No início, em meados de setembro, eles eram uns quarenta, a maioria estudantes, semi-acampados em uma pequena zona verde no sul de Manhattan e unidos por um slogan: “Occupy Wall Street”. Um verdadeiro exército de Brancaleone, engajado em uma cruzada com objetivos indefi nidos e incompreensíveis, fáceis de serem subestimados, ridicularizados e até completamente ignorados, com seus cartazes (“tá com fome? coma um banqueiro!”).
Duas semanas depois, não só os “caça-banqueiros” se recusam a serem ignorados como o movimento cresce, se multiplica, contagia outras cidades americanas – Boston, Chicago, Los Angeles, San Francisco, até mesmo lugares improváveis como Syracuse e Columbus – e ganha fãs (entre estes, sem dúvida, muitos obamistas desiludidos) e apoio institucional. Os primeiros a não subestimar o potencial epidêmico do protesto, na realidade, foram a prefeitura e a polícia de Nova York que, desde o princípio, adotaram uma postura de intransigência, bloqueando totalmente o acesso dos manifestantes a Wall Street e desviando-os para um parque nas redondezas.
As 85 detenções durante a marcha do sábado, 24 de setembro, na Union Square causaram polêmica imediata, sobretudo o vídeo (que virou cult no Youtube) em que um alto oficial da polícia, Anthony Bologna, dava um banho de spray de pimenta em quatro mulheres de aparência totalmente pacífi ca – “como se fôssemos baratas!”, observou uma das senhoras ainda cega pelo líquido.
Protesto pacífico
Em resposta à indignação da opinião pública, o vice-inspetor Bologna acabou sob investigação (ele já tinha sido acusado em um processo por detenções desnecessárias durante as manifestações contra a Convenção Republicana em 2004).
Uma onda midiática e de simpatia geral se voltava para o Occupy Wall Street, e seu quartel-general no Zuccotti Park (então renomeado Liberty Park) era visitado por estrelas da esquerda, como Cornel West, Michael Moore, Russell Simmons, Alec Baldwin e Susan Sarandon, enquanto Naomi Klein e Noam Chomsky mandavam mensagens de apoio e centenas de americanos, cartões de crédito em mãos, pediam pizza e mandavam entregar aos manifestantes.
No sábado, 1° de outubro, de pouco mais de cem pessoas a marchar sobre a ponte do Brooklyn (sob os gritos de “ocupemos a ponte!”), eles passaram a alguns milhares – e, em resposta, mais de setecentas pessoas foram detidas, ainda que o protesto tenha sido pacífico. Às vésperas de uma campanha eleitoral que se anuncia escabrosa e afastada do presidente que elegeu com tanto entusiasmo há três anos, a esquerda americana está em busca do seu correspondente à onda populista do Tea Party. Talvez a sua origem esteja mesmo lá, no Zuccotti Park.
Tradução Carolina de Assis
Texto publicado originalmente no jornal Il Manifesto
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