Para entender a gênese das FARC, é importante voltar à semente da guerrilha. No conflitivo período dos anos 40, já havia grandes pressões dos movimentos populares colombianos, especialmente camponeses, além de muita repressão oficial. A violência se acirraria ainda mais a partir de 1948, depois do assassinato de Jorge Eliecer Gaitán, liberal de ideias progressistas favorito para vencer as eleições presidenciais.
Efe/Arquivo
Fotografia sem data mostra chefe das FARC Manuel Marulanda “Tirofijo” (centro), em acampamento, rodeado de ajudantes
A partir daí, surgiriam guerrilhas liberais e comunistas que se rebelaram contra o autoritarismo do governo conservador e a falta de liberdade para exercer a política democrática. De acordo com Álvaro Villarraga, pesquisador do Centro Nacional de Memória Histórica, órgão vinculado ao governo nacional, a guerra civil acabaria com o acordo de criação da Frente Nacional, através da qual os partidos Conservador e Liberal se alternariam no poder. “Porém, alguns núcleos de autodefesas camponesas não se desarticularam por temor da continuidade dos ataques oficiais e de bandas criminais”, lembra.
FARC completam 50 anos de existência em meio a diálogos de paz
Um desses grupos viria a ser o embrião das FARC, cujo estopim para sua criação foi o ataque da força pública à região montanhosa de Marquetália, no departamento de Tolima. Se aproximava maio de 1964 quando o líder camponês Antonio Marim recebeu a visita de Luis Morantes e Hernando González, enviados pelo PCC para dar apoio ideológico às autodefesas armadas conformadas por camponeses na “República de Marquetália”.
Eles passariam à História como fundadores das FARC e seriam conhecidos por seus codinomes de guerra: Manuel Marulanda, Jacobo Arenas e Leovigildo Rodríguez – assassinado numa emboscada do Exército em 1965. No dia 27 de maio daquele ano, acontece o ataque militar. As FARC surgem, então sem o objetivo de tomar o poder, mas de defender a plataforma camponesa local. A brutal repressão força a transformação das autodefesas em colunas em marcha.
De acordo com o professor e pesquisador da Universidade Nacional da Colômbia, Carlos Medina, o movimento constrói seu programa agrário e realiza uma série de conferências durante mais de dez anos. “Só em 1978 adquirem uma força significativa em todo o país, o que os permite dizer que não estão derrotados e podem desenvolver um processo de luta insurgente”, considera Medina. Um símbolo dessa mudança foi a adição em 1982 da expressão Exército do Povo (EP) ao nome original da guerrilha que passou a utilizar oficialmente a sigla FARC-EP, marcando sua posição ofensiva na busca de tomar o poder.
Paramilitarismo e o novo caráter da guerra
Especialmente nos anos 80, o conflito ganha outro caráter com o surgimento do paramilitarismo, em aliança com o Exército, setores empresariais e o narcotráfico. Essa força passa a se destacar como poderosa fonte de financiamento para a guerra, incluindo para a própria guerrilha. Para o jornalista Carlos Lozano, membro da direção nacional do PCC e porta-voz do Movimento Político e Social Marcha Patriótica, isso marca um período de início da degradação do conflito.
Vitor Taveira/Opera Mundi
Medina: governo Uribe muda a correlação de forças e obriga as FARC a se ajustar a uma nova estratégia de guerra
Conforme sublinha o deputado Iván Cepeda, “o paramilitarismo sempre esteve presente no conflito armado colombiano, como estratégia consciente utilizada para tirar do Estado o custo político e de legitimidade e delegar a terceiros a responsabilidade por crimes e violações de direitos humanos”. Ele ressalta que o auge da influência acontece com a chegada de Álvaro Uribe, a quem acusa estar intimamente ligado ao paramilitarismo, à presidência da República entre 2002 e 2010.
O estabelecimento do Plano Colômbia, pacote militar norte-americano, aliado ao lançamento do Plano Patriota e da política de Segurança Democrática no governo de Uribe, muda a correlação de forças e obrigam as FARC a se ajustar a uma nova estratégia de guerra do governo, centrada na inteligência militar e ataques aéreos, como afirma Medina. Pela primeira vez, integrantes do Secretariado da guerrilha são abatidos pela força pública, como é o caso de Raúl Reyes, Mono Jojoy, Iván Ríos e Alfonso Cano, que havia assumido o comando da guerrilha depois da morte do líder histórico Manuel Marulanda.
Além disso, o movimento insurgente perde força e território. “As guerrilhas foram debilitadas e sofreram golpes importantes, mas não foram derrotadas e retornaram a uma guerra de guerrilhas mais local e fluída”, considera Villarraga.
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