Se não fosse a presença maciça da polícia e dos jornalistas que lotaram a praça Syntagma, em frente ao prédio do Parlamento grego, neste domingo (05/07) seria como um dia qualquer em Atenas. Turistas passeiam pelas ruas históricas da cidade, com vista para a Acrópole, enquanto atenienses aproveitam o fim da tarde bebericando café nas ruelas do centro, esperando pelo resultado oficial do referendo, previsto para ser divulgado nas próximas horas.
Ludmilla Balduino/Opera Mundi
Na praça Syntagma, em frente ao prédio do Parlamento grego, população aguarda pacificamente resultado do referendo
Cartazes pedindo votos tanto para o “sim” quanto para o “não” tomaram as ruas, calçadas, muros e postes do centro da cidade. Enquanto isso, eleitores compareceram aos seus colégios eleitorais e votaram pacificamente, sem incidentes.
Apesar da tranquilidade, o clima é de suspense e certa confusão ideológica por parte dos eleitores. Independente do resultado das urnas, o povo grego não sabe o que pode acontecer com o país nas próximas semanas.
Pantelis Apostolakis, por exemplo, sentou-se em um café no bairro de Psirri, centro de Atenas, vestindo uma camiseta que dizia “just say no”. Pode não parecer, mas ele votou no ‘sim’. E diz que a camiseta foi só uma coincidência: “nem tinha prestado atenção neste detalhe! Mas meu voto foi pelo ‘sim’. Voto para continuarmos na Zona do Euro. Se a gente voltar a usar o dracma (a moeda grega antiga), as coisas vão ficar difíceis. Temos de olhar para frente, nunca para trás”, explica, entre goles de café.
O clima era tão ameno que os amigos Marisa Constantinides e Ilias Theofanopoulos, adeptos do ‘não’, fizeram boca de urna com seus adesivos apoiando o voto em frente a uma escola no elegante bairro de Kolonaki – onde a maioria, segundo eles, votaram no sim -, e não ocorreram rusgas.
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Apesar da camiseta pedindo pelo 'não', Pantelis Apostolakis votou no 'sim'
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“Nós estamos confusos. Há amigos meus que votaram no ‘sim’. Eu votei no ‘não’. Mas todos queremos a mesma coisa para o nosso país. Queremos que ele saia da crise econômica. Não vai ser esse referendo, que a gente ainda não entende direito para que servirá, que vai dividir o povo grego ao meio”, diz Ilias.
“As pessoas chegam aqui vestidas com suas roupas Ralph Lauren, prontas para votar no ‘sim’, mas é como se vestir bem para um marido que, apesar de estarem casados há 20 anos, ele te abusa. Como pode um país sofrer tanto abuso e continuar querendo mais? Vai ser um divórcio conturbado, mas precisamos dar um basta nos abusos que a comunidade europeia vem fazendo com o nosso povo”, acrescentou Marisa.
George Gerassimidis, que ouvia a conversa, manifestou-se – pacificamente – a favor do ‘sim’ e explicou seu ponto: “eu votei nestes políticos que estão no poder hoje, mas eles não ligam para o povo grego. Muito menos os bancos. Se a gente sair da zona do euro, o dracma vai retornar muito desvalorizado. Os ricos ficarão mais ricos, os pobres, mais pobres, e não haverá mais classe média. Será o caos”.
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Vendedor de milho aproveita o movimento na praça Syntagma para ganhar trocados e mostra cartaz em frente ao Parlamento grego pedindo votos para o 'não'