A crise que atualmente atinge a Europa e, em geral, o grupo de antigos detentores da melhor qualidade de vida do globo, pode nos levar a pensar que a coisa vai bem por aqui, na América Latina. Essa impressão – sustentada na comparação de alguns índices econômicos e taxas de crescimento locais com o desalento europeu – é estimulada, antes de tudo, pelos governos latino-americanos, que têm se apressado em lançar campanhas publicitárias carregadas de nacionalismo, direcionadas principalmente aos turistas e cidadãos em busca de novos ares e que podem se animar a gastar em viagens.
Um caso emblemático é o da Colômbia. Até pouco tempo, o país habitava um lugar periférico no imaginário coletivo, envolvido por uma imagem assustadora de país do narcotráfico, do sequestro e das mortes aos montes. O ex-presidente Álvaro Uribe, para mudar o jogo, primeiro tratou de controlar as estradas, restringindo a circulação das chamadas forças insurgentes e devolvendo aos colombianos o direito de ir e vir. Logo, ele se apressou em dar as boas novas, lançando campanhas para contar ao mundo que a Colômbia não é mais aquele lugar perigoso de antes. Funcionou.
“O perigo é você querer ficar” foi lançada em 2008 com o objetivo de apresentar a Colômbia como uma alternativa de férias principalmente para turistas internacionais, já que está calcada em nove depoimentos de estrangeiros que visitaram solo colombiano e lá decidiram ficar. O de Bogotá, por sinal, é de uma paulistana que fala da sua surpresa ao descobrir uma cidade “arrumadinha”. “Dali surgiu a ideia de colocar o aspecto positivo da possível visão negativa que se pode ter do país pelo mundo”, explica o site Colombia Travel, onde os vídeos regionais da campanha estão disponíveis.
Já no Peru, onde o panorama tem mudado mais lentamente, o governo preferiu começar com uma campanha de autoconfiança, voltada antes aos peruanos. Foi lançado o simpático vídeo “Peru – Nebraska”, em que um ônibus de peruanos ilustres desembarca numa cidadezinha chamada Peru, perdida no meio do estado de Nebraska, onde as pessoas, apesar de viverem em um lugar com esse nome, não sabem exatamente o que é ser peruano. Sendo assim, os tripulantes do Peru original – do badalado chef Gastón Acurio à atriz Magaly Solier, de “A teta assustada” – convidam os locais para experimentar gastronomia, música e curiosidades autenticamente peruanas, sempre de maneira amável e envolvente.
No Brasil, país da vez, a Embratur já lançou uma série dessas campanhas de imagem positiva, como “Brasil – Vire Fã” e “O Brasil te chama, celebre a vida aqui”. Na verdade, abundam convites parecidos do México (“O lugar que você achou que conhecia” e “O México se sente”) ao Paraguai (“Feliz viagem pelo Paraguai). Em comum, essas iniciativas têm alguns clichês: falam de gente trabalhadora, povo guerreiro, culturas vibrantes, alegria inata e uma hospitalidade como em poucos lugares já se viu.
No entanto, o que parece ter vendido a América Latina principalmente aos jovens europeus é a crise econômica que os impede de conseguir emprego depois de anos de estudo para adquirir uma formação. Arrisco dizer que eles prefeririam ficar por lá, em suas belas cidades, onde na maioria dos casos ainda resiste certa estrutura social e condições menos caóticas de vida, se a recessão não existisse. O fato é que nós não nos cansamos de renovar o convite. É nessa hora, em que empregos e recursos são frágeis e quase sempre escassos aqui também, que se torna pertinente a pergunta: o que vai acontecer se todo mundo vir?
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