Um ex-analista do banco norte-americano Goldman Sachs enviou uma carta ao governo grego explicando os argumentos legais que Atenas pode adotar para um eventual processo jurídico contra o banco. De acordo com informações publicadas neste sábado (11/07) pelo diário britânico The Independent, a Grécia pode processar o Goldman Sachs por seu papel nos acordos financeiros firmados entre as duas partes em 2001 e 2002, apontado por muitos como um dos precursores da crise de endividamento que afeta o país heleno hoje.
Segundo o jornal, o ex-banqueiro Jaber George Jabbour, que hoje atua como consultor de finanças de países com alto nível de endividamento, escreveu ao governo grego para avisá-lo de que existe a possibilidade de reaver parte do dinheiro, “corrigindo erros históricos cometidos como parte do plano para reduzir a dívida grega”.
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Banco de investimentos norte-americano negociou 'swaps' com os gregos em 2001-2002
Especula-se que, à época, o Goldman Sachs tenha lucrado cerca de US$ 500 milhões nas transações com o governo grego conhecidas como 'swaps' — o banco nega o valor, mas não informa o valor que considera preciso.
Após a Grécia ter formalmente ingressado na zona do euro, em 2001, passou a seguir algumas regras impostas pelo bloco na condução de sua economia — especialmente sobre endividamento público, acima da média dos demais países europeus. É nesse contexto que se inserem os 'swaps' feitos com o Goldman Sachs, quando títulos de dívida pública emitidos em dólar e iene, sob a posse da Grécia, foram transferidos ao banco norte-americano em troca de títulos datados em euro, que deveriam ser reconvertidos às suas moedas originais após uma certa data.
Afirma-se que os 'swaps' fizeram com que cerca de 2% da dívida grega desaparecesse dos balanços nacionais, dando às demais instituições financeiras uma impressão de estabilidade que não correspondia à realidade.
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Pelo volume da transação, o Goldman Sachs viu-se no direito de cobrar uma taxa maior se comparada à comissão normalmente pedida em outros 'swaps'. A banqueira Antigone Loudiadis, que dirigia o setor do banco responsável pela negociação com os gregos, teria recebido US$ 12 milhões de comissão no ano em que o negócio foi fechado.
Esse tipo de mecanismo financeiro era muito usado por diversos países com economias combalidas, sobretudo os que desejavam forçar um ajuste nas contas para tentar o ingresso na Eurozona. Por meio dos derivativos, os 'swaps' eram uma maneira legal de burlar as rígidas regras do Tratado de Maastricht — só em 2008, a Eurostat, agência de estatísticas econômicas da UE, flagrou a transação nas contas gregas.
Assessor de endividados
O ex-banqueiro Jabbour já atuou em outras contendas envolvendo governos nacionais e grandes credores. O consultor já assessorou Portugal na renegociação de contratos firmados com bancos londrinos durante a crise que rendeu aos confres públicos lusitanos compensações. Jabbour também já acusou a Société Générale e o próprio Goldman Sachs de transações semelhantes com a Líbia.
Ele afirma que, com base em informações públicas, é possível dizer que o lucro do Goldman Sachs na transação foi irreal. Por isso, após análises mais detalhadas de documentos e trocas de emails, será possível consolidar o argumento grego e buscar a compensação das perdas.
O Goldman Sachs afirma que suas transações estavam de acordo com as normas da Eurostat. Segundo especialistas, para que a Grécia vá em frente com uma ação jurídica, será necessário provar que o banco norte-americano ou mentiu, dizendo algo aos gregos que sabia não ser correto, ou não se preocupou em atestar a veracidade do que informava aos gregos.