Favela da Rocinha e o bairro de São Conrado, no Rio de Janeiro. Foto por Alicia Nijdam
Quase 80% da população da América Latina e Caribe vive em cidades, representando assim a região mais urbanizada do mundo. O dado é do relatório “Estado das Cidades da América Latina e Caribe”, produzido pelo Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), divulgado hoje (21). Apesar de ser altamente urbanizada, o crescimento demográfico e a urbanização, processos que no passado foram muito acelerados, perderam força. Atualmente, a evolução demográfica das cidades tende a se limitar ao crescimento natural.
50% da população urbana reside atualmente em cidades com menos de 500 mil habitantes e 14% nas megacidades (222 milhões e 65 milhões de habitantes, respectivamente). Um importante destaque foi feito às cidades de tamanho populacional intermediário, nas quais o progresso no acesso a água, saneamento e outros serviços têm aumentado a atratividade.
Como o êxodo migratório do campo para a cidade perdeu peso na maioria dos países, as migrações são agora mais complexas e ocorrem principalmente entre cidades. Também, segundo o relatório, são relevantes os movimentos de população dentro das cidades, entre o centro da cidade e sua periferia, bem como entre centros urbanos secundários.
O estudo constatou que, com a expansão urbana, muitas cidades transbordaram seus limites administrativos e terminaram por absorver fisicamente outros núcleos urbanos. O resultado foi o surgimento de áreas urbanas de grandes dimensões territoriais, às vezes formalizadas em uma área metropolitana, composta por múltiplos municípios e com uma intensa atividade em todos os âmbitos.
“A região precisa promover uma política territorial e um planejamento urbano que melhorem os atuais padrões de crescimento urbano, evitando uma expansão dispersa da cidade e propicie o adensamento, com melhor utilização do espaço, evitando assim uma maior segmentação física e social”, relatou o texto.
Desenvolvimento econômico
As 40 principais cidades da América Latina e Caribe produzem anualmente um Produto Interno Bruto (PIB) de mais de 848 bilhões de dólares. Desse total, estima-se que quase dois terços venha de áreas urbanas, onde se concentram os serviços e a indústria. Segundo o relatório, com o aumento das migrações, multiplicou-se o fluxo de remessas, o que pode representar mais de 10% do PIB em vários países.
Desde 1970, a renda per capita da América Latina e Caribe quase triplicou, porém veio com grandes disparidades. A evolução das taxas de urbanização tem sido constante em todos os países, enquanto a evolução da renda per capita foi mais variável, passando por ciclos e, em alguns casos, por retrocessos.
O relatório destacou os progressos significativos dos países latino-americanos e caribenhos na luta contra a pobreza nos últimos dez anos, mas ressaltou que ainda cerca de 124 milhões de habitantes de cidades vivem na pobreza, ou seja, um em casa quatro pessoas em áreas urbanas. A desigualdade “grave e persistente” também ganha destaque no relatório da ONU: “a desigualdade de renda é extremamente elevada e há, ainda, um déficit considerável de emprego e uma abundante informalidade trabalhista, que se concentram nos jovens e nas mulheres”.
Em termos econômicos, o peso relativo das megacidades está diminuindo em benefício de cidades menores, que oferecem condições mais competitivas. Destaca-se o dinamismo das cidades fronteiriças, cidades que se beneficiam de grandes investimentos industriais e cidades localizadas em corredores econômicos ou nos arredores de grandes aglomerações urbanas.
O relatório destaca que, para superar progressivamente a fragmentação social e urbana das cidades, é preciso combinar estratégias de crescimento econômico com políticas orientadas a corrigir a desigualdade de renda e qualidade de vida, assim como medidas de integração territorial e social. “Para isso, é fundamental a articulação de políticas econômicas nacionais com estratégias de desenvolvimento urbano definidas nas cidades e regiões”, diz o texto divulgado.
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Publicado originalmente no site Rede Brasil Atual
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