Os bancos cresceram 20 vezes mais que os outros setores da economia, graças à ajuda do setor público
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A rentabilidade do sistema financeiro do México, controlado por empresas estrangeiras, avançou como poucos setores da economia do país. Os lucros do sistema bancário cresceram, na última década, a uma taxa média de 41% ao ano, em valores nominais: dos 11,961 bilhões de pesos (1,766 bilhão de reais), de 2000, aos 71,855 bilhões, de 2011 (10,613 bilhões de reais).
Após o saneamento do sistema financeiro que se seguiu à crise mexicana de 1995, e a posterior entrega de alguns dos principais bancos a um novo grupo de investidores, os lucros das instituições de crédito cresceram, nos últimos onze anos, a uma taxa vinte vezes maior do que o progresso da economia geral do México no mesmo período, segundo dados oficiais.
Depois da brusca desvalorização do peso em dezembro de 1994, duas semanas após o início do mandato do ex-presidente Ernesto Zedillo (1994-2000), o governo federal decidiu socorrer os bancos — que enfrentavam crise de liquidez e uma potencial corrida bancária — com recursos públicos.
O modo como esse resgate foi feito, sem o aval do Congresso, foi motivo de controvérsia por vários anos, até que esses passivos foram assumidos como dívida com garantia pública no governo do ex-presidente Vicente Fox (2000-2006). A troca dos títulos que deram plena validade às obrigações foi conduzida entre o final de 2005 e meados de 2006.
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Recursos públicos
O lucro líquido dos bancos que operam no país chegou, entre 2000 e 2011, a 569,434 bilhões de pesos (quase 83 bilhões de reais), conforme mostraram os dados da Comissão Nacional Bancária e de Valores (CNBV). Esta quantia equivale a dois terços dos recursos usados pelo governo para financiar o custo do saneamento bancário de 1995.
O montante dos lucros obtidos pelos bancos em 2011 superou, visto nominalmente, isto é, sem o efeito inflacionário, em seis vezes os lucros registrados no início da década, segundo números da CNBV. No ano passado, o lucro líquido dos bancos chegou aos 71,855 bilhões de pesos.
A dívida gerada pelo resgate financeiro exigiu, desde 1995, substanciais recursos públicos, arrecadados junto aos contribuintes mexicanos e destinados essencialmente a cobrir os juros gerados pelos passivos, como revelou a ASF (Auditoria Superior da Federação), em fevereiro, o órgão de fiscalização da Câmara dos Deputados.
Enquanto os bancos saneados com recursos públicos apresentaram rendimentos crescentes aos seus acionistas, os contribuintes mexicanos pagaram 889,403 bilhões de pesos (131,364 bilhões de reais) para financiar o custo do resgate. Ainda assim, falta pagar outros 826,663 bilhões, segundo os dados divulgados pela ASF.
Tradução por Carolina Pezzoni
* Texto publicadoo originalmente no jornal mexicano independente La Jornada
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