Turma de formandos do programa cubano de alfabetização. À frente, de camisa branca, o educador José Chala
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Dezesseis aborígenes adultos da cidade de Wilcannia, na província australiana de New South Wales, são os primeiros graduandos de um programa revolucionário de alfabetização que não seria possível sem a ajuda de uma pequena nação caribenha: Cuba.
No começo deste ano, o educador cubano José Chala Leblanch chegou em Wilcannia para ajudar a estabelecer um programa de alfabetização baseado no método de ensino Sim, Eu Posso, mundialmente conhecido e desenvolvido em Cuba.
Indagado sobre como um educador cubano acabou dirigindo um programa de alfabetização em uma pequena cidade rural da Austrália, Chala explicou que este foi apenas o último exemplo do longo histórico cubano de demonstração de solidariedade para com outros países.
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O espírito de solidariedade internacional, junto com o foco na educação, foi central para a revolução cubana, iniciada com a derrubada de uma ditadura corrupta em 1959. Uma das primeiras tarefas assumidas pelo povo e pelo governo cubano foi o fornecimento de educação.
Em 1961, uma enorme campanha nacional pela alfabetização, envolvendo cerca de 100 mil jovens voluntários, foi lançada a fim de oferecer a todos a oportunidade de aprender a ler e escrever. “Em menos de um ano, fomos capazes de resolver o problema do analfabetismo”, disse Chala. “Após algum tempo, começamos a ajudar outros países e a desenvolver um programa chamado Sim, Eu Posso, elaborado por especialistas da área de educação, incluindo alguns que participaram da campanha nacional pela alfabetização em 1961”. Desde então, o programa Sim, Eu Posso foi usado em 28 países e ajudou a ensinar mais de seis milhões de pessoas a ler e a escrever.
Proposta
O Projeto Wilcannia marcou a primeira vez que o método foi utilizado na Austrália. Segundo Chala, a ideia para o método de alfabetização de aborígenes adultos surgiu há cerca de dez anos, quando algumas pessoas começaram a “buscar um programa que pudesse ser utilizado por essas comunidades”.
Em 2009, uma ideia mais concreta foi desenvolvida, quando líderes aborígenes reuniram-se em Alice Springs e solicitaram mais informações sobre o método cubano.
Uma proposta foi enviada em 2011 para o governo australiano, que concordou em financiar o piloto do projeto.
Participação
Garantir que “a comunidade se sentisse na liderança da campanha” desde o início foi um fator central, acrescentou Chala. Antes de sua chegada, os anciões locais e o líder do projeto da Campanha pela Alfabetização de Aborígenes Adultos, Jack Beetson, começaram a explicar para a comunidade o propósito do programa.
“Foi um processo gradativo e lento, mas eu acho que esta é a melhor forma de fazer as coisas, porque queríamos que a comunidade fosse parte da campanha”, disse Beetson.
Segundo ele, a alfabetização é um direito humano central que qualquer pessoa deve possuir. O forte foco no envolvimento da comunidade foi um elemento central para o sucesso do projeto em um local onde várias outras tentativas similares fracassaram.
“Desde o princípio, contávamos com uma equipe da comunidade local que nos deu orientações”, explicou o líder do projeto. “Cada casa onde vivesse pelo menos um aborígene foi visitada, seus membros entrevistados, como parte do processo”, para descobrir quais eram as necessidades de alfabetização daquelas pessoas.
“Aprendendo a ler e a escrever, eles também desenvolvem sua capacidade de comunicação oral, de modo a falar sobre problemas que afetam a comunidade. Tornam-se mais participativos e têm vontade de continuar aprendendo”, lembrou Chala.
Segundo o educador cu-bano, embora 16 pessoas tenham finalizado o curso (dez na primeira etapa e seis na segunda), o impacto total do projeto não pode ser medido em números. Como resultado, “se você vai para Wilcannia agora, pode perguntar a quase qualquer pessoa sobre o programa, mesmo àqueles que não estiveram envolvidos, e eles irão dizer coisas positivas”.
“Cuba deseja mostrar solidariedade, colaborar. Nós achamos que podemos fazer um trabalho melhor em associação, beneficiando aqueles que têm maior necessidade, neste caso, o povo aborígene”.
A secretária parlamentar federal para educação superior da Austrália, Sharon Bird, que esteve presente na cerimônia de graduação do programa, disse à ABC Radio que acredita que o programa foi “um sucesso para a cidade e um orgulho para todos”.
Tradução por Henrique Mendes
* Texto originalmente publicado na revista australiana Green Left
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