UNDP
Equipe do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas em visita às obras do futuro centro financeiro em Lagos
Lagos se agita com um excesso de energia não apenas de dia e de noite, mas, sem parar, ao longo da madrugada – o ciclo nunca é interrompido e os habitantes amam descrever a ex-capital da Nigéria como “cidade que nunca dorme”. É a cidade de Fela Kuti, mestre do afrobeat, famoso por seus sarcásticos comentários sobre a sociedade, e também o local onde o empresário Aliko Dangote (originalmente de Kano, considerado o homem mais rico da África) acumula hoje uma fortuna de US$20 bilhões.
No entanto, as terríveis favelas e o déficit habitacional, os problemas de trânsito onipresentes, a alta taxa de criminalidade e as inundações marítimas são apenas alguns dos problemas que atormentam Lagos. Mas a cidade está mudando e lentamente, mas sem sombra de dúvidas evoluindo para melhor.
A história de Lagos está intimamente ligada à da própria Nigéria: a recessão econômica do início dos anos 1970 e 1980 gerou uma migração maciça para áreas urbanas. Isto levou à hiperdistensão que transformou a cidade no que ela é hoje, com 21 milhões de pessoas confinadas em um espaço de apenas 356.861 hectares.
Em 1999, Lagos havia atingido seu ponto máximo de elasticidade, precisando reinventar-se ou ver o início de um rápido declínio. Em 2007, Babatunde Fashola, advogado e membro do governo anterior, tornou-se governador de Lagos e, em questão de meses, as pessoas começaram a perceber diferenças. O simples fato de que se pudesse aplicar a Lagos um planejamento urbano, que compensasse a obsolescência dos espaços na cidade, chocou tanto residentes quanto forasteiros.
Mantra da mudança
Dentro de um curto período de tempo, aterros sanitários foram transformados em jardins. Outro exemplo eram os onipresentes engarrafamentos de trânsito em locais como Oshodi, área que foi transformada por meio da demolição de estruturas ilegais e do despejo de ocupantes. Dessa forma, a expressão em iorubá “Eko Oni Baje”, “Lagos não deve ser estragada”, transformou-se no mantra proferido por cada homem, mulher e criança. E o mundo também notou o fato: marcas globais e franquias de luxo, como Porsche, Radison Blu e Ermenegildo Zegna, chegaram aos montes.
Além dos recentes avanços do atual governo, seu mais ambicioso projeto até o momento é o Eko Atlantic City; promotores do empreendimento o descrevem como o novo epicentro financeiro da África Ocidental. Alguns até mesmo o chamaram de Manhattan ou Dubai da África. Quando a Eko Atlantic City for finalmente construída, ela abrangerá sete distritos com saída para o mar, portos iluminados, a Eko Drive, a Marina Avenue e a área central. O Distrito Financeiro se estenderá por 1,3 milhões de metros quadrados de terra, incluindo bancos, seguradoras e outras multinacionais do setor de petróleo e gás. A Bolsa de Valores da Nigéria também terá um departamento no local.
A tarefa de construir essa cidade ficou nas mãos da South Energx Ltd., sob o modelo BOT (Built-Operate-Transfer, ou Construção-Operação-Transferência) por um período de 35 anos, antes da propriedade ser transferida para o estado de Lagos. No entanto, a Eko Atlantic vem com uma etiqueta de preço – US$ 6 bilhões. O financiamento da empreitada foi uma inovação por si só no desenvolvimento dos espaços urbanos do país. Os fundos vieram de um consórcio de bancos, incluindo o First Bank, o First City Monument Bank e o Guaranty Trust Bank. Também se espera que o capital advindo da venda dos terrenos também auxilie na construção da nova infraestrutura.
Mas a Eko Atlantic City não resolverá o resiliente problema habitacional de Lagos, com sua população atual superior a 20 milhões de habitantes e estimativas de atingir 27 milhões por volta de 2020. Estes números deveriam ser suficientes para assustar qualquer administrador público, coibindo tentativas de dar passos muito grandes.
Forgemind ArchiMedia
Escola flutuante da favela de Makoko: projeto arquitetônico construído sobre barris plásticos tem design premiado
Acesso à educação
Há muitos indivíduos e grupos inovadores que compartilham o ponto de vista de Fashola. Isto inclui o entusiasta da renovação urbana e arquiteto Kunle Adeyemi, cuja escola flutuante é uma das imagens mais icônicas da favela suspensa de Makoko. Sua construção flutua sobre mais de 200 barris plásticos e foi indicada como um dos designs de edifícios mais inspiradores do ano de 2014 pelo Museu do Design de Londres.
O empreendedor social Otto Orondam, que disse ter se cansado de criticar o futuro ameaçado do país, também auxiliou o governador Fashola na concretização de seu sonho, ao desenvolver o projeto Favelas para Educar a África, que fornece acesso à educação e a materiais educacionais nas favelas de Lagos, contando com o auxílio de um exército de voluntários. Até o momento, a iniciativa permitiu que milhares de crianças residentes nas favelas da capital pudessem ser educadas.
Para Fashola, “não há linha de chegada nesta jornada, trata-se de um desejo contínuo de tornar as coisas melhores do que jamais poderíamos imaginar”. O caos opressivo da cidade segue adiante, dia e noite, e os administradores e residentes continuam a ventilar a ideia de que Lagos precisa superar o processo de favelização e, finalmente, tornar-se uma cidade da qual seu povo possa se orgulhar.
“Eko oni baje o!”
Tradução Henrique Mendes
Texto originalmente publicado em African Arguments, site de blogs e matérias dedicado a temas de impacto e interesse para o continente africano.
NULL
NULL