Miguel Caballero e Carolina Ballesteros, empresário e criadora da linha infantil de peças à prova de balas
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À primeira vista parece uma mochila comum, semelhante às que as meninas em idade escolar levam nas costas quando vão ao colégio. A cor é rosa, de lona, e a estampa pode ser com listras coloridas. Por dentro, no entanto, o material é de Aramidas. Cada centímetro quadrado desse produto, cujo preço é 500 dólares, resiste ao impacto de uma bala.
A empresa de produtos de segurança de Miguel Caballero nasceu há vinte anos e, como parte de sua ética de negócios, ele nunca quis desenvolver roupas de segurança para o segmento infantil. Acredita que as crianças devem permanecer à margem do conflito armado. Por esse motivo, há cinco anos, negou-se a criar coletes à prova de balas para menores de 18 anos. Porém, logo após o massacre que matou 20 alunos nas salas de aula de um colégio em Newtown (Estados Unidos), a empresa recebeu centenas de mensagens por email de pais dos Estados Unidos que, com certo desespero, pediam roupas “blindadas” para seus filhos.
“Certo dia Miguel chegou em casa e fez um comentário sobre o volume das mensagens eletrônicas”, disse Carolina Ballesteros, mulher de Miguel e criadora da coleção no segmento infantil. Depois dessa conversa, porém, ela criou cinco modelos de itens de segurança para crianças: o colete-mochila, bolsas, coletes, camisetas, além de uma espécie de colete salva-vidas, para ser usado na prevenção a acidentes e que permaneça sempre à mão nos colégios, exatamente como os extintores de incêndio e as caixas de primeiros socorros.
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Coleção pronta
A notícia de que um colombiano lançaria em janeiro deste ano uma linha de roupas “blindadas” para crianças pulverizou-se nos meios de comunicação no mundo todo. Miguel recebeu mais de 500 mensagens de email de publicações e de consumidores, apesar de a linha de produtos ainda não ter chegado ao mercado. Do total de mensagens, 98% dos emails aprovam a iniciativa, porém 2% não concordam com a ideia de que criar coletes de segurança para crianças seja a saída para enfrentar o problema.
“A coleção de roupa infantil está pronta para chegar ao mercado. É mentira, como anunciam os meios de comunicação, que já vendíamos esse produto”, afirma Miguel. O valor final das peças deve oscilar entre 200 e 700 dólares. O preço é alto, entre outros motivos, porque cada produto é elaborado com Aramidas, um material com regulador de temperatura com certificado aprovado pela Nasa. O calibre mais alto que cada roupa suporta é o popular 9 milímetros, usado em várias pistolas e submetralhadoras, como a MP5 e a Mini Uzi.
Apesar de nunca ter querido lançar uma linha infantil de vestuário de segurança, Miguel viu a oportunidade como uma necessidade urgente para o mercado norte-americano, onde a grife Miguel Caballero é vendida apenas em Miami. Do total de sua linha de produtos, 95% são exportados principalmente para o mercado asiático e América Latina. Apenas 5% permanecem no mercado colombiano. A marca é mais conhecida no exterior e chega a 50 países em todo o mundo.
Miguel espera produzir duas mil peças no primeiro lote de sua coleção. Os itens de segurança para o público infantil serão vendidos a distribuidores nos Estados Unidos e na China. No país asiático, foram realizados pedidos de peças que protejam crianças de ataques com armas brancas.
Mais segura
No entanto, os itens não podem ser usados por menores de oito anos. O estudo de mercado para lançar essa linha de vestuário foi acompanhado por pediatras que recomendaram não utilizar esse produto em crianças com menos de oitos anos, nas quais a baixa taxa de gordura seria insuficiente para absorver o impacto da bala, mesmo com o vestuário de segurança. Além disso, a coluna vertebral do público infantil dessa faixa etária não poderia suportar o peso do colete ou da mochila, apesar de esse produto não superar dois quilos.
Acompanhado do colete-mochila, Miguel Caballero quer que seu colete antibalas vermelho seja institucionalizado em colégios nos Estados Unidos: “Basta apenas que a professora ordene que os alunos vistam o colete”. O colete pode ficar debaixo da mesa ou localizado perto de onde as crianças deixam seus casacos. Essas são algumas das ideias do empresário, que justifica a escolha da cor vermelha: “Se você for o agressor, numa situação como a da escola de Newtown, o alvo será o mais chamativo que encontrar no momento do disparo”. Com adultos funciona de forma contrária, nunca se idealizaria um colete antibalas de cor vermelha para um adulto.
Miguel confirma com orgulho o fato de a Colômbia não ser tão insegura quanto os Estados Unidos a respeito do porte de armas. Em uma entrevista a uma emissora de Chicago, o jornalista afirmou: “Claro que desenhar roupas à prova de balas em um país como a Colômbia tem lógica, porque há armas, narcotráfico e drogas”.
Ao que Miguel Caballero respondeu: “Não, isso aconteceu há dez anos, hoje meu país é mais seguro do que o seu”.
Tradução Mari-Jô Zilveti
* Texto publicado originalmente na revista digital Kienyke
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