“A plateia lotava a casa que poderia ter vendido mais do que o dobro de sua lotação” escreveu o crítico musical do The New York Times, Olin Downes, sobre o concerto que tivera lugar na noite anterior, de 12 de fevereiro de 1924, no Aeolian Hall, Nova York. Anunciado como um evento educacional, o concerto Experiência com Música Moderna foi organizado por Paul Whiteman, o imensamente popular líder da Orquestra Palais Royal Orchestra, para demonstrar que a relativamente nova forma de música chamada jazz merecia ser vista como uma forma de arte séria e sofisticada.
O programa apresentava segmentos didáticos com a intenção de exibir algo em favor da tese, segmentos com títulos como Contraste: Orquestração Normal versus Orquestração Jazzística. Após 24 dessas demonstrações, a plateia se mostrava bastante inquieta. Foi quando um jovem chamado George Gershwin, conhecido então apenas como compositor de canções para a Broadway, sentou-se ao piano para acompanhar a orquestra na apresentação de uma peça completamente nova de sua própria autoria, denominada Rhapsody In Blue.
Na assistência estavam os violinistas Jascha Heifetz e Fritz Kreisler, o regente Leopold Stokowski, os compositores Serge Rachmaninov e Igor Stravinsky. Foi um estrondoso êxito. Gershwin deu sequência a este sucesso com o seu trabalho orquestral Concerto para Piano em Fá maior, Rapsódia nº 2 e Um Americano em Paris. Críticos de música erudita com frequência se mostravam perdidos onde localizar a música clássica de Gershwin no repertório tradicional. Alguns classificavam seu trabalho como banal e fastidioso, mas entre o público em geral sempre encontrou generosa acolhida.
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“Começa com uma cadência de clarineta, inaudita e extravagante,” escreveu Downes a respeito do agora famoso glissando de duas oitavas e meia que faz da Rhapsody in Blue tão instantaneamente reconhecível quanto a 5ª Sinfonia de Beethoven. “Contém frases musicais secundárias, logicamente originando-se da linha central… amiúde metamorfoseada por artifícios rítmicos e de instrumentação.”
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Programa apresentava segmentos didáticos com a intenção de exibir algo em favor da tese
O crítico musical do The New York Times estava de acordo com a premissa básica de Whiteman: “Não é uma mera sequência de melodias dançantes para piano e outros instrumentos”, opinava. “Esta composição demonstra um extraordinário talento, do mesmo modo que apresenta um jovem compositor com propósitos que vão muito além daqueles de sua gente”.
É bem provável que Gershwin tenha sempre alimentado a esperança de transcender a categoria de músico popular, mas a peça que utilizou para levar a cabo esta proeza foi composta muito apressadamente. Exatas cinco semanas antes do concerto Experiência com Música Moderna, Gershwin não se havia decido a compor uma peça para o evento, quando seu irmão Ira leu uma reportagem no New York Tribune afirmando que George estava “trabalhando num concerto de jazz” para o programa.
Metido num beco sem saída, Gershwin montou a Rhapsody In Blue da melhor maneira no tempo disponível, deixando a parte de piano para ser improvisada durante a estreia. A Rapsódia passaria ser considerada uma das mais importantes obras musicais norte-americanas do século 20. Abriria também as portas de toda uma geração de compositores “sérios” – de Aaron Copland a George Brecht – que incluíram elementos de jazz em suas importantes obras.
Em 1937, após muitos sucessos na Broadway, os irmãos George e Ira decidiram ir para Hollywood. De novo juntou-se a Fred Astaire, que naquela altura fazia par com Ginger Rogers. Rodaram o musical Vamos Dançar?, que incluiu canções de sucesso como Let’s Call the Whole Thing Off e They Can’t Take That Away From Me. Depois veio Cativa e Cativante, na qual Astaire contracena com Joan Fontaine.
Depois de cair doente enquanto trabalhava na trilha musical de um filme, planejou retornar a Nova York para compor música erudita. Planejou um quarteto para cordas, um bale e outra opera, no entanto nunca pôde escrevê-las.
Aos 38 anos, morreu de um tumor cerebral. Gershwin permanece até os nossos dias como um dos mais queridos e populares músicos dos Estados Unidos e do mundo inteiro.
Outros fatos marcantes da data:
12/02/1049 – É eleito o Papa Leão IX
12/02/1804: Morre o filósofo alemão Immanuel Kant
12/02/1909: Fundada a primeira entidade de combate ao racismo nos EUA