Antes de chegar a Ciudad Piar, o avião sobrevoa Puerto Ordaz, 664 km ao sudeste de Caracas, no estado de Bolívar. Ali, as águas do rio Orinoco, o segundo maior da América do Sul e o mais importante da Venezuela, e do rio Caroní, que concentra 70% da geração de energia elétrica do país, dominam a paisagem. Em um ponto estratégico, rodeado pelo principal polo de mineração da Venezuela, a cidade foi a primeira a nascer projetada no país. Inaugurada em 1952 para escoar a produção mineral, Puerto Ordaz hospeda as sedes das principais empresas que conformam a Corporación Venezolana de Guayana (CVG), mas ficou pequena para as ambições de expansão da estatal mineradora.
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Vista da construção da Empresa Básica Socialista Siderúrgica José Inácio Abreu e Lima, tocada pela brasileira Andrade Gutierrez
Dentro do projeto de industrialização da Venezuela, uma nova siderúrgica está sendo construída 120 km ao sul de Puerto Ordaz, em Ciudad Piar, visando a criação de um novo polo de desenvolvimento, ainda dentro do estado de Bolívar. O empreendimento está sob a responsabilidade da brasileira Andrade Gutierrez (AG) e foi batizado por Hugo Chávez de Empresa Básica Socialista Siderúrgica José Inácio Abreu e Lima, em referência ao pernambucano que incorporou as fileiras de Simón Bolívar na luta contra a colonização espanhola.
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A vegetação seca de Ciudad Piar contrasta com o volume d’água. Nos 140 hectares destinados à siderúrgica, dos quais 62 correspondem à área da planta industrial, enormes caminhões pipa se esforçam para molhar a terra aplainada e impedir a formação de nuvens de poeira. “É pouco visível, mas cerca de 30% da obra já está pronta, é um trabalho que está debaixo da terra”, informa o diretor operacional e gerente do projeto, Carlos Walter Arold.
A obra foi iniciada em março de 2009 e a sua conclusão está prevista para 2016, sendo que chapas grossas de aço já começarão a sair em 2015. Além da planta industrial, a obra também engloba duas linhas de transmissão de energia, que juntas medem mais de 80 km, um gasoduto de 100 km e um aqueduto de 18 km. Atualmente ela emprega dois mil trabalhadores e deverá ter até 10 mil no pico da construção, segundo Arold.
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Quando estiver funcionando a siderúrgica, contará entre 2 mil e 2,5 mil trabalhadores diretos, uma capacidade de produção instalada de 1,5 milhão de toneladas/ano de aço e tecnologia da alemã SMS Siemag nas unidades de processos. O transporte da matéria-prima até a empresa ficará a cargo da também estatal Ferrominera.
O aço utilizado para a construção da nova siderúrgica é fornecido pela Sidor, indústria de capital argentino nacionalizada em abril de 2008 pelos bolivarianos. Por sua vez, o aço a ser produzido na siderúrgica Abreu e Lima será direcionado, sobretudo, à indústria naval e petroleira do próprio país. A própria AG também está encarregada da construção de um estaleiro que deverá fabricar, na Península de Araya, no estado Sucre, quatro navios petroleiros por ano para a frota da estatal petroleira PDVSA. Também em Sucre, na cidade de Cumaná, a empresa brasileira coordena a implementação de uma termoelétrica que gerará 760 MW/ano.
Vinicius Mansur/Opera Mundi
Trabalhadores na siderúrgica de Ciudad Piar, no estado de Bolívar. Até 2,5 mil empregos diretos serão criados com projeto da Andrade
“O contrato do estaleiro é de US$ 1,3 bilhão, o da siderúrgica é de US$ 3,8 bilhões e o da termoelétrica é de U$ 1,5 bilhão, totalizando US$ 6,6 bilhões”, informa o presidente da AG na Venezuela, Alberto Moreira. Estes contratos fazem com que a Venezuela seja o segundo maior mercado da AG neste momento, ficando atrás apenas do Brasil. A empresa está presente em 40 países.
Para alcançar este posto, Moreira afirma ter sido muito importante o alinhamento estratégico entre os governos do Brasil e da Venezuela e o papel do governo brasileiro na indução da internacionalização das empresas do país. “O BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] é fundamental nisso e, sem dúvida, para a nossa decisão de vir para a Venezuela, contar com os financiamentos foi essencial”, disse.
O banco disponibilizou US$ 1,5 bilhão em financiamento para os projetos da AG na Venezuela, sendo US$ 860 milhões para a siderúrgica e US$ 640 milhões para o estaleiro. “Há ainda recursos do governo venezuelano, que já chegam a US$ 1 bilhão, divididos entre a siderúrgica e o estaleiro. A siderúrgica conta ainda com um financiamento de US$ 600 milhões de um banco da Alemanha”, revelou.
O contrato da siderúrgica Abreu e Lima, assinado em 2008, era de US$ 1,8 bilhão, mas saltou para US$ 3,8 bilhões devido a uma redefinição dos serviços por parte do cliente, disse Moreira. “Para colocar a planta em funcionamento você precisa de água, gás, energia, subestação elétrica, linha de transmissão, e todos esses serviços foram integralmente agregados ao contrato”, explicou.