Atualizada às 8h34
Neste domingo (02/02), 4,9 milhões de eleitores estão aptos a votar para escolher o novo presidente e vice-presidente de El Salvador, que deverão exercer o cargo pelos próximos cinco anos (2014-2019). A legislação salvadorenha diz que, se nenhum dos candidatos alcançar a maioria simples – metade dos votos mais um –, deverá ser realizado um segundo turno no dia 9 de março entre os mais votados.
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Os principais concorrentes são o partido do governo, FMLN (Frente Farabundo Martí pra a Libertação Nacional, de esquerda), que tem como candidato à presidência o ex-comandante guerrilheiro e atual vice-presidente do país, Salvador Sánchez Cerén, e como candidato à vice-presidência o ex-prefeito de Santa Tecla, Oscar Ortiz, e o partido Arena (Aliança Republicana Nacionalista, de direita), que governou por 20 anos (1989-2009) e que tem como candidato o prefeito de San Salvador, Norman Quijano, um político experiente que fez da questão da segurança pública o principal eixo de sua campanha. O acompanha o catedrático René Portillo.
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O movimento Unidade, uma coalizão de partidos que surge de uma cisão do Arena e que dividiu o voto da direita salvadorenha, tem como candidato seu criador, o ex-presidente Elías Antonio Saca (2004-2009), que busca sua reeleição e a seu ex-ministro de Relações Exteriores, Francisco Laínez.
Apesar de proibida a divulgação de pesquisas desde o dia 24 de janeiro, um levantamento reservado, encomendado pela Embaixada dos EUA, realizado pelo instituto Cid-Gallup, aponta vitória da FMLN e de Sánchez Cerén com 52% dos votos. A direitista Arena teria 33% e a fórmula Unidade acabaria com 12%, com os restantes 3% divididos entre partidos menores.
A pesquisa foi fechada dia 31/01, com levantamento entre 28 e 30 de janeiro, 1690 entrevistas e 2,2% de margem de erro. Os números acompanham a tendência registrada pela maioria dos institutos: uma ampla vantagem do governista sobre Norman Quijano e uma possibilidade real de ganhar no primeiro turno. Mais longe está o ex-presidente Saca que, no entanto, terá um papel muito importante caso seja necessário um segundo turno para decidir quem será o sucessor do presidente Mauricio Funes (2009-2014).
Efe
Norman Quijano, candidato do partido da direita Arena, discursa para simpatizantes em evento na capital de El Salvador
A extensa campanha eleitoral que chegará ao fim neste domingo colocou frente a frente candidatos e programas antagônicos, como reflexo de uma sociedade extremamente polarizada, ressentida por um conflito armado interno (1980-1992), que ainda está muito fresco na memória da população, e, sobretudo, na memória das vítimas dos massacres e violações dos direitos humanos que aconteceram na década de 80.
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Se, por um lado, a FMLN apresenta um plano de governo que quer dar continuidade e aprofundar os programas iniciados durante a administração do presidente Mauricio Funes, promovendo um modelo participativo e inclusivo, por outro a Arena focou os últimos meses de sua campanha na questão da militarização da segurança pública, como única solução no combate às chamadas “maras” (gangues de jovens), tachando o atual governo de incapaz e de cúmplice de um suposto pacto com os antissociais.
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Frente a um eleitorado dividido e polarizado, o partido governante se perfila como a opção de uma esquerda progressista que tem capacidade de governar, e que agora quer aprofundar seu próprio projeto, colocando como candidato uma figura emblemática de sua história recente, e olhando mais para o sul da América Latina, sem por isso desdenhar das relações políticas e comerciais que, historicamente, El Salvador mantém com os Estados Unidos.
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A Arena e o movimento Unidade, pelo contrário, compartilham história e ideologia política e econômica, representando o modelo neoliberal promovido no país no começo dos anos 90, que privilegiou os interesses de mercado e das grandes empresas nacionais e transnacionais, acima do papel dinamizador e social do Estado.
