Pranav Yaddanapudi
Efígie de Ghandi em nota de rúpia: fosso entre o potencial econômico da Índia e seu desempenho real é imenso
Os indianos não estão acostumados a ganhar competições esportivas mundiais. Nenhum Tiger Woods ou Serena Williams indiano atraiu a imaginação global. E nas Olimpíadas, considerando uma base per capita, os indianos se situam quase no ultimo lugar na conquista de medalhas. A não ser pelo críquete, eles se acostumaram psicologicamente à ideia de que não são bons em vencer competições mundiais.
Será, portanto, um grande choque para muitos indianos descobrir que são o número um do mundo na mais importante competição global: a do desempenho econômico. A arena onde se dá a mais dura competição está nos Estados Unidos. O país acolhe imigrantes de todas as partes do globo, oferecendo-lhes igualdade de condições, e os estimula a se colocarem à prova diante da concorrência mundial. Os proprietários de uma adega mexicana disputam clientes com uma mercearia de sul-coreanos. Codificadores israelenses desafiam hackers russos. Microbiólogos chineses competem por recursos com geneticistas suíços.
E quem saiu na frente nessa competição global acirrada e sem paralelo? Os indianos. A renda per capita deles situa-se agora como a mais elevada entre quaisquer grupos étnicos nos Estados Unidos: em 2010, os indianos ganhavam US$ 37.931 anualmente, enquanto a média nacional é de US$ 26.708. Se a população da Índia, de 1,2 bilhão, pudesse alcançar somente metade da renda per capita dos imigrantes indianos nos Estados Unidos, o PIB (Produto Interno Bruto) do país hoje seria de US$ 24,65 trilhões em vez do relativamente insignificante US$ 1,85 trilhão, menor que o da Itália.O fosso entre o potencial da Índia e seu desempenho real é imenso, talvez maior que o de qualquer outro país.
Habilidade competitiva
O desempenho da Índia na arena dos Estados Unidos não é exceção. Número expressivo de indianos emigrou para todos os cantos do mundo – América do Norte e do Sul, Europa e África, e por toda a Ásia. Para onde quer que tenham ido, saíram-se bem. Os registros mostram que, em condições igualitárias na concorrência econômica mundial, os indianos podem se tornar os primeiros.
Infelizmente, poucos líderes indianos ou autoridades parecem ter compreendido o significado desses dados abrangentes, globais, sobre as habilidades competitivas dos indianos para a economia. Se tivessem, a Índia se tornaria a campeã em velocidade de globalização. Em vez disso, porém, mesmo com as evidências mostrando que os indianos poderiam se beneficiar da aceleração da globalização, o governo da Índia continua a pisar no breque sempre que se trata de discutir o tema. O exemplo mais recente foi a última reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Bali, onde a Índia empenhou-se em manter seus subsídios que distorcem o comércio de grãos em vez de optar por assistência em dinheiro para os pobres.
Ao pisar no freio, o governo indiano está na prática dando um tiro no próprio pé. Em vez de servir aos interesses de longo prazo da sociedade indiana, ele os está minando. Para reverter esse padrão de comportamento autodestrutivo, a sociedade indiana deveria imediatamente adotar três novas atitudes.
Em primeiro lugar, deveria mudar completamente sua mentalidade no que se refere à competitividade da economia indiana. Em vez de enxergá-la como uma economia fraca e indefesa, prestes a ser destroçada pela competição mundial se as barreiras comerciais e outras forem reduzidas, deveria partir do pressuposto de que os indianos na Índia, como os indianos fora da Índia, vão prosperar quando se virem diante da competição mundial aberta.
IMF Staff Photo/Stephen Jaffe
Raghuram Rajan: do Fundo Monetário Internacional para a direção do banco central indiano
Talentos globais
Há um jeito simples de a Índia demonstrar essa mudança de mentalidade. Nas negociações da OMC (2013), a delegação indiana é famosa por dizer “Não!”. O acordo de Bali na OMC esteve sob o risco de fracassar porque a Índia uniu-se a Bolívia, Cuba, Venezuela, Zimbábue e África do Sul na oposição. No final, outros países adequaram-se à Índia para chegarem a um acordo. Se a Índia se enxerga como relativamente fraca, essa era mesmo a companhia que deveria escolher. Mas se o país se considerasse um competidor econômico relativamente forte, deveria ter se unido aos países do leste asiático, entre os quais China, Japão, Coreia do Sul e Cingapura, e dizer “Sim!”. Em suma, a recusa da Índia em mudar sua mentalidade está impedindo a criação de condições igualitárias e abertas, em nível mundial, nas quais os indianos iriam naturalmente florescer.
