Famoso por salvar a vida de mais de 1.200 tutsis durante o genocídio em Ruanda, o luxuoso hotel Des Mille Collines, localizado em Kiyovu, bairro nobre da capital Kigali, se tornou um marco na história nacional do país por ter sido um dos poucos lugares onde todos os que procuraram abrigo conseguiram sair ilesos.
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Foi através de muitas negociações com a milícia Iterhamwe que o então gerente Paul Rusesabagina, de 59 anos, conseguiu livrar da morte as centenas de tutsis. Mesmo os que procuraram abrigos em igrejas não foram poupados do massacre.
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Restaurante do hotel Des Mille Collines, localizado em Kiyovu, bairro nobre de Kigali. Milhares se refugiaram no local em 1994
O episódio de Des Mille Collines se tornou um exemplo na proteção dos direitos humanos e uma denúncia ao descaso internacional em relação à matança generalizada, que teve início no dia 7 de abril de 1994 e durou três meses.
A história do então gerente Rusesabagina inspirou o famoso filme de Hollywood “Hotel Ruanda” (2004) que projetou ainda mais a fama do hotel quatro estrelas de Kigali.
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“Ele já era importante e popular naquele momento. Ele tem 40 anos de idade, o prédio foi construído em 1973. Já naquele tempo era o maior hotel em Kigali e um marco para a cidade. Mas ficou famoso porque muitas pessoas foram salvas aqui. Muitos bateram à porta do hotel durante o genocídio em 1994”, disse a Opera Mundi Sacha Haguma, o responsável pelo marketing do hotel. É ele o responsável por atender a visitantes e imprensa que vão conhecer o hotel motivados pelo filme.
Funcionários
O que chama a atenção é que em 1994 milhares foram ao hotel em busca de esconderijo e os mais de 200 funcionários continuaram trabalhando, comentou. “Eles conseguiram salvar muitas vidas. Não temos números precisos, mas cerca de duas mil pessoas se esconderam aqui. Os grandes heróis foram os funcionários. A gerência e toda a equipe fizeram um trabalho incrível naquele período. O filme se inspirou nisso, obviamente, romantizado com um pouco de Hollywood, mas vem dessa história original”, destacou Haguma.
Hoje em o dia, o hotel recebe muitos executivos, além de turistas de férias especialmente dos Estados Unidos e Europa. “É engraçado porque muitos visitantes percebem que não é o mesmo hotel do filme. Ele foi filmado na África do Sul. Alguns pedem para visitar os lugares e acabam não reconhecendo”, contou. Haguma disse que sente orgulho por trabalhar em um local com tamanha importância histórica. “É um legado incrível, destacou.
Paul Rusesabagina se tornou famoso com o filme. Hoje ele não mora mais em Ruanda e está exilado com a família na Bélgica. Haguma diz que gostaria de conhecê-lo. “Aqui também havia muitos funcionários que estavam em 1994 e se aposentaram recentemente”, disse Haguma que, em 1994, tinha apenas dez anos de idade e morava com sua família no Congo.
Ele voltou a Ruanda no ano seguinte. “Era um novo começo, as pessoas estavam tentando se recompor,. Tinha gente voltando do exílio tentando criar uma vida aqui. Depois, muitas coisas ruins poderiam ter ocorrido ou o caos poderia ter tomado conta numa sociedade que ficou traumatizada dessa forma. Mas as pessoas realmente firmaram um compromisso entre si e com o país para seguir adiante. E conseguiram superar isso. É importante não esquecer”, argumentou.