Desde o mês de abril, a tradicional biblioteca pública Friern Barnet, localizada ao norte de Londres, fechou suas portas após decisão do conselho local de Barnet (órgão distrital com status de Câmara Municipal e Prefeitura). O encerramento das atividades foi um duro golpe para os moradores, que passaram a ser obrigados a se deslocar para outros bairros para alugar livros. Para tentar reverter a medida, eles chegaram a conseguir mais de 700mil assinaturas, sem sucesso. As autoridades insistiam em um programa para alistar os moradores como voluntários para cuidarem de um novo estabelecimento próximo à sede do Conselho, iniciativa que causou forte rejeição popular.
Occupy London/divulgação
Tudo começou a mudar no início de setembro, quando um grupo de oito “squatters” conseguiu entrar na casa abandonada através de uma janela e reiniciaram as operações de empréstimos de livros. Agora, ela funciona quatro dias por semana e é administrada tanto por eles quanto pelos moradores locais, que aceitaram, nesse caso, trabalhar como voluntários.
No Reino Unido, “squatters” é um termo usado para definir as pessoas que invadem estabelecimentos residenciais ou comerciais desocupados. No entanto, eles não tem legalmente o direito de posse, aluguel e uso comercial sobre esses locais, nem permissão para seu usofruto, uma condição ao semelhante ao termo “sem teto”. Segundo levantamento da rede britânica BBC, existem cerca de 20mil “squatters no Reino Unido” e aproximadamente 650 mil propriedades desocupadas. Muitos squatters fazem parte do movimento Occupy London.
Por uma iniciativa do governo conservador do premiê David Cameron, desde o dia 1º de setembro, o ato de invasão de residências foi criminalizado e sujeito à prisão. Assim, o movimento começou a se focar em estabelecimentos comerciais.
A ocupação, de acordo com reportagem do jornal britânico Guardian, teve o apoio dos moradores, que gostaram de ver a biblioteca reaberta. Trata-se da primeira vez que os squatters londrinos se improvisam neste tipo de instalação, revitalizando um estabelecimento público.
As autoridades e forças de segurança não tentaram, até agora, expulsar o grupo do local, que, por sua vez, se autointitulam “guardiões” da biblioteca. Eles decoraram a entrada do prédio com cartazes portando lemas como “paz”, “revolução” e “ocupação”. No entanto, segundo relato de um conselheiro ao Guardian, as autoridades negociam para retomar pacificamente a propriedade, mas também considera deixar as coisas como estão, mas com embasamento legal.
Muitos moradores, no entanto, lançam críticas à iniciativa. Ele questionam porque a Prefeitura não pagar bibliotecários para fazer o trabalho que merece remuneração, em vez de um diretor que ganha dez vezes mais para recrutar voluntários que fazem esse trabalho gratuitamente.
De acordo com levantamento do Public Libraries News Website , o fechamento da Driern Barnet está longe de ser um caso isolado. Ela é apenas mais uma das 270 bibliotecas em todo o país que fecharam ou se encontram em situação de séria dificuldade financeira, em um total de 2.612 estabelecimentos recenseados.
Segundo o bibliotecário Ian Anstice, citado pelo Guardian, as bibliotecas públicas do Reino Unido atravessam a pior crise de sua história em tempos de paz. Apesar de elogiar as iniciativas dos squatters, ele adverte que essa pode ser uma chance dos conselhos municipais (em Londres, há um conselho para cada distrito) deixarem de investir nesses estabelecimentos. “Tudo isso facilita muito as coisas para os conselhos municipais se livrarem das livrarias e destruírem o que hoje se constitui em uma rede muito fragmentada”.
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