As Pesquisas – ou talvez mais importante, o abuso de dados de pesquisa – tem um histórico conturbado na Venezuela. Eu nunca vou me esquecer do dia do referendo revogatório presidencial em 2004. Eu estava sentado no estúdio da BBC em Washington, entre uma entrevista de rádio e de TV, quando a máquina de fax recebeu um informe do que era então uma das mais influentes empresas de consultoria nos Estados Unidos: a PSB (Penn, Schoen, Berland e associados).
“Resultados de pesquisas mostram grande derrota de Chávez” era a manchete. A agência afirmou ter entrevistado uma amostra enorme (mais de 20.000 eleitores em 267 centros de votação), e concluiu que Chávez tinha sido retirado do cargo da presidência por uma margem de 59% dos votos contra 41%.
Eu olhei para o produtor que me deu o fax, mais do que perplexo diante da notícia. E com razão: o resultado real do referendo foi exatamente o oposto – 58% dos eleitores votaram pela permanência de Chávez contra 41%. A OEA (Organização dos Estados Americanos) e o Centro Carter, observadores da eleição, deixaram claro que não havia dúvidas de que os resultados não foram fraudados. Dada a votação real, a probabilidade de variação na pesquisa da PBS era ínfima.
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O produtor colocou o comunicado de imprensa de lado. “Eu não vou fazer nada com isso a menos que haja outra fonte”, disse ele.
Isso nos leva a eleição presidencial deste domingo (07/10). As pesquisas mais recentes mostram uma ampla gama de possibilidades: desde uma vantagem de 4% de Henrique Capriles, o concorrente do presidente Hugo Chávez, a uma vantagem de 27,7% para o próprio Chávez. A média é de uma vantagem de 11,7 pontos de Chávez sobre Capriles.
David Rosnick, pesquisador do CEPR (Centro de Pesquisa de Economia e Política na sigla em inglês), fez uma analise estatística das pesquisas mais recentes para ajustar as tendências dos diferentes resultados, utilizando dados de 2004 a 2012. A vantagem de Chávez sobe para 13,7% com Capriles tendo 5,7% de possibilidade para ganhar as eleições.
No entanto, apesar dos dados, a maior parte da mídia norte-americana está fazendo com que pareça uma disputa acirrada. A cobertura não está tão ruim quanto a de 2004, quando a maioria dos meios de comunicação estrangeiros estava fingindo – ridiculamente – que não era possível prever o resultado do referendo.
Além disso, desta vez, alguns jornalistas e analistas que estão tentando relatar com mais precisão para os investidores – o mercado de ações venezuelano tem mostrado alguma “exuberância irracional”, ultimamente, na esperança da vitória de Capriles – estão dizendo que Chávez provavelmente irá vencer.
Porém, o mais grave é que a oposição venezuelana nas eleições passadas sempre teve um “plano b” em caso de derrota: eles alegam fraude e levam as pessoas para as ruas. Vimos isso em 2004: existem até mesmo pesquisas acadêmicas que – com a ajuda de teorias da conspiração que, se comparadas, fazem parecer às relacionadas com o 11 de setembro razoáveis – afirmaram encontrar evidencias estatísticas de que a eleição foi roubada. O Centro Carter montou uma comissão independente de estatísticos para verificar esta suposta prova e descobriu que era inexistente.
Entretanto, essas alegações tiveram um impacto significativo na Venezuela – onde a oposição boicotou as eleições parlamentares de 2005, sob o argumento de que o referendo do ano anterior havia sido “manipulado”. Grande parte da imprensa latino-americana também aderiu às teorias de conspiração.
E sobre a eleição deste domingo (07/10)? Chávez fez sua declaração costumeira de que iria aceitar os resultados, independentemente do vencedor; Capriles não tem manifestado o mesmo comprometimento. Uma das melhores coisas que as autoridades eleitorais têm a seu favor agora é que a administração Obama – como a administração Bush em 2004 – não quer que qualquer problema eleve o preço da gasolina antes do pleito presidencial dos EUA. E é improvável que Capriles e seus aliados façam um esforço organizado para contestar o resultado das eleições já reconhecido por Washington.
Uma das coisas mais inteligentes que o governo venezuelano fez para garantir a integridade de seu processo eleitoral foi colocar sua eleição antes das nossas nos EUA. No entanto, existem elementos da oposição que já estão dizendo que Capriles deve ganhar ou que haverá violência nas ruas. Então as ações de um “Plano B” continuam sendo uma possibilidade.
A historia das eleições em 2004 teve um final feliz. Em 2006, PSB publicou algumas pesquisas pre-eleitorais que ninguém poderia acreditar (Chávez acabou vencendo com 62,8% dos votos). Então Mark Penn substituiu o especialista em pesquisas Doug Schoen. Penn foi servir como estrategista-chefe de Hillary Clinton em sua candidatura à presidência em 2008, oferecendo informações como derrotar “inelegível” Obama por sua “ausência de raízes americanas.” Penn foi obrigado a renunciar como estrategista chefe quando se descobriu que ele estava ajudando o lobby do governo colombiano para realizar acordo de “livre comércio” com os EUA
Doug Schoen, por sua vez, acabou de publicar um novo livro sobre a “crise na política americana”. Seu titulo é Hopelessly Divided “Divididos sem esperanças” , e tem apoio de celebridades como Michael Bloomberg e Shrum Bob. Espero que eles verifiquem os dados da pesquisa que o autor está usando.
Este é um grande país ou o quê? Não importa o quanto você faça asneiras, sempre há uma outra chance. Bem, pelo menos para algumas pessoas.