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Tanto na Copa da África do Sul (foto) como na da Alemanha, surgiu o dado de que 40 mil mulheres foram “forçadas à prostituição”
A GAATW (Aliança Global Contra o Tráfico de Mulheres) lançou no ano passado um estudo que questiona o alarde feito por autoridades públicas sobre o aumento de prostituição durante eventos esportivos de grande porte. Com base em estatísticas, o estudo da ONG pretende demonstrar que o discurso anti-prostituição é, na verdade, um discurso anti-imigração.
Intitulado “Qual o preço de um boato? Um guia sobre mitos e fatos sobre tráfico de pessoas e eventos esportivos”, o documento embasa o trabalho do grupo britânico Stop the Arrests, que pede à polícia do Reino Unido que suspenda prisões e deportações de trabalhadores sexuais pelo menos até o fim da Olimpíada de Londres, em agosto.
De acordo com o estudo, governos têm lançado estimativas irreais sobre números de mulheres traficadas durante eventos esportivos. Um exemplo é o de 2006, na Copa do Mundo da Alemanha, quando surgiu o número de 40 mil “mulheres forçadas à prostituição” na imprensa internacional.
“O foco em 40 mil “mulheres forçadas à prostituição” [supostamente na Alemanha para a Copa do Mundo] é característico de um discurso que não faz distinção entre trabalhadores sexuais não-documentados que trabalham sem visto, mas de forma voluntária, e trabalhadores sexuais que foram traficados”, afirmam Nivedita Prasad e Babette Rohner, membros da GAATW.
Estranhamente, afirma o documento, o mesmo número – 40 mil – foi utilizado durante a Copa do Mundo da África do Sul, em 2010. O GAATW tentou descobrir a origem do dado, que teria surgido em uma agência oficial sul-africana. Mas não havia qualquer base empírica para ter sido divulgado.
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Para a ONG, expor um número como esse, que ganha facilmente manchetes ao redor do mundo, é “útil para justificar medidas de controle social e cultivar o ‘pânico moral’” nos países-sede dos eventos esportivos. Apesar do alto fluxo de homens chegando para assistir a uma Copa do Mundo ou uma Olimpíada, isso não significa que haverá maior demanda por sexo pago.
Exemplo britânico
O jornal britânico Daily Mail publicou em abril reportagem em que afirma que gangues romenas estão “inundando” Londres com “batedores de carteira, prostitutas e pedintes” para a Olimpíada. A fonte da matéria é Nickie Allen, uma conselheira da subprefeitura de Westminster, área nobre no centro de Londres.
“Sempre tivemos problemas com europeus do leste, mas nas últimas três semanas notamos que eles estão chegando com uma intensidade nunca vista. Não temos os recursos para lidar com isso. Damos bilhetes para eles voltarem à Romênia, mas é como uma porta giratória”, disse Allen aos jornais, que trataram o caso como “a primeira grande onda de migração em decorrência da Olimpíada”.
A reportagem cita que a polícia de Londres encontrou 50 mulheres romenas que teriam sido traficadas para prostituição na capital britânica e que prendeu quatro pedintes com bebês de colo.
O mercado em Londres
Uma pesquisa do professor Nick Mai, do departamento de sociologia da London Metropolitan University, traçou o perfil dos trabalhadores sexuais da capital britânica. De acordo com o documento, a “grande maioria” das prostitutas imigrantes não havia sido traficada para o Reino Unido e trabalhava de forma voluntária.
Segundo Mai, trabalhar na indústria do sexo não só elevou o status social das mulheres entrevistadas como garantiu a elas a possibilidade de melhorar o nível de vida de suas famílias no país de origem, para onde enviam divisas regularmente. A maioria acredita que a criminalização dos clientes não porá fim ao mercado e, sim, irá empurrá-las para a clandestinidade.