“Não houve nenhum tipo de contato antecipado com a gente”, explicou o tenente-coronel André Luiz, da PM (Polícia Militar), ao justificar a ação da polícia nesta quarta-feira (12/01) contra manifestantes do protesto contra o aumento do preço da passagem de ônibus de R$ 3,50 para R$ 3,80. O ato reuniu cerca de cinco mil pessoas, menos do que o primeiro, realizado na última sexta-feira (08/01). Porém, muitos manifestantes sequer conseguiram chegar à Avenida Paulista.
Agência Efe
Manifestantes foram cercados e ficaram sem rota de fuga durante manifestação nesta terça
Luiz justificou que os manifestantes não respeitaram os “preceitos legais” para justificar por que o segundo ato contra o aumento das não poderia realizar o trajeto da Avenida Paulista até o Largo da Batata, em Pinheiros, zona oeste paulistana. Sob essa premissa, a PM reprimiu brutalmente os ativistas que tentaram seguir este caminho, utilizando cassetetes, balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta.
Dezenas de manifestantes e mesmo pessoas que apenas passavam pela região ficaram feridos com estilhaços de bombas, balas de borracha e pancadas de cassetete. Uma jovem, que pediu para não ser identificada, quebrou o pé e foi levada ao hospital pelo Corpo de Bombeiros. “Nós não fizemos nada. Entramos em um prédio e fomos cercados. Levantamos as mãos e pedimos para deixar a gente sair. Mas quando deixamos o prédio fomos atacados com bombas e cassetetes, sem ter pra onde correr”, relatou o técnico em eletrônica Pedro Alexandre de Brito.
Vídeo mostra manifestantes tentando se esconder no prédio do Instituto Cervantes:
TRUCULÊNCIA POLICIAL Vídeo mostra momento em que manifestantes procuram refúgio das bombas da PM de São Paulo, dentro do Instituto Cervantes, na Av Paulista. Imagens: Flávio Colombini, especial para os #JornalistasLivres
Posted by Jornalistas Livres on miércoles, 13 de enero de 2016
Durante pelo menos 30 minutos, o bombardeio foi constante na Avenida Paulista. A PM perseguiu os manifestantes pelas ruas do entorno, que também estavam cercadas. Os ativistas alcançados eram agredidos. “A polícia promove o ódio, reprimindo os jovens com tanta violência”, afirmou o ativista Gabriel Feitosa.
Na Rua Sergipe, próximo ao Cemitério da Consolação, um grupo de aproximadamente 200 manifestantes foi emboscado pela PM e atacado com bombas de gás lacrimogêneo. Entre eles, havia alguns mascarados, que depredaram lixeiras e atearam fogo. Pelo menos dez pessoas foram detidas e encaminhadas a delegacias da região, mas segundo informações que circulam nas redes sociais o número deve ser bem maior.
Truculência Policial na Rua Sergipe
TRUCULÊNCIA POLICIAL Manifestantes que fugiam das bombas de gás na Av. Paulista e na Rua da Consolação não tiveram paz. Em higienópolis, próximo a cruzamento entre a Av. Angélica e a Rua Sergipe, um grupo foi cercado pela Polícia Militar e novamente atacado com bombas de gás lacrimogênio. O ato contra o aumento nas tarifas do transporte público em São Paulo foi marcado para às 17 horas na Praça do Ciclista, na Av. Paulista, e foi marcado por grande repressão policial antes mesmo do trajeto se iniciar. É absurda e inexplicável a ação da PM durante o ato de hoje. #3e80Nao #ContraTarifa #NaoAoAumento Vídeo: Flávio Colombini, para os Jornalistas Livres.
Posted by Jornalistas Livres on martes, 12 de enero de 2016
Jornalistas também não foram poupados. Um grupo de profissionais que tentou se aproximar do local onde a repressão teve início, na Praça do Ciclista, foi repelido pela PM com bombas de gás lacrimogêneo, arremessadas a uma distância de cerca de dois metros. Fotógrafos foram agredidos e um repórter da CMI (Central de Mídia Independente) foi detido.
MP ausente
O palco para a repressão foi montado horas antes. Desde o meio da tarde a Polícia Militar iniciou uma operação de guerra na Avenida Paulista. Centenas de policiais da Tropa de Choque, da Força Tática, da Rocam (Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas) e da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar) — portando metralhadoras — faziam parte do cerco à Praça do Ciclista, no encontro da Avenida Paulista com a Rua da Consolação. Motos da Rocam foram enfileiradas para impedir a passagem para a Avenida Rebouças.
Governador Geraldo Alckmin (PSDB) não se pronunciou sobre o ocorrido nesta terça, mas sobre o último protesto escreveu em seu Twitter:
A PM agiu e continuará agindo para garantir a liberdade de manifestação e o direito de ir e vir. Vandalismo é crime. Não será tolerado.
— Geraldo Alckmin (@geraldoalckmin_) 8 janeiro 2016
“Suspeitos” de serem manifestantes que chegavam ao local pelas estações de Metrô Consolação (Linha 2-Verde) e Paulista (Linha 4-Amarela) eram parados e revistados. Um jovem não identificado foi detido por estar de posse de uma corrente de ferro. O acesso só era possível pela Rua da Consolação. As avenidas Paulista e Rebouças foram fechadas. Outras ruas da região também tinham grupos de policiais de prontidão.
