Mais que por simbologias políticas, o primeiro ano de mandato de Sebastián Piñera foi marcado concretamente por dois eventos fortuitos. O primeiro foi o terremoto devastador que antecedeu em apenas 12 dias sua posse. O segundo teve uma dimensão bem menos estrutural para o Chile, mas foi alçado à condição de história épica por envolver o drama de 33 mineiros que passaram 70 dias soterrados numa mina sob o Deserto do Atacama.
Presidencia de Chile (13/10/2010)
Sebastian Piñera, presidente do Chile, recepciona Luis Urzua, o último mineiro resgatado
O desfecho positivo da história – o grupo foi resgatado com vida em um arriscado plano que envolvia o envio de uma sonda subterrânea – colocou tanto Piñera quanto seu ministro da Mineração, Laurence Golborne, na condição de heróis da trama, justamente quando o governo buscava impor uma agenda positiva que transcendesse o monocórdio assunto da reconstrução pós-terremoto.
Leia mais:
Piñera cumpre um ano de mandato marcado por terremoto, tsunami e ambição de forjar 'nova direita'
'Direita aprendeu a governar, mas esquerda patina na oposição', diz sociólogo chileno
Um ano depois, sobreviventes do tsunami no Chile esperam por ajuda em favelas
Galeria de imagens: no primeiro aniversário do terremoto no Chile, ainda há muita destruição
Da posse, em março, até agosto, mês do acidente na Mina San José, em Copiapó, a popularidade de Piñera havia caído de 52% para 46%. Mas com a notícia de que todos os mineiros haviam sido salvos, este índice saltou para 56% em 24 horas. Foi o ápice da popularidade de Piñera e o primeiro suspiro desde a tragédia do terremoto. O jornal chileno La Tercera chegou a chamar o presidente de “o 34º mineiro”, por ter resgatado, junto com os sobreviventes, sua própria popularidade.
O ministro Golborne também lucrou com o sucesso da empreitada no deserto e chegou a ser apontado como candidato precoce à sucessão de Piñera, em 2013. Antes do resgate, apenas 2% dos chilenos sabiam quem era Golborne; depois, 87% disseram ter uma avaliação positiva da gestão do ministro.
Leia mais:
Direita chilena pressiona por anistia a agentes da ditadura Pinochet
Governo chileno assina decreto para redução de gasto de energia
Chile: 500 mil pessoas passaram a ser pobres após terremoto de 2010
Gestão do atual presidente desagrada a mais da metade dos chilenos, indica pesquisa
Acidentes em minas no Chile já mataram onze após resgate de mineiros
“Nenhuma casa foi construída”, diz prefeito de cidade chilena devastada por terremoto de 2010
Mas a euforia na Mina San José esconde um drama silencioso, que afeta milhares de trabalhadores pelos quais o governo de Piñera tem feito pouco. Estima-se que 15% das minas chilenas, onde 2 mil pessoas arriscam suas vidas, são piores que a San José. O Chile não ratificou a convenção da OIT (Organização Internacional do Trabalho) sobre segurança na mineração e 11 mineiros morreram em 10 acidentes no país, desde outubro de 2010.
A libra de cobre que custava 0,60 dólares em 1993 hoje custa 3,50 dólares, inflacionada pela demanda chinesa. A procura pelo produto no mercado internacional cresceu 43% em um ano, o que fez com que muitos moradores do norte do Chile se aventurassem em trabalhar em empreendimentos informais, abertos em minas já exaustivamente exploradas pelas grandes companhias, onde o trabalho com maquinário pesado já não vale a pena.
Siga o Opera Mundi no Twitter
Conheça nossa página no Facebook
NULL
NULL
NULL