Afresco encontrado em Pompeia, na Itália: figura une Priapo, deus da fertilidade (reconhecível pelo pênis), e Mercúrio, deus do comércio (reconhecível pelas asas nos pés e o caduceu). Talvez os antigos romanos já tivessem feito esta associação bem antes do acadêmico finlandês… Imagem via Wikimedia
“Pênis e PIB: as duas forças que movem o mundo?” É a pergunta que Fabio Sabatini faz em seu blog no site da revista italiana MicroMega, ao comentar o artigo acadêmico “Male organ and economic growth: does size matter?” (“O órgão masculino e o crescimento econômico: o tamanho importa?”), escrito por Tatu Westling, doutorando da Universidade de Helsinki, capital da Finlândia. O paper “demonstra” a existência de uma correlação significativa entre o PIB de um país e o tamanho do pênis ereto de seus cidadãos no período 1960-1985.
Segundo a pesquisa, em 1985 a relação entre os dois índices teria a forma de um U ao contrário (ou um pênis ereto, como observa Sabatini). Os países nos quais o tamanho médio do órgão sexual masculino é de até 12 centímetros são em geral subdesenvolvidos. Pênis médios estariam relacionados a PIBs mais altos, até o tamanho máximo de 16 centímetros; passando disso, o PIB cai vertiginosamente. Além disso, a taxa média de crescimento entre 1960 e 1985 é inversamente proporcional ao tamanho do pênis. Ao aumento de um centímetro pode corresponder uma redução entre cinco e sete por cento do crescimento econômico.
Westling adverte que tudo poder ser uma simples coincidência, e que pensar em uma relação de causa e efeito seria arriscado. Mas isso não o impede de fazer interpretações delirantes: segundo o pesquisador, o tamanho do pênis está ligado à testosterona, que pode influenciar a propensão dos homens ao risco. Ele deduz que nações em que os homens tem um órgão de tamanho médio e níveis de testosterona não muito altos são aqueles que fazem escolhas econômicas mais moderadas, com efeitos positivos sobre o PIB. Além disso, segundo o autor, o comprimento do pênis seria um elemento fundamental da autoestima masculina, comparável ao dinheiro. Um pênis longo tornaria poder e dinheiro – e a iniciativa necessária para obtê-los – menos importantes. Ou seja: a um pênis longo corresponderia um PIB curto, já que os homens teriam já quase tudo que podem desejar e não se esforçariam para melhorar a sua condição – “prefeririam copular a trabalhar”, diz Sabatini.
Segundo economista e acadêmico italiano, a leitura do artigo é preocupante: “não pelos resultados ou conclusões, mas porque é um testemunho eficaz do estado de saúde da ciência econômica moderna. (…) Que um doutorando em economia decida dedicar sua pesquisa a um tema como este, que tal pesquisa tenha um discreto sucesso na comunidade científica e que ninguém conteste a validade dos dados utilizados, são indícios da degeneração 'autística' da economia moderna.”
A pergunta que não quer calar é: e as mulheres? Elas foram solenemente ignoradas pelo pesquisador. “Se quase tudo depende do pênis, qual é o papel da força de trabalho feminina na produção e no crescimento econômico?”, pergunta Sabatini. Mas eis um dado óbvio, que não precisa de pesquisa acadêmica para comprovar: um sistema falocêntrico como o capitalismo – patriarcal por definição – só poderia mesmo nos levar à beira do abismo social e ambiental em que nos encontramos hoje.
Leia mais sobre PIBs e pênis no site da revista MicroMega.
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