O militante do MPL Matheus Preis e o tenente-coronel André Luiz não chegaram a um entendimento sobre o trajeto. “A PM não aceita o trajeto que nós definimos, de descer a Avenida Rebouças, pegar a Avenida Faria Lima, até o Largo da Batata. Eles querem decidir o trajeto do ato e só aceitam que desçamos a Rua da Consolação até a Praça da República”, afirmou. Nesse caminho havia vários grupos de policiais e um bloqueio pouco abaixo do Cemitério da Consolação. A proposta foi recusada pelo movimento, que informou isso durante um jogral.
Agência Efe
Protesto não conseguiu deixar a região da Paulista e muitos que pretendiam participar do ato sequer conseguiram chegar ao local
A partir do informe, os policiais da Tropa de Choque formaram duas fileiras para impedir a passagem dos manifestantes. Estes tentaram romper o cerco empurrando os agentes e, após algum tempo de tensão, palavras de ordem e bate-boca, os policiais jogaram spray de pimenta contra os ativistas. Logo explodiu a primeira bomba e os manifestantes correram sentido Paraíso, onde estava outro grupo da Tropa de Choque e policiais da Rota. Bombardeados e perseguidos, alguns ativistas tentaram se esconder em prédios da região, mas acabaram expulsos e agredidos.
Depois da primeira onda de repressão, cada pequeno grupo que tentava se recompor era atacado com mais bombas e balas de borracha. Viaturas e motos da PM desceram a Rua da Consolação caçando manifestantes. Houve relatos de repressão na Barra Funda, na Avenida Angélica e no Teatro Municipal. “Foi um verdadeiro massacre. O que vimos aqui foi uma guerra contra jovens desarmados”, afirmou o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua.
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Agência Efe
Muitas pessoas ficaram feridas na ação e pelo menos dez foram levadas para a delegacia
Logo após o fim da ação policial, o secretário Estadual da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, convocou uma coletiva de imprensa em que reafirmou a posição do tenente-coronel André Luiz, de que sem informar o trajeto do ato antecipadamente não vai ocorrer manifestação, e que não houve abuso por parte da PM. “Se for comprovado, vamos investigar”, afirmou.
Embora solicitado pelo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), o Ministério Público Estadual de São Paulo não enviou nenhum representante para acompanhar o ato, segundo informações da assessoria de imprensa do órgão.
A informação foi confirmada pelo prefeito em seu Twitter:
Prefeitura pede mediação do MP nas manifestações. Objetivo é evitar violência e garantir direito de livre expressão. https://t.co/0eErUyHCCa
— Fernando Haddad (@Haddad_Fernando) 12 janeiro 2016
Haddad pediu a mediação do MP para garantir que a manifestação transcorresse sem violência. O prefeito teria conversado com o secretário Moraes, e este teria aprovado a participação da Promotoria.
O representante do MPL Vitor Quintilliano disse no início da manifestação que esperava que a PM permitisse que o ato tivesse começo, meio e fim e que não fizesse como na sexta, reprimindo a mobilização. “É evidente que a PM veio para sufocar e intimidar as pessoas que participam do ato”, afirmou. Apesar da repressão, um grupo de manifestantes conseguiu bloquear o sentido centro da Avenida Brigadeiro Luís Antônio, na altura da Avenida Paulista.
Mobilização
O MPL reafirmou que vai se manter mobilizado até que haja revogação do aumento e já marcou um novo ato para a próxima quinta-feira (14/01), em duas frentes: no Teatro Municipal, no centro da cidade, e no Largo da Batata, em Pinheiros.
Militante do MPL explica a razão dos protestos:
SP CONTRA O AUMENTO Iandra, do Levante Popular da Juventude, fala aos Jornalistas Livres direto do ato contra o aumento das tarifas de metrô, trem e ônibus. “O transporte público deu um salto de qualidade dos ônibus, com os corredores e ônibus mais novos, mas na periferia eles não chegam, e onde eu moro não tem ônibus 24 horas.” Já a respeito do metrô, ela é muito mais crítica: “O metrô, por outro lado, só piorou. Todos os dias uso a linha vermelha e está sempre parada, sempre uma m…. Com todos os escândalos do metrô, a passagem está aumentando e a qualidade caindo.” #ContraTarifa #3e80Nao #naoaoaumento
Posted by Jornalistas Livres on martes, 12 de enero de 2016
Na última sexta, a PM reprimiu o ato após um grupo de manifestantes tentar ocupar o sentido centro da Avenida 23 de Maio. Como hoje, os policiais abusaram do uso de bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e cassetetes. E também perseguiram manifestantes pelas ruas do centro. O coletivo Jornalistas Livres flagrou policiais plantando um suposto explosivo na mochila de um manifestante detido.
Desde o último sábado (09/01), as tarifas de ônibus, Metrô e trem foram reajustadas de R$ 3,50 para R$ 3,80, um aumento de 8,57%. Segundo as secretarias Municipal de Transportes e Estadual dos Transportes Metropolitanos, o reajuste ficou abaixo da inflação acumulada desde o último reajuste, ocorrido em 6 de janeiro de 2015. A inflação acumulada neste período (Fipe) foi de 10,49%. A integração entre ônibus e trilhos (metrô e trens) passa de R$ 5,45 para R$ 5,92. Já os bilhetes temporais 24 horas, madrugador, da hora, semanal e mensal não terão seus preços aumentados.