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Sala do quebra-quebra no The Break Club: criando coragem e relaxando a tensão
No bairro de Palermo, em Buenos Aires, de segunda a domingo, das 8h às 20h, funciona The Break Club, um clube onde, além da cerveja, é oferecido um bastão de madeira para bater e quebrar objetos. A concepção do local é de Guido Dodero, publicitário e projetista de transportes que, durante uma viagem à Europa, teve a ideia de construir um espaço para desabafar.
“Em 2007, vi uma ação de marketing em Madri para os hotéis NH onde se organizou um concurso para ver quem estava mais estressado e dar-lhe a possibilidade de “remodelar” o hotel. Creio que em algum canto da minha cabeça isso ficou flutuando.”
O clube nasceu há três anos e é um ponto de encontro na capital argentina e uma alternativa diferente para o estresse. Falamos com seu criador sobre o conceito e os serviços oferecidos:
O que é The Break Club?
The Break Club é um lugar para bater e quebrar objetos obsoletos, liberar tensões e se divertir com seus amigos de uma forma que você nunca experimentou. E, principalmente, quebrar objetos!
Quando nasceu a ideia?
Sabemos que as ideias não saem de uma lâmpada mágica. São inputs de muitas e variadas coisas. Em 2007, creio, vi uma ação de marketing em Madri para os hotéis NH, onde haviam organizado um concurso para ver quem estava mais estressado e para oferecer a possibilidade de remodelar o hotel.
Creio que em algum canto do meu cérebro isso ficou dando voltas. E depois de viver na Europa e ter a possibilidade de ver meu país do lado de fora, vi um argentino que se jactava de sua introspecção, profundidade e lados escuros, leia-se problemas, e desfrutava de seu gene “tanguero”, porém sem saber que isso apenas nos condiciona a ser o país que mais se psicanalisa, e um dos últimos, se não for o último, onde se continua ensinando psicanálise como método efetivo para enfrentar a vida de Buenos Aires.
Como se divide o espaço: tem um antes, um durante e um depois de bater?
Recebemos você em um “lobby” com poltronas, onde se vê muitas coisas destruídas e se começa a entender o lugar. Há uma janela que nos deixa entrever o espaço para quebrar e já dá vontade de entrar lá. Depois você passa para a primeira sala onde coloca as proteções (capacete, luvas, proteção facial), escolhe o instrumento com que quebrar, o que quebrar e a música de fundo.
Daí você entra na segunda sala e começa a quebrar. Você ri, chora, dá chutes enquanto voam vidros por todos os lados e, por último, para um contraste de emoções e sentimentos, temos a última sala, com uma poltrona, música ambiente, uma iluminação tênue e você toma alguma coisa. Água, chá, ou vai que esse é o perfeito momento para tomar uma cerveja.
As pessoas podem falar o que lhes angustia?
Claro, mas não forçamos nada. Não é nosso estilo. É mais do que isso. Há aquele sujeito que vem numa terça-feira às 15h e às 15h15 já está de novo na rua. Ou alguém que fica uma hora e meia aproveitando cada espaço o maior tempo possível.
Quais objetos podem ser quebrados?
Desde garrafas até telas de plasma de 66 polegadas. E apesar de as telas de computadores serem as preferidas, também oferecemos o que atende por “Destruição à la carte”, onde você pode customizar a sala como quiser. Com objetos e fotos que ajudam na catarse.
O que acontece com a clientela depois que ela bate e quebra objetos?
A adrenalina liberada é algo único que é preciso experimentar para saber o que se sente. Alguns, no entanto, descrevem a sensação como a de fazer uma atividade esportiva extrema no meio da cidade. Eu considero a atividade um “reset cerebral”. Porém acredito no que uma participante que veio aqui e a descreveu perfeitamente: “É como ir à academia e ao psicólogo de uma vez só”.
Quanto custa uma sessão?
Entre 100 e 500 pesos argentinos. Depende do que você quebrar. Você também pode doar objetos e acabar quebrando de graça.
Há sessões em grupo?
Sim. Estamos organizando eventos, de despedidas de solteiros a festas corporativas.
A dinâmica é a de um bar. As pessoas bebem, frequentam durante a noite? Como funciona?
Sim, há pouco tempo começamos com o “after office”, imagine o que você sente ao terminar um árduo dia de trabalho e se juntar com seus amigos para quebrar coisas.
Há outro tipo de clube desse gênero no mundo?
Há lugares que oferecem o serviço para quebrar objetos, mas não é o tipo de serviço que oferecemos. Desde a forma de fazer a comunicação até a reciclagem dos objetos quebrados.
Frequentam o clube apenas argentinos ou estrangeiros?
Na verdade, a proposta atrai gente do mundo todo. Claro que a reportagem que saiu na BBC nos ajudou, mas a que saiu na Globo, no Brasil, foi a que mais fez barulho. De resto, tanto portenhos como turistas, sempre estamos em busca de novas experiências.
Vocês recebem assessoria de especialistas, psicólogos, psiquiatras?
Quando criamos o grupo, sim. Foi a parte mais complexa. Estivemos em contato com psicólogos, pedagogos, esportistas e advogados. Conseguir encontrar um ponto médio que cubra todos os aspectos foi uma de nossas metas.
E quando as pessoas chegam em casa?
Alguns voltam aqui e nos contam. Em geral eles têm seus grupos de amigos, trabalho e família esperando que contem o que sentiram para também vir aqui. Muito do nosso crescimento vem do boca a boca dos clientes.
A atividade costuma gerar uma reflexão sobre o pouco contato que temos com nossa parte “física”, de perceber que estamos muito tempo sentados na frente de um computador. Alguns nos contaram que começaram a ir à academia, outros a fazer algum tipo de arte marcial e alguns chegaram a comprar um saco de pancadas profissional, parecido com o que temos no clube.
Vocês pretendem abrir filiais em outras cidades?
Estamos pensando nisso. Agora mesmo estamos negociando com Inglaterra, Brasil e México. Bogotá ainda não se manifestou.
Tradução Mari-Jô Zilveti
Texto originalmente publicado em KyenyKe, veículo colombiano on-line que divulga matérias sobre diversos temas privilegiando o lado humano da informação.
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