De acordo com o académico e filósofo Carlos Molina Velásquez, a FMLN, nesses últimos 5 anos, acumulou um capital político muito importante entre os eleitores que costumam votar nos partidos de direita. “Por meio de políticas sociais inéditas, a FMLN conseguiu promover na sociedade a ideia de uma relação diferente entre Estado e cidadania, despertando o interesse e a apreciação de amplos setores da população politicamente alheia”, disse a Opera Mundi.
Giorgio Trucchi/Opera Mundi
Molina: “Por meio de políticas sociais, a FMLN conseguiu promover na sociedade uma relação diferente entre Estado e cidadania”
Além disso, soube criar alianças com mais de 80 movimentos em todo o país, promovendo uma campanha propositiva e de conteúdo, se projetando como um partido que soma, une e dialoga.
Campanha ruim
Na contramão, a Arena chega à eleição praticamente sozinha, fragmentada e com fortes contradições e divisões internas, com um candidato eleitoral e midiaticamente pouco atraente, promovendo uma campanha eleitoral contraditória e raivosa, com mudanças contínuas de estratégia, com uma mensagem negativa e baseada em ataques violentos contra seus adversários.
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Além disso, tendo perdido as eleições de 2009, o Arena já não controla a maquinaria estatal, perdeu influência nos principais poderes do Estado e mantêm abertas várias frentes de conflito com partidos e instituições públicas, que seguem desgastando-o politicamente e sua imagem para a população.
O partido também se viu envolto em graves atos de corrupção como, por exemplo, o escândalo que também atingiu seu chefe de campanha, o ex-presidente Francisco Flores (1999 a 2004), que está sendo investigado por ter recebido, durante seu mandato, mais de 10 milhões de dólares do governo de Taiwan, cujo uso é desconhecido e dos quais não há rastro algum.
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“Em vez de condenar com força os episódios de corrupção, distanciando-se das pessoas envolvidas, o partido e o candidato preferiram se calar. Essa atitude lhes prejudicou muito, fazendo com que perdessem o apoio de vários setores da sociedade, assim como de movimentos que deixaram ou se distanciaram do partido”, analisou Molina.
Funes e Pignato
Segundo ele, a FMLN soube aproveitar essa situação de debilidade e deterioração interna da Arena. Além disso, capitalizou o apoio, velado e indireto, mas determinante pela incidência sobre o voto, do presidente Funes, que denunciou publicamente 169 casos de corrupção que envolvem pessoas do Arena, entre outros o ex-presidente Francisco Flores. No entanto, o elemento que mais parece estar incidindo sobre o voto dos indecisos tem sido a decisão da primeira dama, Vanda Pignato, de apoiar pública e abertamente Salvador Sánchez.
Giorgio Trucchi/Opera Mundi
Vanda Pignato, esposa do atual presidente, Mauricio Funes, tem popularidade especialmente entre as mulheres salvadorenhas
Foi notória sua participação no encerramento da campanha do partido, quando fez um verdadeiro chamado aos indecisos e indecisas para que votassem pela mudança e pelo aprofundamento dos programas iniciados durante o governo de Funes, afastando-se de um programa, o da Arena, que quer voltar ao passado.
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“Vanda Pignato é muito popular e com sua personalidade e seus projetos promovidos na Secretaria de Inclusão Social, como, por exemplo, o exitoso ‘Cidade Mulher’, que atendeu centenas de milhares de mulheres em todo o território nacional nas áreas da saúde sexual e reprodutiva, autonomia econômica e prevenção da violência de gênero, soube atrair o interesse e, possivelmente, o voto da mulher mais humilde, dos indecisos, assim como de certos setores da classe média, que são muito atentos às dinâmicas de transformação da consciência social”, explica o acadêmico e filósofo.
Para Molina Velásquez, o FMLN tem a grande oportunidade de mostrar que é possível levar um candidato da esquerda histórica à presidência da república de El Salvador. “Isso vai marcar um divisor de águas na história do país, com uma mensagem carregada de simbolismo que direciona o país para uma paz verdadeira, deixando para trás, mesmo sem esquecer, a tragédia da guerra.”