Atualizada às 18h56
O presidente de Cuba, Raúl Castro, declarou nesta segunda-feira (21/03) em Havana que as medidas adotadas pelo governo dos EUA no processo de reaproximação entre os dois países “são positivas, mas insuficientes”. Raúl e o presidente norte-americano, Barack Obama, fizeram um pronunciamento conjunto neste primeiro dia de agenda oficial de Obama em sua visita à ilha, iniciada no domingo.
“Muito mais poderia ser feito se o bloqueio dos EUA fosse revogado. Nós reconhecemos a posição do presidente Obama e seu governo contra o bloqueio, e seus seguidos apelos ao Congresso para removê-lo. As medidas mais razoáveis adotadas por seu governo são positivas, mas insuficientes”, disse o presidente cubano.
EFE
Raúl Castro disse esperar que se construa “um novo tipo de relacionamento” entre Cuba e Estados Unidos
“Existem diferenças profundas entre nossos países que não irão deixar de existir, já que temos ideias diferentes em vários assuntos, como sistemas políticos, democracia, o exercício de direitos humanos, justiça social, relações internacionais e paz mundial e estabilidade”, declarou Raúl Castro, acrescentando que Cuba defende os direitos humanos, um ponto que é alvo de críticas de Washington, que afirma que Havana viola os direitos humanos. “Acreditamos que os direitos civis, políticos, econômicos e culturais são indivisíveis e interdependentes”, disse.
“Na verdade, achamos inconcebível que um governo não assegure os direitos à saúde, educação, seguridade social, alimentação, desenvolvimento, pagamento igualitário e direitos das crianças”, disse Raúl. “Somos contrários à manipulação política e a padrões duplos na abordagem de direitos civis”, afirmou o presidente cubano, que pediu a devolução a Cuba do “território ilegalmente ocupado” pela base militar norte-americana de Guantánamo.
Raúl Castro afirmou que espera “um novo tipo de relacionamento, um que nunca existiu antes” entre os dois países. “Destruir uma ponte pode ser de fácil e rápida execução. Sua sólida reconstrução pode ser um longo e difícil esforço”.
O presidente cubano encerrou seu discurso mencionando a nadadora norte-americana Diana Nyad, que em 2013 e aos 64 anos, após diversas tentativas, conseguiu se tornar a primeira pessoa a nadar de Cuba à Flórida, em um trajeto de cerca de 180 km, sem a ajuda de uma jaula para se proteger de tubarões. “Se ela conseguiu, nós também podemos conseguir”, afirmou Raúl.
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No início do seu pronunciamento, Obama, que falou após o presidente cubano, alertou que faria um discurso longo. “Temos meio século de trabalhos para colocar em dia”, disse.
“Nosso crescente compromisso com Cuba é guiado por um objetivo abrangente: avançar nos interesses do nosso continente”, declarou Obama, afirmando que os Estados Unidos não têm interesse em ditar o futuro da ilha. “Cuba é soberana e, com razão, tem muito orgulho. O futuro de Cuba será decidido pelos cubanos e não por ninguém mais”.
EFE
Mais cedo, Raúl Castro recebeu Obama no Palácio da Revolução, sede do governo; presidentes fizeram discurso na tarde desta segunda
Obama agradeceu as considerações de Raúl Castro sobre o acesso a direitos básicos nos EUA. “Nós damos as boas-vindas ao diálogo construtivo, porque acreditamos que podemos aprender e tornar a vida dos nossos povos melhor”, disse. “Estou muito satisfeito que concordamos em realizar o nosso próximo diálogo entre Cuba e EUA sobre direitos humanos em Cuba”.
“No século 21 os países não podem ser bem-sucedidos a não ser que seus cidadãos tenham acesso à internet”, disse Obama ao pontuar que os EUA “desejam ajudar” a expandir a internet na ilha.
“Nós estamos seguindo em frente e não olhando para trás. Não vemos Cuba como uma ameaça aos EUA”, afirmou. “Estou absolutamente seguro de que, se continuarmos nesse caminho, podemos atingir um futuro melhor e mais brilhante para os povos cubano e norte-americano. Muchas gracias”, encerrou o presidente dos EUA.
O processo de reaproximação diplomática e econômica entre Havana e Washington já dura 15 meses e resultou na reabertura das embaixadas nos dois países em julho de 2015 e em uma série de acordos firmados, como o que restabeleceu voos comerciais e um serviço postal direto. A viagem de Obama a Cuba, a primeira de um presidente norte-americano em 88 anos, foi anunciada no mês passado.
Por se tratar de uma lei, o bloqueio econômico imposto pelos EUA a Cuba só pode ser alterado ou removido com a aprovação do Congresso norte-americano, cuja maioria republicana se opõe à medida.
Veja íntegra dos discursos e da entrevista coletiva: