Na bucólica Barnim, as instalações de energia verde também inspiram novas experiências comunitárias
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Fala-se muito em transição energética. E alguns já estão agindo. Um distrito com 100% de energias renováveis: uma aposta lançada pelos políticos eleitos, pelos habitantes e pelas empresas. Em Barnim, ao norte de Berlim, centrais solares, parques eólicos e centrais a lenha ou a biogás são contados às centenas. A produção de eletricidade não nuclear e sem hidrocarbonetos já ultrapassa as necessidades dos 180 mil habitantes da cidade. Tudo isso está criando empregos locais e trazendo dinheiro aos coletivos da região que fizeram investimentos.
Lá, a transição energética não é mais uma utopia. Painéis solares colocados sobre os blocos de habitações sociais, o teto da prefeitura e os parquímetros. Um pouco mais longe, a fachada inteira de um estacionamento de três andares já está coberta por uma instalação fotovoltaica. No térreo do edifício, uma conexão permite a recarga de veículos elétricos. Na rua principal, os estudantes discutem em frente à entrada da Escola superior de desenvolvimento sustentável, aberta em 1992.
Em Eberswalde, no distrito de Barnim, as energias renováveis estão por toda a parte. Com suas 90 centrais solares, de gás de descarga e de biomassa (madeira), essa comuna de 40 mil habitantes, a 60 km de Berlim, produz duas vezes mais eletricidade do que seus lares consomem.
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Parque voltaico
Na associação do distrito, a produção de energias renováveis cobria 150% das necessidades elétricas em 2009. “Nós constatamos que os 180 mil habitantes do distrito gastavam milhões a cada ano com energia”: cerca de 139 milhões de euros em 2008. “Se nada fosse feito, esse dinheiro sairia da região”, afirma Christine Schink, que trabalha há 17 anos no desenvolvimento de energias renováveis no distrito de Barnim. Com o aumento no preço da energia, as comunas também veem seus custos de funcionamento explodirem. Elas decidiram agir.
Resultado? Cerca de 700 instalações de energia verde no distrito de Barnim: 115 parques eólicos, 590 centrais solares, sete de biomassa, duas centrais hidráulicas. Ou seja, uma produção de 183 megawatts de eletricidade, injetados na rede em 2009 e readquiridos pela administradora da rede por tarifas preferenciais definidas por lei e garantidas por 20 anos. Dinheiro que volta aos caixas comunitários.
Os sistemas locais permitem o aquecimento de equipamentos públicos a um custo menor. Em Bernau, com 36 mil habitantes, uma central à lenha fornece aquecimento para uma parte dos edifícios públicos. “Um sistema bastante rentável para a cidade, porque a municipalidade possui mais de 1.000 hectares de florestas. Nós não compramos a matéria-prima”, explica Thomas Rebs, diretor de desenvolvimento econômico de Bernau. Ao norte do distrito, em Schorfheide, a escola, a creche, o refeitório, o ginásio e uma residência se aquecem integralmente com o calor rejeitado pela instalação de biogás da fazenda vizinha. Essa fazenda também produz eletricidade, revendida 10% mais barata que o preço de mercado.
Essa comuna bastante extensa (237 km2) e nada populosa é também a terra ideal para os parques fotovoltaicos. Ela já tem seis deles, um dos quais é o maior da Alemanha (o de Finowfurt), que se estende por 180 hectares. Um antigo território militar russo, que devia ter sido transformado no aeroporto regional. O projeto encalhou e um parque solar representava uma boa solução para substituí-lo. “A instalação foi realizada por um fundo de investimento. Conseguimos que ela pague aqui imposto profissional, por 20 anos. É evidentemente lucrativo para a municipalidade”, explica o prefeito, Uwe Schoknecht.
Iniciativa dos moradores
Os projetos municipais dão ideias aos cidadãos do distrito de Barnim. Em Eberswalde, 22 habitantes investiram na primeira central solar cooperativa do distrito. Instalada no teto da prefeitura, ela começou a funcionar em 2007. Outras iniciativas, em Wandlitz, por exemplo, foram realizadas. “Nós criamos uma associação em maio de 2010”, conta Wolf-Gunter Zätzsch. “Seis meses depois, a central solar entrou em funcionamento.” Nessa comunidade de 2.200 habitantes, mais de 130 painéis foram instalados sobre o teto de um ginásio. O custo: 88 mil euros, financiados sem empréstimo e sem subsídio público, por 24 sócios, com contribuições de 250 a 10 mil euros de cada um. A associação já tem um segundo projeto a caminho, com 18 novos sócios. A iniciativa parece vantajosa. Em 2011, o projeto rendeu 11.300 euros. Nesse ritmo, o investimento será amortizado em oito anos!
Os construtores da central solar de Wandlitz garantem 80% da potência instalada, 25 anos após o início do funcionamento. Consequentemente, as companhias de seguro não pagam caro. Um investimento certo, portanto, além de ecológico. A associação de Wolf-Gunter Zätzsch quer ir mais longe e lançar um parque eólico cooperativo. Mas os custos são maiores e um empréstimo será necessário. E, quanto mais caro, mais complicado. “Acima de 100 mil euros de investimento, é preciso fazer um apelo público por participação. É obrigatório. Mas o procedimento é caro”, afirma Andreas Neumann, gerente de outra instalação solar cooperativa do distrito.
Essas iniciativas dos moradores impulsionam uma nova dinâmica no distrito. “Nossa associação incentivou a comunidade a adotar uma estratégia energética”, reforça Wolf-Gunter Zätzsch. 27 dos 28 conselheiros votaram a favor. O envolvimento dos habitantes em grande número é muito importante para desenvolver energias renováveis. “Para que dê certo, eles devem poder participar do planejamento dos projetos, e não simplesmente serem consultados, e se engajar também do ponto de vista econômico”, analisa Beate Fischer, da coordenação nacional do programa “100% renováveis”.
Jardins da infância
Nos últimos dois anos, o distrito de Barnim também realizou (com financiamento federal) a renovação energética de 80% dos 90 jardins de infância do local. No futuro, o distrito também deverá desenvolver sua produção de aquecimento. Para a eletricidade, existem superfícies livres suficientes para implantar a energia eólica, parques solares e instalações de biomassa. Porém, mais difíceis de realizar são projetos rentáveis de aquecimento, pois não é possível transportá-lo por grandes distâncias.“Também seria necessário construir redes autônomas de eletricidade; em um primeiro momento, para as grandes empresas, as clínicas, a companhia de ônibus, a de tratamento de resíduos… depois, redes locais para os lares de Barnim”, estima Christine Schink.
Para Beate Fischer, a questão principal dos próximos dez anos será, em primeiro lugar, conseguir estocar no local uma parte da eletricidade produzida. Em dez anos, a Alemanha dará fim também às atividades de suas últimas centrais nucleares. Na França, isso ainda está muito longe de acontecer.
Tradução por Barbara Menezes
* Texto publicado originalmente na agência de notícias Basta!
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