Atualizada em 14.mai.2015, às 6h
Em 14 de maio de 1999, o então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, desculpou-se pelo telefone diretamente com o presidente da China, Jiang Zemin, por causa do bombardeio “acidental” pela aviação da Otan contra a embaixada chinesa em Belgrado, seis dias antes.
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Clinton ligou para Zemin pedindo desculpas por ataque supostamente acidental contra embaixada chinesa em Belgrado
Na época, a Otan estava conduzindo operação contra a Iugoslávia, um último bastião socialista no Leste Europeu, sob o pretexto de impedir o “massacre de albaneses” no Kosovo, a centenas de quilômetros dali. A chamada “Operação Força Aliada” foi a primeira operação de guerra em solo europeu e o primeiro bombardeio aéreo a uma cidade no continente desde a Segunda Guerra Mundial.
Clinton chamou o bombardeio de “acontecimento trágico e isolado”, insistiu que não foi premeditado (ao contrário do que vinham afirmando autoridades chinesas) e prometeu uma investigação oficial sobre o incidente. Três pessoas foram mortas durante o bombardeio à embaixada da China e outras 20 ficaram feridas, algumas com gravidade. O bombardeio provocou protestos furiosos contra as embaixadas de Washington e Londres na China e ameaçou atrapalhar as conversações entre os Estados Unidos e a China a respeito da proliferação de armas, segurança internacional e direitos humanos.
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A despeito do pedido de desculpas público e por escrito de Clinton, os jornais chineses e funcionários do governo insistiam que os EUA haviam atacado a embaixada deliberadamente. Os cinemas na China baniram os filmes norte-americanos e as estações de rádio se recusaram a tocar música dos EUA em protesto.
Clinton já tinha pedido desculpas aos chineses antes, em 10 de maio, mas não conseguiu falar pessoalmente pelo telefone com Jiang. Clinton, inclusive, enviara uma carta ao presidente chinês em 13 de maio, com uma explicação para o acontecido acompanhado de pedido de desculpas, e assinara um livro oficial de condolências na presença do embaixador da China nos EUA, Li Zhaoxing, no salão oval da Casa Branca.
Nos bastidores, porém, Clinton e o então secretário-assistente para o Ásia e Pacífico, Stanley O. Roth, manifestavam-se desconcertados pela “inexplicável demora na disposição do presidente Jiang de atender a chamada telefônica”. Roth observou, diante da comissão de inquérito do Senado em 27 de maio, que a “China durante vários dias após o bombardeio supostamente acidental deixou de cumprir suas obrigações quanto à proteção e segurança do pessoal diplomático de Washington em território da China”.
As relações entre os dois países permaneceram tensas durante os quatro meses subsequentes, até que retomaram contatos visando unicamente a Organização Mundial do Comércio e o desejo manifesto da China de comparecer na reunião da entidade pela primeira vez.