Em segundo lugar, a Índia deveria fazer maior uso de seu mais rico recurso natural: a bem-sucedida diáspora indiana. A nomeação de Raghuram Rajan como principal executivo do Reserve Bank of India (banco central indiano) foi uma iniciativa brilhante. Ele transpira confiança cultural. Esse foi o homem que corajosamente enfrentou todos os proeminentes gurus econômicos norte-americanos, incluindo Alan Greenspan, durante evento em Jackson Hole (EUA), em 2005, e lhes disse que uma grande crise mundial estava prestes a se desenrolar. Os economistas rejeitaram seu aviso, somente para descobrir mais tarde que estava completamente certo. Nessa coleção dos melhores cérebros econômicos do mundo, Rajan mostrou que era o Tiger Woods da economia mundial.
Para cada Raghuram Rajan que a Índia levou para casa, há pelo menos uma centena, se não um milhar, mais preparados para retornar e servir ao país. Nenhuma outra nação no mundo chega perto da Índia no acesso a tamanha reserva de talentos globalmente competitivos. Sim, esses retornados vão se erguer e criar dificuldades, mas eles são precisamente o tipo de fazedor de mudanças de que a Índia precisa agora para destruir a antiga mentalidade antiglobalização que tem mantido o país atrasado.
American Center Mumbai
Vendedora de sacolas de polietileno em rua de Bangalore: protecionismo dificulta o crescimento econômico indiano
Atitude ambivalente
Em terceiro lugar, os magnatas dos negócios na Índia precisam abandonar sua ambivalência em relação à globalização. Essa ambivalência é compreensível. Por um lado, eles se dão conta de que são mundialmente competitivos. Muitas empresas indianas fizeram sucesso globalmente, incluindo Tata, Wipro e Infosys. Por outro, eles relutam em pressionar o governo indiano a dizer “sim” nas negociações da OMC porque não querem ceder seu acesso privilegiado ao mercado de consumo indiano, de rápido crescimento. Eles não veem motivo para dividir esse imenso mercado com outros. Ao adotar essa atitude ambivalente, os magnatas dos negócios na Índia estão sacrificando tanto os seus interesses, como os de longo prazo do país, em troca de alguns lucros no curto prazo.
Essas empresas indianas deveriam ser guindadas para um número mencionado no começo deste artigo: a economia de US$ 25 trilhões. Ao protegerem a atual economia indiana de quase US$ 2 trilhões, elas estão impedindo-a de crescer em muitas vezes mais. Para entender a loucura de suas atitudes, as empresas indianas precisam apenas comparar-se com as sul-coreanas e assim compreenderão o pesado preço econômico que vêm pagando por serem relativamente protecionistas. Em 1970, o setor manufatureiro da Coreia do Sul correspondia a menos de 25% do da Índia.Em 1962, as exportações manufatureiras da Coreia do Sul eram insignificantes. Em 2011, as exportações de manufaturados sul-coreanos superavam as da Índia em quase 2,5 vezes. Empresas como a Hyundai e a Samsung deveriam ter surgido na Índia, não na Coreia do Sul, se as empresas indianas tivessem assumido uma atitude mais pró-globalização.
Muitos magnatas dos negócios na Índia ainda acham difícil acreditar que eles podem se tornar verdadeiramente de classe mundial. A estrada para o topo parece muito assustadora. Deixe-me sugerir um atalho geopolítico simples. Por razões geopolíticas óbvias, o Japão desenvolveu um forte desejo de cooperar com a Índia. E os empresários japoneses também. As empresas japonesas podem ensinar às companhias indianas uma ou duas lições sobre como competir em nível global. A grande pergunta: as empresas indianas podem tornar-se tão confiantes culturalmente como os indianos dos Estados Unidos para concorrer em condições de igualdade em nível mundial? Se puderem, elas se tornariam as novas campeãs da globalização de que o nosso mundo precisa desesperadamente.
Tradução Maria Teresa Souza
Texto reproduzido com a permissão de YaleGlobal Online, publicação do MacMillan Center, Yale University.
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