Os 512×512 pixels “padrão” retirados do pôster central da edição de 1972 da revista Playboy norte-americana
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Além de ter sido escolhida a Coelhinha do Mês de Novembro de 1972 da revista Playboy, a sueca Lena Söderberg é um dos rostos mais conhecidos entre os aficionados por internet. Os 512 x 512 pixels de “Lena” — ou “Lenna” — constituem certamente uma das imagens digitais mais usadas na história da indústria tech. A “primeira-dama da internet”, como é conhecida, transformou-se no status quo dos testes digitais. Ao longo das últimas quatro décadas, sempre que foi preciso verificar a eficiência de algum algoritmo novo para comprimir e transmitir imagens pelo computador, engenheiros e programadores têm recorrido ao rosto singelo da playmate, um dos primeiros “memes” da internet.
A trajetória rumo ao topo começou no ano de 1973, em uma universidade na Califórnia. Na ocasião, prestes a assistir a uma conferência de um colega, Alexander Sawchuk, professor de engenharia elétrica, procurava uma imagem qualquer para escanear durante a demonstração no painel. Tradicionalmente, eles escolhiam qualquer uma dentre as disponíveis no estoque de testes, mas estavam cansados das figuras ultrapassadas e sem graça, que remontavam ao padrão dos testes feitos com televisões, uma década antes.
Eles queriam algo diferente. Algo que tivesse qualidade para explorar o potencial e a qualidade do equipamento. Algo com texturas e cores vivas. Algo com um rosto humano. Foi aí que algum engenheiro, despretensioso, apareceu portando uma edição recente da revista Playboy. Imponente, no pôster central da publicação estava a playmate sueca, clicada pelo fotógrafo Dwight Hooker.
Para o scanner, cuja resolução máxima era de 100 pixels, os técnicos precisavam de apenas 5.12 polegadas de imagem. Assim, do pôster de corpo inteiro da coelhinha foi “cropada” (cortada e redimensionada) uma imagem quadrada contendo apenas o olhar fixo e parte dos ombros da modelo.
Para o bem da ciência e do conhecimento, diversas universidades nos EUA (a exemplo do Signal and Image Processing Institute, da USC) disponibilizaram, ao longo dos últimos quarenta anos, a imagem de Lena como uma espécie de padrão para a realização de testes. Esses arquivos standard são usados por diferentes instituições para testar algoritmos de processamento e compressão de imagens. Ao adotar as mesmas figuras, é possível fazer comparações entre os métodos empregados.
Conforme aponta o site The Next Web, em uma rápida busca no Google Acadêmico, os termos “Lena image” e “Lenna image” produzem mais de 13 mil resultados, entre os quais links da Nasa e da Microsoft.
Por ser dona de um rosto cujos traços estão encriptados no DNA da internet, Lena Söderberg foi convidada em 1997 para abrir a 50ª Conferência Anual da Sociedade para a Tecnologia e Ciência da Imagem.
A própria Playboy, notória por combater o uso ilegal de suas imagens, rendeu-se ao sucesso da coelhinha — ou julgou ser uma boa oportunidade para dar publicidade à marca. “Decidimos que devíamos explorar isso, pois ela é um fenômeno”, disse Eileen Kent, vice-presidente da revista, que ajudou a localizar a coelhinha para o evento.
Ocupada distribuindo autógrafos e posando para fotos com os geeks presentes na conferência, Lena custou a compreender seu papel nos anais da internet. “Eles devem estar tão cansados de mim… Olhando para a mesma figura por todo esse tempo”, comentou Lena, que permaneceria alheia à fama, sem conhecer todo o seu legado digital caso não tivesse recebido o convite.
Abaixo, montagem feita pelo artista The Rathaus:
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