Atualizada às 13:36
A especialista brasileira Débora Diniz critica “a inação” dos governos latino-americanos perante o vírus zika porque a luta contra a epidemia necessita falar sobre os direitos das mulheres, concretamente o do aborto.
“Há uma conexão muito importante entre o [vírus] zika e os direitos das mulheres e das crianças com incapacidade. Mas nossa região não respeita nem as mulheres e nem os incapacitados”, afirma em entrevista à Agência Efe Débora, co-fundadora do Instituto de Bioética Anis, que participou da conferência internacional Women Deliver realizada em Copenhague.
WikiCommons/Senado Federal
Ativista Débora Diniz afirma que existe conexão importante entre o vírus zika e os direitos das mulheres e crianças com incapacidade
Este Instituto apresentou recentemente perante o STF (Superior Tribunal Federal) um pedido para que se autorize o aborto caso uma mãe contraia zika, já que cada vez há mais evidências que indicam uma relação de causa entre o vírus e os casos de microcefalia.
“É uma tragédia humanitária onde as vítimas são as mulheres. Precisamente por isso, as autoridades não estão fazendo nada, porque é um tema [que afeta] são as mulheres”, denuncia Débora.
“Falar de zika implica falar sobre os direitos das mulheres, de planejamento familiar e aborto. E sobre isso não querem falar”, lamenta.
O medo perante a microcefalia reabriu o debate do aborto nesta região, uma das que mais o criminaliza no mundo todo, onde “há uma ameaça imediata de que a clandestinidade do aborto cresça”, alerta Débora.
Desde que o Brasil anunciou no ano passado que tinha detectado um surto de zika, quase 60 países detectaram a doença entre sua população, que é assintomática em 85% dos casos.
No entanto, foi detectado um aumento exponencial de casos de microcefalia em bebês cujas mães tinham se infectado com o vírus e da Síndrome de Guillain-Barre (disfunção neurológica).
“A resposta da região foi terrível, exceto na Colômbia, onde o ministro da Saúde anunciou que o aborto em caso de zika estava protegido pelo Suprema Corte”, explica Diniz.
Em alguns países da região, a lei só acolhe a possibilidade de abortar caso a vida da mãe corra perigo, enquanto no Chile, El Salvador, Haiti, Honduras, Nicarágua, República Dominicana e Suriname nem sequer nesse caso.
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Por isso, as mulheres grávidas vivem “com pânico” perante a falta de informação e o risco do vírus, por isso que reivindicam o direito ao aborto especialmente no Brasil, o país mais afetado pela epidemia.
Agência Efe
Segundo Débora Diniz, mulheres grávidas vivem “com pânico” perante falta de informação e o risco do vírus zika
Embora as mulheres com recursos se desloquem a outros países para poder abortar, explica Débora, a grande maioria não tem recursos para fazer, por isso que são obrigadas a recorrer a abortos clandestinos em condições de risco.
Enquanto as autoridades não querem falar abertamente do assunto, o papa Francisco mencionou a possibilidade de usar métodos anticoncepcionais perante o risco de zika.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) também advertiu do risco que surja um surto de zika no final de primavera ou verão na Europa e África, onde surgiu pela primeira vez em 1947.
“Me espanta que a epidemia possa voltar à África, onde os sistemas de saúde são muito frágeis. As consequências podem ser inimagináveis”, advertiu Débora.