O que seria de Benjamin Netanyahu se não existisse o Hamas? Provavelmente nunca teria chegado ao cargo de primeiro ministro de Israel.
O que seria do Hamas sem Netanyahu e Ariel Sharon? Provavelmente seria um partido minoritário no Parlamento palestino e nunca teria conseguido tomar o controle da Faixa de Gaza.
O atual premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, foi eleito em 1996 para seu primeiro mandato, logo após uma série de atentados suicidas cometidos pelo Hamas em cidades israelenses.
Agência Efe
Hoje líder isralense, Netanyahu teve sua trajetória facilitada pela sequência de conflitos na região
Antes dos atentados, era Shimon Peres, ex-líder trabalhista e ganhador do Prêmio Nobel da Paz (junto com Yasser Arafat e Itzhak Rabin), quem estava liderando todas as pesquisas.
O choque com os atentados, que mataram dezenas de civis israelenses, levou à perda de esperança de muitos eleitores no processo de paz que estava em andamento naquela época e à vitória de Netanyahu.
Sharon entregou Gaza ao Hamas
O Hamas, por sua vez, ganhou as eleições para o Parlamento palestino em 2006, depois que recebeu a Faixa de Gaza de presente do ex-premiê de Israel Ariel Sharon.
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Sharon decidiu realizar a retirada unilateral da Faixa de Gaza em 2005, deixando um vácuo de poder naquela região, que rapidamente foi ocupado pelo Hamas.
A retirada unilateral das forças israelenses ocorreu apesar das advertências do presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas, do partido laico Fatah, que alertou sobre a possibilidade de fortalecimento do Hamas se Sharon não entregasse a Faixa de Gaza à AP.
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No momento de crise que estamos vivendo, em meio à ofensiva israelense que já deixou mais de 1.400 mortos e 7.000 feridos, além de 440 mil pessoas que foram obrigadas a abandonar suas casas na Faixa de Gaza, vale lembrar esses fatos, que muitos leitores, principalmente no exterior, desconhecem.
Pânico produz ódio
Em Israel a nova crise já deixou 59 mortos, entre eles 56 soldados e 3 civis.
Mais de mil foguetes, lançados a partir da Faixa de Gaza contra as cidades israelenses, vêm causando um clima de pânico no país, que por sua vez eleva o ódio da população contra os palestinos.
Agência Efe
Apesar das mortes de palestinos, Hamas pode se beneficiar politicamente da ofensiva de Israel
É incalculável o dano que a ofensiva chamada “Margem Protetora” irá causar à perspectiva de paz entre israelenses e palestinos. Com o acréscimo de mais esse capítulo sangrento, em que traumas do presente se somam a inúmeros traumas do passado, as chances de algum tipo de reconciliação ficam cada vez mais distantes e os dois povos saem perdendo muito.
Frutos políticos
Quem sai ganhando? A direita israelense e o Hamas. Quando a linguagem da força prevalece, aqueles que apoiam mais violência saem fortalecidos.
Vale mencionar o debate dentro da própria sociedade palestina sobre a possibilidade de um cessar-fogo.
“A coisa mais importante agora é obter um cessar-fogo para parar o massacre”, afirmou Nabil Shaat, um dos líderes do Fatah e ex-ministro das Relações Exteriores da AP à TV Al Jazeera.
Em seguida o canal entrevistou o porta-voz do Hamas, Fawzi Barhum, que declarou que “a coisa mais importante agora é uma retaliação dolorosa por parte da resistência contra a ocupação sionista”.
O Hamas já se prepara para colher os frutos políticos do derramamento de sangue na Faixa de Gaza.
Do lado israelense, o atual chanceler, Avigdor Lieberman e o atual ministro da Indústria e Comercio, Naftali Bennet, ambos da extrema-direita, também se preparam para colher os frutos que certamente virão.
Quem sai perdendo? As forças moderadas dos dois lados que ainda desejam a paz e acreditam que, apesar de tudo, ela ainda é possível.
(*) Guila Flint cobre o Oriente Medio para a imprensa brasileira há 20 anos e é autora do livro 'Miragem de Paz', da editora Civilização Brasileira.