Com o uso de uma retroescavadeira, a polícia francesa destruiu nesta segunda-feira (18/01) cerca de um terço do acampamento de refugiados conhecido como “Jungle” (“selva”, em inglês), em Calais, no norte da França. As autoridades destruíram uma área onde viviam aproximadamente 1.500 do total de 5.000 habitantes da Jungle.
Reprodução/Twitter Calais Solidarity
A polícia francesa chegou ao acampamento por volta do horário do amanhecer
Durante os últimos dias, os refugiados, com ajuda de voluntários, moveram as barracas e pertences para o local onde a polícia não iria interferir. Na madrugada, cerca de 40 policiais com escudos e capacetes fecharam a estrada de acesso ao acampamento e, então, começaram a agir. Refugiados e voluntários denunciaram o uso de gás lacrimogênio pelos policiais.
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“Nós não mudamos de ideia. Não podemos parar o governo. Nós não queríamos nos mudar por conta das mulheres e crianças, mas tivemos que fazer isso. Existem muitas mulheres e crianças nessa comunidade. Em um dia, não poderíamos achar casa para 1.600 pessoas. As crianças poderiam morrer de frio sem uma casa”, disse ao jornal britânico The Guardian uma das lideranças comunitárias, o afegão Sikander Noristany.
“As pessoas ouviram falar sobre o despejo e vieram da Grã-Bretanha com caminhões e trailers para mover as casas”, disse o voluntário britânico Ben Harrison à emissora alemã Deutsche Welle. “Sem a ajuda dos voluntários, a polícia teria de usar gás lacrimogênio para tirar as pessoas de suas casas. Não me senti bem por movê-los assim, mas nós evitamos uma possível violência ao fazer isso”.
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A destruição de parte do acampamento visa criar uma distância de 100 metros entre o limite da Jungle e uma estrada próxima. Inicialmente programada para a última quinta-feira (14/01), a ação da polícia foi adiada para esta segunda-feira. Na semana passada, os refugiados disseram que iriam resistir pacificamente à ação da polícia.
EFE
Refugiados e voluntários trabalharam nos últimos dias para mover as casas e pertences no acampamento
O governo do presidente francês, François Hollande, deseja que os refugiados saiam da Jungle e passem a morar em uma instalação construída pelo governo nas proximidades do acampamento, onde eles viveriam em contêineres. No entanto, a maior parte dos refugiados se opõe à essa medida por achar que a instalação se assemelha a um presídio e não tem áreas de convivência.
“Nos contêineres existem apenas camas para 12 pessoas como animais, como se estivesse numa prisão. Nenhum local pra se lavar, nenhum sistema de alimentação. Eles tiram suas digitais. Eles querem acabar com a Jungle”, afirmou Noristany.
EFE
A prefeita de Calais, Fabienne Buccio, disse que a intenção do governo na realocação é que não haja “mais migrantes dormindo na rua”
Outro motivo que leva os refugiados a rejeitarem a ação do governo é a desconfiança que, ao aceitarem, serão forçados a pedir asilo na França. Em sua maioria, os refugiados da Jungle desejam atravessar o Eurotúnel, localizado em Calais, para chegar ao Reino Unido.
“Não estamos aqui para permanecer na França, nós queremos ir ao Reino Unido”, disse Abdul Mumam, refugiado sudanês. “Prefiro ficar [na Jungle], porque [senão] a polícia vai tirar minhas digitais e vão me fazer pedir asilo na França”. Até o momento cerca de 300 pessoas passaram a morar na instalação construída pelo governo, de acordo com a organização que administra o local.