Pela primeira vez nos EUA, a Agência de Proteção Ambiental da Califórnia (Cal/EPA, por sua sigla em inglês) informou que pensa em reclassificar o glifosato – ingrediente tóxico ativo do herbicida Roundup, da Monsanto – como “provável causadora de câncer”.
Segundo uma “nota de intenção”, publicada recentemente pelo Escritório de Avaliação de Risco Sanitário Ambiental (OEHHA, por sua sigla em inglês), pertencente à Cal/EPA, a ação entra no âmbito da Proposta 65, da Califórnia, que obriga o Estado a publicar uma lista de produtos químicos conhecidos por serem causa de câncer, defeitos pré-natais e outros danos reprodutivos.
Flickr/Mike Mozart CC
Roundup, da Monsanto: Califórnia quer incluir glifosato, ingrediente tóxico do herbicida, na lista de produtos cancerígenos
A mesma lei, também conhecida como Lei de Responsabilidade pela Água Potável Segura e os Tóxicos, de 1968, exige também que certas substâncias identificadas pela Agência Internacional de Pesquisa do Câncer (IARC, por sua sigla em inglês), dependente da Organização Mundial da Saúde (OMS), sejam incorporadas à lista de cancerígenos.
Até 20 de outubro, a “nota de intenção” estará disponível para comentários. Somente após a análise deles, a agência bate o martelo sobre se inclui o glifosato na lista geral de elementos que provocam câncer.
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O anúncio da agência estatal californiana, de 04 de setembro último, responde à classificação do glifosato pela IARC, no último mês de março, como “provável cancerígeno em seres humanos”.
“Os estudos de casos de exposição ocupacional realizados nos Estados Unidos, Canadá e Suécia informaram um incremento de risco de linfoma não Hodgkin, que persiste depois de ajustar outros pesticidas”, expressou a IARC acerca do herbicida. Também há “convincentes provas” de que pode provocar câncer em testes de laboratório com animais.
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“Pelo que sei, esta á a primeira agência reguladora dos Estados Unidos que determina que o glifosato é um cancerígeno”, explicou Nathan Donley, cientista do Centro para a Diversidade Biológica, em um e-mail para a EcoWatch. “Trata-se de uma conquista muito grande”.
O Roundup, o emblemático herbicida da Monsanto, é utilizado nos cultivos de todo o mundo e é o mais conhecido dos antipragas dos EUA. A gigante do agronegócio sustenta que seu produto é seguro e exige que a OMS retire seu informe.
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Apesar das reclamações da empresa, muitos anos de investigação relacionam o Roundup com inúmeros problemas de saúde e do meio ambiente; também se registra uma diminuição recorde das mariposas monarca. Em junho último, a França proibiu a venda do Roundup em lojas de jardinagem devido à inquietação por sua toxicidade.
Não está claro se outros estados seguirão os passos da Califórnia, ainda que este Estado, especificamente, ponha ênfase especial nas leis de etiquetagem comercial.
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“Se quaisquer outros estados acabam resolvendo que o glifosato é um cancerígeno, não creio que disponham dos requisitos de etiquetagem que a Proposta 65 exige do Estado da Califórnia”, diz Donley. “São os requisitos de rotulagem os que realmente dão ao consumidor a informação que necessitam para tomar uma decisão informada acerca de comprar ou não um produto específico”.
Além do glifosato, há outros três produtos químicos – tetracloreto de carbono, paration e malation – que também estão na relação de causadores de câncer da Cal/EPA. Sam Delson, porta-voz da OEHHA, disse à Agri-Pulse que empresas que empregam 10 ou mais pessoas e utilizem os produtos químicos que figuram nessa lista devem “advertir clara e razoavelmente” sobre os danos que podem ocasionar esses produtos.
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A porta-voz da Monsanto, Charla Lord, disse à Agri-Pulse que o “glifosato é uma ferramenta eficaz e valiosa para os granjeiros e outros usuários, muitos deles do Estado da Califórnia. Em breve, proporcionaremos informação científica detalhada à ORHHA sobre a segurança do glifosato e trabalharemos para que nenhuma lista potencial afete a utilização nem as vendas do glifosato na Califórnia”.
Fernando Frazão/Agência Brasil
Protesto no Rio de Janeiro no Dia Internacional da Luta Contra os Agrotóxicos, em 03 de dezembro de 2014
Advogados dos consumidores aprovaram a iniciativa da Cal/EPA.
“Dado que o setor de pesquisa da Organização Mundial da Saúde declarou, recentemente, que o glifosato provavelmente seja um cancerígeno para os seres humanos; a inclusão na lista regida pela Proposta 65 e a exigência de que seja etiquetado como tal são os seguintes passos lógicos”, disse Rebecca Spector, diretora do Centro de Segurança Alimentar da Costa Oeste, a EcoWatch.
(*) Com Carta Maior e EcoWatch