Apesar de todos os problemas apresentados no dia 9 de agosto para a escolha dos representantes no parlamento e que podem se repetir nas eleições presidenciais do dia 25 de outubro, para o embaixador do Brasil no Haiti, Fernando Vidal, o processo ora em andamento no Haiti deve ser encarado como algo positivo. “É um povo que discute o futuro de seu país e que, apesar da violência e dos inúmeros agrupamentos políticos, pode servir como exemplo, levando-se em conta que as eleições não são obrigatórias”, disse.
Wlademir Barreto/Agência Senado
Vidal, em foto de 2014, ao lado do então senador Eduardo Suplicy (PT): eleições no Haiti têm balanço positivo
Segundo Vidal, a polícia nacional do Haiti conseguiu manter “a segurança com tranquilidade”, apesar de ter sido necessário o uso de gás lacrimogêneo para contar alguns atos de violência. Houve, também, registros de homens armados tentando destruir urnas em alguns dos 7.000 locais de votação espalhados pelo país. Para o embaixador brasileiro, a abstenção de 82% do eleitorado deve ser creditada ao fato de o voto não ser obrigatório e às dificuldades de locomoção. Nos processos eleitorais no Haiti, é proibida a circulação de veículos e alguns camponeses têm que caminhar até três horas nas montanhas para chegar ao local de votação.
O maior índice de abstenção ocorreu na capital, Porto Príncipe, onde apenas 10% do eleitorado compareceu. “Eu cheguei naquele domingo e as ruas estavam desertas, apenas alguns pedestres dirigiam-se para os locais de votação”, afirmou Vidal.
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Wálmaro Paz/Opera Mundi
Campanha eleitoral está presente nas ruas da capital Porto Príncipe
Ele reconhece que um grande número de partidos haitianos considera o atual processo uma farsa, um estelionato eleitoral. Vidal credita essas posições à falta de punição aos culpados pelas ações violentas. Embora alguns partidos tenham sido punidos com o afastamento do processo eleitoral, o Poder Judiciário não decretou nenhuma prisão dos responsáveis pela destruição de urnas e pelas ameaças aos eleitores.
Votação complicada
É difícil para um eleitor brasileiro, já acostumado com o processo eletrônico de votação, entender o pleito haitiano. As enormes cédulas, do tamanho de uma página de jornal, no caso da eleição presidencial, contêm as fotos, os nomes, os números, os partidos e as “plataformas” (coligações) dos 54 candidatos presidenciais que disputam o pleito.
Nas comunidades, vota-se pelo menos cinco vezes: para presidente, no segundo turno do Senado, no segundo turno para deputado distrital, para prefeito e para conselheiro (vereadores), cada uma em uma urna particular.
Wálmaro Paz/Opera Mundi
Eleições no Haiti contam com 54 candidatos à Presidência da República
Nos 7.000 locais de votação, espalhados pelos dez departamentos que dividem o país, cada um dos 128 partidos ou plataformas deverá delegar dois fiscais: um para fora, e, outro, para dentro da votação. Todo este pessoal, além dos mesários, estarão trabalhando no próximo dia 25 de outubro.
Além da policia do país, as forças da Minustah deverão garantir o processo que estará sendo acompanhado de perto por cerca de cem observadores da Organização dos Estados Americanos e da União Europeia.