Milhares de pessoas se reuniram em um remoto vale do sul do Líbano para celebrar o aniversário de nove anos do final guerra que, entre julho e agosto de 2006, opôs a organização xiita Hezbollah e o Exército de Israel.
O evento desta sexta-feira (14/08) comemorou o que o Hezbollah chama de sua “vitória divina” contra Israel no confronto, e contou com uma aparição ao vivo, realizada a partir de um telão, de Sayyed Hassan Nasrallah, o principal líder do grupo armado libanês.
“Israel será derrotada se quiser nos invadir novamente”, afirmou Nasrallah, em tom de desafio. “Nós vamos destruir qualquer tanque israelense que tentar se infiltrar no Líbano”, dizendo que o desfecho do conflito de 2006 também mudou o equilíbrio de poder na região do Oriente Médio.
Fotos Marcelo Vincenti/Opera Mundi
O discurso foi acompanhado atentamente por pelo menos 5.000 pessoas que se aglomeraram no vale conhecido como Wadi al-Hujeir, um local que foi palco de sangrentos combates entre o Hezbollah e o Exército israelense em 2006. O grupo xiita afirma ter destruído 54 tanques israelenses na área durante o conflito.
Durante a fala de Nasrallah, pelo menos cem soldados do Hezbollah, em uniformes camuflados, apareceram sobre as colinas que cercam Wadi al-Hujeir e fincaram nos cumes a bandeira da organização, estampada com um rifle AK-47.
Crianças vestidas com uniforme militar e clérigos xiitas aplaudiram a demarcação territorial feita pelos combatentes, em uma área que fica a menos de 20 km da fronteira israelense. Fotos de aiatolás do Irã (país que financia o Hezbollah) e pôsteres com imagens de soldados israelenses chorando a morte de seus companheiros também fizeram parte do cenário do evento.
Nasrallah ainda saudou “aqueles que ofereceram suas vidas e entregaram até a última gota de seu sangue” nas batalhas contra Israel. A frase foi seguida por um coro de exultação de diversas mães que seguravam fotos de filhos “mártires” no meio da plateia.
Alguns desses “mártires”, porém, não remontam ao conflito contra Israel. Membros do Hezbollah têm morrido na guerra da organização contra grupos insurgentes na Síria (o Hezbollah faz parte das forças de defesa do regime de Bashar al-Assad).
Veja a galeria de imagens do evento no Líbano (Fotos: Marcel Vincenti/Opera Mundi):
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Nasrallah acusou os Estados Unidos de patrocinarem o Estado Islâmico. “Os Estados Unidos estão financiando o Daesh [acrônimo usado por muitos árabes para se referir ao EI] para fragmentar nossa região”, disse ele.
O discurso do líder do Hezbollah foi realizado a partir de um local secreto no Líbano. Suas aparições públicas de corpo presente são extremamente raras, dado o perigo de ele ser assassinado por um dos muitos inimigos da sua organização.
Conflito no Líbano
O conflito de 2006 começou quando, no dia 12 de julho daquele ano, membros do Hezbollah atacaram uma patrulha israelense na fronteira com o Líbano e sequestraram dois soldados israelenses.
O Hezbollah usou os soldados abduzidos para exigir a libertação de libaneses que se encontravam detidos em Israel. A resposta israelense foi um contra-ataque aéreo e por terra que, durante 33 dias, causaria de morte de pelo menos 1.200 de pessoas dentro do Líbano (a maioria civis) e, do lado israelense, 119 soldados e 45 civis — Hezbollah lançou, durante todo o confronto, mais de 4.000 mísseis para dentro de Israel (mais de 100 por dia).
O conflito terminou em 14 de agosto de 2006, depois de o Conselho de Segurança na Organização das Nações Unidas aprovar a resolução 1701, que estabeleceu um cessar-fogo entre os dois lados beligerantes.
Uma das exigências da ONU era de que o Hezbollah se desarmasse. Porém, calcula-se que, hoje, o “Partido de Deus” seja dono de aproxidamente 50 mil mísseis de médio e longo alcance, além de exercer grande controle sobre o sul do Líbano — habitado por uma maioria xiita.
Em 2008, o grupo conseguiu trocar os dois soldados israelenses (já mortos) por presos libaneses que estavam em Israel.