os organizadores já conheciam pessoalmente em visitas anteriores ao Nepal, especialmente em áreas mais isoladas.
“Alguns amigos nossos que estavam por lá também montaram projetos próprios para vilas que não estavam sendo assistidas pelo governo ou pelas ONGs internacionais”, explica. “Será um longo processo, que vai durar anos. Por isso, é muito importante manter uma mobilização. O foco agora é o apoio de longo prazo para viabilizar a reconstrução”, destaca Demore.
Efe
Equipes de resgate e sanitária desinfectam e buscam corpos em meio aos escombros na capital, Katmandu
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Na mesma linha, a brasiliense Lesley Ishii, da #SOSNEPAL, se questiona sobre o impacto e as consequências da catástrofe em longo prazo à população, tendo em vista problemas sociais já existentes e persistentes no país, como o tráfico de pessoas, principalmente agora que tem sido usado como moeda de troca de suprimentos essenciais para sobrevivência.
“A grande questão da catástrofe não é ‘o durante’, mas ‘o pós’, ou seja, a reconstrução do país. Para onde as pessoas vão voltar? Como dar continuidade às suas vidas? Estou preocupada com as crianças órfãs de lá. O Nepal tem uma exploração sexual infantil muito grande”, afirma a internacionalista de 31 anos.
O grupo trabalha em parceria com a ONG “Meninas dos olhos de Deus”, que atua há 15 anos no Nepal no combate ao tráfico de pessoas. Segundo a ONU, estima-se que até 15 mil nepalesas sejam vítimas deste crime a cada ano.
Arquivo Pessoal
Lesley Ishii visitou o Nepal em 2013, quando passou cerca de 20 dias explorando a nação asiática
Atualmente, o #SOSNEPAL está arrecadando doações que serão utilizadas para compra de medicamentos, alimentos e tendas para vilas da capital, Katmandu. Com a grande demanda de doações, a campanha busca agora um avião via governo brasileiro ou via iniciativa privada para enviar o material. “Recebemos doações de várias partes do país, estamos vendo se alguma companhia aérea ou a FAB viabilizam o envio”, explica Ishii.
A necessidade de um transporte aéreo para encaminhar doações é também a preocupação do administrador Tito Hollanda Barroso, 28, que fundou junto com um grupo de 10 amigos de São Paulo e de Brasília a página Força Nepal, no Facebook.
Hollanda conta que a criação do projeto online foi um processo espontâneo. “Eu nunca fui ao Nepal, nem tenho família por lá. Na verdade, estava discutindo sobre a situação do terremoto em uma roda de conversa com amigos e, então, decidi procurar a Embaixada do Nepal no Brasil para saber como podia ajudar”, explica.
Como o embaixador nepalês no Brasil retornou à nação de origem em meio à tragédia, o grupo entrou em contato com Rishi Raj Acharya, encarregado de negócios da sede diplomática em Brasília, que sugeriu que as doações fossem feitas via depósito para a conta bancária da Embaixada. “Rishi disse que os nepaleses ficaram muitos sensibilizados com o interesse e a boa fé dos brasileiros”.
#ForcaNepal”Olá, queridos amigos brasileiros!Meu nome é Rishi Raj Acharya e sou encarregado de negócios da embaixada…
Posted by Força Nepal on jeudi 30 avril 2015