Após encontro com a comitiva do dirigente do PS (Partido Socialista), António Costa, a líder do BE (Bloco de Esquerda), Catarina Martins, afirmou nesta segunda-feira (12/10) que está “à disposição” de Costa para viabilizar um governo de esquerda no Parlamento de Portugal.
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Catarina Martins é líder do BE, que se consolidou como terceira força parlamentar após pleito do dia 4 de outubro
A declaração vem em meio ao impasse para formação de governo por parte da coalizão governista de direita Pàf (Portugal à Frente) – composta pelo Partido Social Democrata (PSD), do premiê interino Pedro Passos Coelho e o Partido Popular (CDS-PP), liderado por Paulo Portas. A aliança esteve à frente nas eleições do dia 4, com quase 37% dos votos, mas não obteve maioria no parlamento.
“No que ao Bloco diz respeito, ficou hoje claro que o Governo de Passos Coelho e Paulo Portas acabou”, sintetizou Martins, segundo o jornal português Expresso.
“Temos hoje as condições para termos um governo e um orçamento dentro da Constituição da República portuguesa, depois de quatro anos de uma direita que não soube nunca respeitar a lei fundamental do país”, acrescentou.
Por sua vez, António Costa disse nesta segunda que o debate com o BE foi “muito interessante” e acrescentou que pretender ter uma “posição consolidada” a respeito de um acordo formal com os bloquistas até o próximo fim de semana. Segundo o líder do PS, “é prematuro” falar em um governo à esquerda, reportou o Observador.
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Costa (no primeiro plano) tem se reunido com diversas personalidades políticas nos últimos dias
Durante a reunião de mais de duas horas, as duas legendas concordaram nas condições básicas para estabilidade orçamental e recuperação econômica do país, bem como para a defesa do Estado social e pelo rompimento de políticas de austeridade, enumerou Martins, acrescentando que há, sim “outra solução de governo” em Portugal.
As palavras da líder bloquista ocorrem em paralelo às conversas entre Costa e Passos Coelho, que há dias buscam consenso para formação de governo. No fim da última semana, o dirigente do PS afirmou que o último encontro com o premiê interino foi “inconclusivo”. Há uma nova reunião prevista entre os dois para esta terça (13/10).
Desde o resultado das eleições de domingo (04/10), Passos Coelho tenta, como “primeira opção”, o apoio do PS para formar um novo governo de centro-direita. Segundo o conservador, a legenda de Costa é a única que também defende sem fissuras “a filiação de Portugal à UE e à zona do euro, assim como o respeito pelas regras comunitárias de política econômica e monetária”.
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Eleição legislativa
Neste último pleito que teve recorde de abstenção, o PS obteve 32,4% dos votos e adquiriu 85 vagas dos 230 assentos do Parlamento de Portugal. A coalizão PàF, por sua vez, conquistou 104 cadeiras.
Já o Bloco de Esquerda se consolidou como a terceira força parlamentar no país europeu, com 10,2% dos votos e 19 assentos no Legislativo, seguido da Coligação Democrática Unitária (CDU) — aliança entre os partidos Comunista (PCP) e Ecologista — que contabilizou 8,3% dos votos e 17 cadeiras.
No poder desde 2001, a aliança conservadora precisará do apoio de outras forças para poder aprovar leis no Legislativo, entre elas, o Orçamento Geral do Estado para 2016, que será o primeiro grande teste do novo governo, ainda incerto.
Panorama
Desde que assumiu o cargo há quatro anos, Passos Coelho elevou os impostos e cortou gastos como pensões, salários e investimentos em saúde e educação. Durante seu mandato, o premiê enfrentou protestos e baixa popularidade.
Recentemente, a economia do país mostrou alguns sinais de recuperação: o desemprego está no nível mais baixo (12,4%) desde o início de 2011 e o PIB do segundo trimestre cresceu 1,5% em relação ao mesmo período do ano passado.
Atualmente, a dívida pública portuguesa corresponde a 130% do PIB (Produto Interno Bruto) do país, em contraste com 111% há quatro anos.