Em seu terceiro dia nos Estados Unidos, Francisco realizou na manhã desta quinta-feira (24/09) o primeiro discurso de um papa na história do Congresso norte-americano. Durante quase uma hora, o líder da Igreja Católica falou sobre temas sensíveis à política do país, pedindo o fim da pena de morte e de comércio de armas.
“Toda a vida é sagrada”, declarou o pontífice argentino a uma plateia composta por parlamentares e altos funcionários do Executivo, incluindo o vice-presidente, Joe Biden. “Uma punição necessária e justa nunca deve excluir a possibilidade de reabilitação”, argumentou.
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Papa em discurso; atrás, vice-presidente Joe Biden (esq) e o presidente da Câmara, o republicano John Boehn
Segundo o papa, para minimizar os conflitos armados ao redor do mundo, é necessário acabar ao comércio de armas. “Por que armas letais são vendidas aos que plantam tanto sofrimento?, questionou.
Suas palavras foram recebidas com menos aplausos na sede do Legislativo do país, controlado por uma maioria republicana. Nos EUA, o comércio de armas é permitido e apoiado por grande parcela da população. Além disso, 31 de 50 estados norte-americanos legalizam a pena capital e, neste ano, ao menos 20 detentos já foram executados nas prisões do país.
Conflitos e crise de refugiados
Durante seu discurso, o papa manifestou sua preocupação pelas novas crises geopolíticas, econômicas e de refugiados, recordando que “nenhuma religião está imune a extremismos ideológicos”.
Expressando preocupação pelos conflitos mundiais, o pontífice destacou que o mundo “está diante de uma crise de refugiados de uma magnitude nunca vista desde a 2ª Guerra Mundial”. e que não se deve agora “repetir os erros do passado”.
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Papa em Washington alerta para temas sensíveis da política norte-americana
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“Devemos olhar para essas pessoas [refugiados], seus rostos, escutar suas histórias, enquanto lutamos para dar a melhor resposta que nós conseguirmos para a situação deles”, afirmou. “Devemos tratar os outros com a mesma compaixão com que gostaríamos de ser tratados”, comparou.
Relações EUA-Cuba
A viagem de papa aos EUA ocorre após uma visita de três dias em Cuba. Lá, o pontífice foi recebido pelo presidente, Raúl Castro, se encontrou com o líder cubano Fidel Castro e realizou duas missas – uma na capital, Havana, e outra na cidade de Holguín.
Tido como fundamental no processo de reaproximação entre as duas nações, anunciada em 17 de dezembro, o pontífice declarou nesta quinta-feira que “gostaria de reconhecer esforços recentes para superar diferenças históricas ligadas a episódios dolorosos do passado”.
Sem mencionar Cuba diretamente, Francisco ainda disse que, “quando países que estavam em conflito retomam o caminho do diálogo, são abertos novos horizontes para todos”.
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Pontífice se encontrou com o presidente dos EUA, Barack Obama, na manhã de quarta-feira na Casa Branca
Ecologia
Um dos tópicos discutidos também foi sustentabilidade e meio ambiente. O líder católico ressaltou a sua encíclica, “Laudato Si” (“Louvado Seja”), lançada em maio deste ano, na qual pediu uma resposta corajosa à questão da mudança climática.
“Precisamos de uma conversa sobre o meio ambiente que inclua todos porque todos somos afetados”, declarou. “Agora é o tempo de ações corajosas para combater a pobreza e proteger a natureza. Podemos colocar tecnologia a serviço do humano”,
sugeriu.
Além disso, ele classificou como “importante” o papel que o Congresso pode ter para evitar efeitos mais severos da deteriorização do ambiente, causada pela atividade dos homens. “Estou convencido de que podemos fazer diferença”, afirmou.
Agenda
Procedente de Cuba, Francisco aterrissou na noite de terça-feira (22/09) em solo norte-americano, onde foi recebido por toda a família Obama.
Ontem, ele teve encontro com o presidente dos EUA, Barack Obama, nos jardins da Casa Branca. Depois, o papa se reuniu com bispos norte-americanos e, à tarde, conduziu a missa de canonização do padre Junípero Serra.
Após o discurso no Congresso, o líder católico partirá para Nova York, onde participará da Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas). Ele fechará sua visita de seis dias no país na Filadélfia, por ocasião da Festa das Famílias.
Carlos Latuff/ Opera Mundi