Entediante. Esse foi o adjetivo repetido ao longo da campanha eleitoral para a eleição de 17 de fevereiro. Não faltam razões para considerá-la dessa maneira quando a maior parte dos candidatos evitou não apenas o confronto com o presidente que busca a reeleição, mas parecem empenhados em ocultar suas propostas e em tocar nos temas que não interessam a população.
Inclusive, diferentemente de ocasiões anteriores e do que qualquer estratégia aconselharia, deixou-se passar em branco casos evidentes de corrupção nas altas esferas do governo, o que poderia ter debilitado o presidente-candidato. Presos em uma batalha de pesquisas de opinião – com resultados tão distintos, que tornam a comparação impossível e alimentam a desconfiança –, os mais otimistas apenas se conformam em apontar que será necessário o segundo turno.
Agência Efe (09/02)
O presidente Rafael Correa, durante ato de campanha
Mas, apesar do tédio da campanha e do derrotismo dos adversários, ainda não é possível assegurar que Rafael Correa será reeleito no primeiro turno. Sem dúvida, por um conjunto de causas, ele conta com as maiores probabilidades de vitória. A situação econômica favorável, derivada dos altos preços do petróleo no mercado internacional, é um primeiro fator a seu favor. Isso lhe permitiu aplicar uma política de assistência direta aos grupos mais pobres da população, especialmente por meio de subsídios e bonos que se originaram na época que o presidente qualifica como a “longa e obscura noite neoliberal”, mas que ele não teve problemas em mantê-los, incrementá-los e consolidá-los como política própria de sua revolução cidadã.
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A isso se deve somar a crise dos partidos políticos e, em geral, da política. Os partidos que predominaram por mais de vinte anos protagonizaram um estranho suicídio coletivo, lento mas efetivo, que culminou com seu deslocamento da cena política sem que existissem outros com capacidade para ocupar seu lugar. Foi um fenômeno que teve suas razões não apenas nas práticas equivocada dessas organizações, mas sobretudo na atitude dos cidadãos comuns que, de diversas maneiras, expressaram sua rejeição a tudo o que dissesse respeito a política. “Que todos desapareçam” [que se vayan todos] foi o slogan dirigido inicialmente aos políticos, mas que, ao final, se transformou em um “desapareçamos todos” [“vayámonos todos”].
Cansada de ser a principal protagonista na definição dos conflitos (que culminaram, em três ocasiões, com golpes de Estado nas ruas), a cidadania decidiu se retirar para seus espaços privados e deixar nas mãos de apenas uma pessoa a administração do público. A liderança de Rafael Correa fez o resto. Mas sempre é necessário recordar que pôde se expressar porque encontrou um vantajoso vazio. Ainda que a frase esteja desgastada, é preciso dizer que ele estava no lugar certo e na hora certa.
Ele continua ali e o momento ainda não mudou substancialmente. As novas organizações políticas, vale dizer, os candidatos adversários, não conseguiram estruturar propostas atrativas e sobretudo alternativas à revolução cidadã. A ausência de propostas é um sintoma da incapacidade do restante do sistema político para se renovar e para compreender a mensagem cidadã. Se a tudo isso se acrescentar o uso – na realidade, o abuso – dos recursos públicos, por parte do presidente, em sua campanha, pode-se compreender a vantagem com a qual chega às eleições.
No entanto, há elementos que semeiam dúvidas sobre o triunfo imediato do presidente. O primeiro é que poderia acontecer uma surpresa, como a que ocorreu no referendo de maio de 2011, quando ocorreu praticamente um empate. As pesquisas de opinião falharam miseravelmente, inclusive as realizadas na boca de urna. Aparentemente, há um desgaste de Correa que não é registrado nas pesquisas. O medo de confessar sua decisão teria uma expressão eleitoral que é impossível de se prever. O segundo, estreitamente relacionado a esse, é que os indecisos representariam cerca de 30% dos eleitores. Essa cifra, a única que coincide em todas as pesquisas, é muito alta a apenas pouco mais de uma semana da eleição. Mas é sobretudo uma proporção que, claramente, não pôde ser captada por Correa. A incógnita está em saber se ela irá majoritariamente para um dos candidatos opositores, o que tornaria possível a existência de um segundo turno, ou se ela se distribuiria entre todos, o que favoreceria o presidente.