O Alto Comissariado da ONU (Organização das Nações Unidas) para Direitos Humanos pediu, nesta quarta-feira (01/07), ao governo da Nigéria, que permita às mulheres sequestradas e posteriormente estupradas por integrantes do Boko Haram interromper a gravidez por meio do aborto seguro. No país, a prática só é permitida em caso de risco materno.
A entidade pediu também que a comunidade internacional ajude a sub-região da África Ocidental a reparar os danos causados pelo grupo jihadista, que atua em Camarões, Chade e Níger, além da Nigéria.
Agência Efe
Imagem mostra grupo de mulhere e crianças após libertação pelo Exército nigeriano em maio
O alto comissário da ONU, Zeid Ra'ad Al Hussein, contou que as mulheres foram “violadas e forçadas a contrair ‘matrimônio’” e acrescentou que “muitas sobreviventes estão grávidas e várias querem por um fim a esta gravidez indesejada”.
De acordo com a ONU, o grupo, que sequestrou mais de duas mil mulheres e meninas desde o início de 2014, as converteu, durante o cativeiro, em “escravas sexuais”. Para Zeid, impedi-las de abortar só aumenta o sofrimento pelo qual elas estão passando.
NULL
NULL
Assim, o alto comissionado pediu que o país africano adote uma interpretação mais ampla da lei de aborto “para incluir o risco de suicídio e os associados à saúde mental de mulheres e crianças” vítimas destas violações.
Cotidiano de violência
Em maio, as forças de segurança da Nigéria libertaram cerca de 200 mulheres que estavam em poder do Boko Haram, os relatos realizados por elas revelam uma realidade de maus tratos, estupros e até mesmo a obrigatoriedade de combater ao lado dos jihadista.
O relato da jovem A. A. de 23 anos, que passou seis meses sequestrada, sintetiza a situação a que foram submetidas essas mulheres e meninas: “Me transformaram em um objeto sexual. Faziam revezamento para se deitarem comigo. Agora estou grávida e não sei quem é o pai”.
Agência Efe
Grupo foi resgatado na região dos bosques de Sambisa
Já as 219 meninas sequestradas da escola de Chibok em abril de 2014 ainda não foram encontradas. Algumas delas conseguiram fugir, mas o grupo segue em paradeiro desconhecido. O caso ganhou repercussão internacional no último ano e foi responsável pelo aumento da visibilidade do grupo Boko Haram, cujo nome significa “religião ocidental é pecado” e atua na Nigéria desde 2009.
A violação de mulheres em contexto de guerra não é prática exclusiva dos jihadistas. Em artigo publicado em Opera Mundi, a jornalista e integrante do coletivo feminista Casa de Lua Marina Terra observou que “crimes sexuais contra mulheres e meninas são uma praga global. E se inserem não somente em contextos de guerra deflagrada tradicional, mas também de guerra não convencional. Em ambas, há o uso político da violação: a partir da conquista territorial do corpo feminino, se vence uma trincheira diferente. Além disso, a mensagem de domínio masculino é muito clara e significativa, como a expressada pelo Boko Haram no rapto de abril [das garotas de Chibok], mas como também em diversos outros casos de uso sistemático da violência sexual contra mulheres ao longo da história”.